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Peças falsificadas na TAP: o esquema que envolveu um fiel de armazém e uma empresa com atividade para sex shop

Três suspeitos ficaram em prisão preventiva. Companhia aérea teve prejuízos na ordem dos 12 milhões de euros.

24 de maio de 2025 às 16:17
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Peças falsificadas na TAP: o esquema que envolveu um fiel de armazém e uma empresa com atividade para sex shop

Com acesso privilegiado ao armazém e ao setor das compras da TAP e da Hi-Fly e contactos no mercado das peças para aviões, Gonçalo Trinchante, Amândio Geada e Manuel de Almeida são suspeitos de, juntamente com o cidadão argentino José Alejandro Zamora Yrala, terem provocado um prejuízo de 12 milhões de euros  à companhia aérea portuguesa com um esquema de venda de componentes não certificados para a manutenção de aviões.

Na sexta-feira, depois de detidos pela Polícia Judiciária, os três portugueses ficaram em prisão preventiva, por crimes de corrupção, burla qualificada, atentado à segurança de transporte por ar, falsificação de documentos e associação criminosa.

Aberta em 2024, a investigação que deu origem à operação “Voo Cego” apresentou os três suspeitos a um juiz de instrução, exibindo uma radiografia do esquema que terá decorrido em Portugal, mas que teve origem em Inglaterra, através de uma empresa denominada AOG, controlada pelo cidadão argentino, detido, em 2023, pela agência anti-fraude inglesa, o “Serious Fraud Office”, que colaborou com a Unidade Nacional de Combate à Corrupção nesta investigação.

De acordo com informações recolhidas, no interrogatório judicial, duas procuradoras do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) alegaram que o empresário argentino, detido em 2023, em Inglaterra, pelo menos desde 2015, teve contactos com Gonçalo Trinchante e Amândio Geada, este um ex-funcionário da TAP que, entretanto, encontra-se, atualmente, na Hi Fly, a terceira maior companhia aérea portuguesa.

E que, durante sete anos (2015-2022), Gonçalo Trinchante, responsável pelo armazém da TAP, terá fornecido a José Yrala várias peças e outros componentes que se encontravam guardados nas instalações da empresa, assim como vários certificados internacionais, que validavam a qualidade das peças. 

Os componentes seriam, então, enviados para Inglaterra. A partir de 2019, quando a AOG foi aceite como fornecedora da TAP, as peças regressariam a Portugal com certificados falsos, iludindo, assim, a companhia aérea.

A investigação suspeita que Amândio Geada também terá desviado peças da Hi-Fly, vendendo-as, posteriormente, à AOG. Para a emissão de faturas, criou a sociedade “Eagle Podium”, cujo objeto social vai desde a “prestação de serviços e elaboração de relatórios” ao “comércio a retalho e vestuário para adultos” e a “Sex-shop: comércio a retalho de outros produtos novos em estabelecimentos especializados ou via Internet”. Ao mesmo tempo, como diretor de compras da Hi-Fly, Amândio Geada terá ainda feito várias encomendas de peças à AOG, assim como desviado formulários que atestassem a (pretenda) qualidade das peças.

O terceiro elemento, Manuel Almeida, é suspeito de integrar o esquema como um diretor de vendas fantasma da AOG, em Portugal. Aliás, no processo de candidatura a fornecedor da TAP, terá sido este suspeito a preencher e a enviar a respetiva documentação. Este arguido é ainda suspeito de manipular informaticamente os documentos que atestavam a certificação das peças.

Com este esquema, os três portugueses terão ganho, segundo as contas apresentadas pelo DCIAP, perto de um milhão de euros em comissões. E, na última quarta-feira, durante as buscas, a Polícia Judiciária encontrou nas buscas a Gonçalo Trinchante e Amândio Geada diversas peças de aeronáutica, acondicionadas em sacos de plástico, nas respetivas residências.

Em comunicado, o DCIAP adiantou que “a deteção dos factos sob investigação decorreu da articulação direta da companhia com os fabricantes internacionalmente certificados para a produção de componentes com as especificações técnicas dos identificados”. 

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