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Polícias cercados durante funerais de vítimas do acidente da Segunda Circular geram revolta

Abordagem policial questionada internamente, depois de agentes serem obrigados a recuar perante amigos das vítimas do acidente.

27 de fevereiro de 2020 às 01:30

O último adeus aos três jovens que perderam a vida num acidente a alta velocidade na Segunda Circular, em Lisboa, ficou marcado por confrontos com a PSP e pelas largas dezenas de motos que invadiram o cemitério dos Prazeres contra todas as regras. E a ação policial está a ser questionada internamente por muitos agentes que apontam "incapacidade", "desorganização", "falta de meios", "desamparo institucional" e o "abandono da tutela", que deixaram colegas em apuros perante uma multidão.

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Tensão entre motards e polícia durante funeral das vítimas do brutal acidente da Segunda Circular

Depois da homenagem ilegal feita na madrugada de domingo – quando cerca de 500 pessoas bloquearam a Segunda Circular durante hora e meia – as autoridades policiais demonstraram mais uma vez incapacidade para repor a ordem, e há imagens de agentes isolados que foram obrigados a puxar da arma de serviço para se defenderem. "O polícia ficou cercado e foi a única maneira de se defender contra tanta gente", conta ao CM uma moradora da avenida D. Pedro V, na Damaia, onde o cortejo fúnebre de Júnior Costa passou após o velório, pelas 13h00 de terça-feira.

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Polícia puxa arma para travar cerco de motards durante funeral de vítimas da Segunda Circular

Segundo o CM apurou, uma patrulha de trânsito apercebeu-se de vários motociclistas sem capacete e a fazer barulho em excesso enquanto acompanhavam a carrinha funerária. Um dos agentes foi imediatamente cercado por dezenas de pessoas e, juntamente com o colega, obrigado a recuar, de arma em punho. "Depois chegaram os reforços, sete ou oito carrinhas da PSP, mas aí já não havia confusão pois o cortejo prosseguiu", acrescenta a mesma testemunha.

Pouco depois, mas na igreja de Santo Condestável e no cemitério dos Prazeres, em Campo de Ourique, decorreu o funeral de Tino Sousa, e mais uma vez dezenas de amigos das vítimas fizeram-se notar. Primeiro ocuparam o espaço em redor da igreja com os motociclos, depois seguiram a urna até ao interior do cemitério. A homenagem ao condutor do Mercedes foi feita com os motores no máximo e muito pneu queimado. Neste caso não se notou qualquer presença policial. Minutos depois, os mesmos amigos rumaram ao cemitério dos Olivais, onde Nuno Martins foi cremado. Da mesma forma houve barulho e fumo de pneu, mas à porta do cemitério.

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Motards invadem cemitério durante funeral de vítimas da Segunda Circular

Alta velocidade até ao despiste mortal

Tino Sousa, Júnior Costa e Nuno Martins estavam a participar numa corrida ilegal quando se despistaram a alta velocidade na Segunda Circular, pela 01h00 de sexta-feira. O carro – um Mercedes GLA 45 AMG, de 380 cavalos e que custa perto de 80 mil euros – ficou partido ao meio depois de um despiste junto ao Campo Grande. A ‘bomba’ capotou, embateu num poste e num pórtico e só parou no outro lado da estrada.

Fontes policiais avançaram ao CM que o carro seguia a uma velocidade superior a 200 km/h, mas só as peritagens da investigação em curso vão permitir confirmar esse dado.

Na altura, três motociclistas acompanhavam o Mercedes e terão assistido ao acidente fatal. Pouco tempo antes do despiste, o grupo tinha-se filmado a 300 km/h na ponte Vasco da Gama, com o Mercedes a ser ultrapassado por outros dois carros que também participavam no ‘picanço’.

Homenagem ilegal dá processos

A PSP identificou as matrículas de 150 carros que no domingo bloquearam a 2ª Circular. Os envolvidos incorrem num crime de atentado contra a segurança rodoviária e manifestação ilegal. O processo já está no Ministério Público.

Comando da PSP regista matrículas

A PSP, que não respondeu a questões do CM, diz em comunicado que "perante a ausência de condições de segurança não foi possível proceder à identificação de nenhum desordeiro" mas foram "registadas matrículas".

Polícias questionam nas redes sociais

Sem autorização para falar publicamente, muitos polícias usaram as redes sociais para questionar os procedimentos da PSP na abordagem a estes casos durante esta quarta-feira.

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