Julgamento decorre sob fortes medidas de segurança, devido a desacatos no final do debate instrutório.
Quatro arguidos do processo do atropelamento mortal de um adepto italiano de futebol junto ao Estádio de Luz, em Lisboa, em abril de 2017, demarcaram-se esta terça-feira, em tribunal, dos incidentes ocorridos naquela madrugada. Os arguidos aceitaram falar, no entanto não admitem ter participado em alguma rixa.
O julgamento de atropelamento de Marco Ficini começou esta terça-feira, após dois pedidos de nulidade, tendo sido ouvidos quatro dos 22 arguidos.
Depois de ter sido adiado por três vezes - primeiro em 21 de novembro de 2018, depois em setembro de 2019 e por último em 15 de janeiro deste ano, o julgamento teve início no Campus da Justiça, em Lisboa.
O início da sessão ficou marcado pela apresentação de requerimentos por parte de dois advogados de defesa, invocando a ilegalidade do julgamento, por dois arguidos não poderem estar presentes, dado estarem privados da liberdade no âmbito de outro processo.
A pretensão não foi aceite nem pelo Ministério Público, nem pelo coletivo de juízes presidido por Francisco Henriques.
O julgamento decorre sob fortes medidas de segurança, devido a desacatos no final do debate instrutório.
Os arguidos ficaram separados: de um lado os adeptos do Benfica com ligações à claque No Name Boys e do outro os adeptos do Sporting da claque Juventude Leonina.
Depois da identificação obrigatória em tribunal, o principal arguido, Luís Pina, acusado do homicídio de Ficini e de quatro tentativas de homicídio, escusou-se a prestar declarações, tal como outros réus. Só quatro dos arguidos presentes não prescindiram desse direito.
Diogo Ferreira, adepto do Benfica, frisou não ter estado junto ao estádio do seu clube no momento do atropelamento, embora tenha reconhecido ter estado no local anteriormente aos factos, acrescentando que só soube da morte do adepto pelas notícias no dia seguinte.
Já Tiago Santos, Ivo Lalim e Isaac Chaparro, adeptos do Sporting e representados em tribunal pelo mesmo advogado, Manuel Cabaço, frisaram não se terem apercebido de incidentes nas imediações do Estádio da Luz na madrugada de 22 abril de 2017, antes do jogo entre o Benfica e o Sporting.
Os três contaram que foram do estádio de Alvalade, onde tinham ido buscar os bilhetes para o 'derby', e que, por terem ouvido "zunzuns de que uns adeptos do Benfica tinham estado a lançar tochas" no seu estádio decidiram ir à Luz, "como represália".
Deslocaram-se então à rotunda Cosme Damião, no carro do pai de Ivo, mas não transportaram "tochas ou barras de ferro". Saíram de Alvalade em comitiva (com outros elementos), não sabendo precisar quantos carros iam no total, mas sabiam ser os segundos na fila.
À chegada à rotunda, estacionaram e só Ivo, que conduzia o BMW, permaneceu no carro, enquanto os restantes quatro ocupantes saíram.
Ivo Lalim referiu ter sido tudo muito rápido: viu tochas verdes "atrás e ao lado do carro, mas não à frente", e confessou que o estado de espírito era "de adrenalina", mas quando começou a perceber que ia haver confusão quis sair do local "o mais depressa possível".
Já Tiago Santos declarou em tribunal não ter visto adeptos do Benfica junto ao Estádio da Luz e referiu ter saído do carro na rotunda e começado a ver tochas verdes do seu lado esquerdo. Ao mesmo tempo, disse, ouviu uma viatura em "alta rotação ao longe" e sentiu medo.
"Vários adeptos começaram a fugir e corri para a minha viatura", contou Tiago, adiantando que também entraram os restantes três adeptos e Ivo arrancou. Na subida à saída da rotunda, quando seguiam atrás de outros carros em marcha lenta, outro carro bateu por trás na viatura, mas nenhum deles saiu para ver estragos.
Tiago Santos referiu que, ainda no meio da confusão e instantes antes desta colisão, abriu uma porta traseira e gritou para outro adepto desconhecido que corria ao lado do carro para entrar.
"Ele ignorou-me, segundos depois senti o embate. Alguém gritou 'anda, anda' e voltámos para Alvalade", explicou.
Já na garagem do estádio do Sporting, ouviu alguém dizer que "a contagem estava toda", dando a entender que todos os que tinham ido à Luz tinham regressado.
Esta terça-feira, o julgamento prosseguiu na parte da tarde com a audição de testemunhas, estando já agendadas duas sessões para 11 e 18 de fevereiro (todo o dia).
Em 16 de abril de 2018, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decidiu levar a julgamento Luís Pina pelo homicídio de Ficini e por outros quatro homicídios na forma tentada, enquanto os restantes 21 arguidos são julgados pelos crimes de participação em rixa, de dano com violência e de omissão de auxílio.
Além de Luís Pina, a juíza de instrução criminal Isabel Sesifredo decidiu levar a julgamento os restantes arguidos no processo: outros nove adeptos do Benfica com ligações à claque No Name Boys e 12 adeptos do Sporting da claque Juventude Leonina, nos exatos termos da acusação do Ministério Público (MP).
"O depoimento [das testemunhas] não foi muito diferente daquele que já tinham prestado ao longo de todo o processo, vai na linha da defesa do meu constituinte", explicou Melo Alves aos jornalistas junto ao tribunal, no Campus de Justiça.
O advogado reiterou que o seu constituinte "não atropelou intencionalmente" o adepto italiano, salientando ter-se tratado de "um acidente".
Melo Alves salientou ainda a importância do depoimento dos três arguidos adeptos do Sporting que falaram durante a sessão da manhã, reafirmando que as suas declarações "são importantes para o esclarecimento da verdade material" do caso.
O advogado disse ainda "confiar no tribunal" e "aguardar serenamente" o desfecho, apesar de se mostrar "receoso" tendo em conta os pedidos, por parte da defesa de dois outros arguidos, a requerer a nulidade do julgamento.
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