As pessoas "começam a sofrer com a fúria da água do mar", conta Almeida Francisco.
Almeida Francisco, 27 anos, assistiu à proliferação de residências onde havia floresta de mangal junto à capital de Moçambique e atualmente, com a água cada vez mais próxima, teme pelo futuro dos residentes do seu bairro, maioritariamente pescadores pobres que dependem da faina para sobreviver.
"As pessoas estão a invadir o mangal e estão a construir novas habitações. As pessoas que já viviam aqui [na zona residencial] é que começam a sofrer com a fúria da água do mar", conta à Lusa o jovem, que nasceu e cresceu no Bairro dos Pescadores, na praia de Costa do Sol, a principal de Maputo.
Apesar das placas do município da Cidade Maputo que classificam a área como "zona protegida", o vasto mangal que cobria parte da praia começa a sucumbir face à construção, entre mansões de quem quer ter uma vista privilegiada, até pequenas moradias improvisadas por pessoas de outras províncias que procuram começar a vida na capital.
"A primeira consequência disto é a perda do ecossistema local. Esta era uma zona de mangal e agora quase todo ele foi retirado. Há espécies que se estavam a desenvolver e agora acabam se perdendo. São espécies que são uma fonte de subsistência para a própria população", declarou a educadora ambiental Elisa Julai.
Se, por um lado, a construção na "zona protegida" ameaça o ecossistema, por outro, a erosão entra onde a floresta foi arrancada.
A força da água já não encontra barreiras naturais e começa a ter impacto direto na primeira área residencial, com alguns muros de vedação destruídos e as árvores que protegem a estrada a mostrarem as raízes face a "uma maré que anda muito alta nos últimos anos".
Glória Ernesto, 28 anos, vive a quase 50 metros da placa que sinaliza a "zona protegida" e conta que em vários dias de chuva ou de maré alta já teve de acolher em sua casa alguns vizinhos.
"Quando a água da praia chega, as pessoas desta zona [antes protegida por mangais] vem pedir para dormir ao nosso lado", conta à Lusa.
Para Elisa Julai, a resposta para o problema está na educação das comunidades, condição para que realmente Moçambique se concentre numa agenda ambiental .
"Algo está a falhar e nós temos de partir da educação: é preciso explicar às pessoas porque é que elas não podem estar aqui e quais são as consequências de construir em mangais", frisou à Lusa.
Embora com baixos níveis de poluição, Moçambique, com uma costa de cerca de 2.700 quilómetros, está entre os países mais vulneráveis às mudanças climáticas, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais.
Este contexto coloca o país entre os mais interessados no alcance das metas do acordo de Paris para travar o aquecimento global, a subida dos oceanos e a proliferação de eventos meteorológicos extremos, mas os desafios são enormes face aos altos índices de pobreza e a ambição de alcançar uma economia industrializada, num momento em que alguns combustíveis fósseis continuam entre os principais produtos de exportação (como o carvão e o gás).
A 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP 26) decorre de 31 de outubro a 12 de novembro e deverá atualizar as metas dos países que assinaram o acordo de Paris para travar o aquecimento global, definindo prazos concretos para atingirem a neutralidade nas emissões de gases poluentes com efeito de estufa.
O sucesso da cimeira dependerá de serem fixados objetivos nacionais mais ambiciosos e de se garantir o financiamento necessário para ajudar os países mais pobres a fazerem as suas próprias transições para economias menos poluentes e para se adaptarem aos efeitos das alterações climáticas.
O objetivo fixado em Paris é limitar até ao fim do século o aquecimento global a 1,5 graus centígrados em relação à era pré-industrial.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.