Fornecedores estão "seriamente expostos" a explorações pecuárias ilegais.
Casas de moda famosas recorrem a fornecedores de curtumes "seriamente expostos" a explorações pecuárias ilegais e desflorestação na Amazónia brasileira, na região da próxima conferência da ONU sobre o clima, segundo uma investigação da organização britânica "Earthsight".
A investigação aponta o dedo a diversas empresas da alta-costura mas especialmente a uma, Coach, uma casa de moda norte-americana que a investigação liga a um gigantesco matadouro brasileiro com um registo de compra de milhares de bovinos criados em terras ilegalmente desflorestadas.
"Casas de moda de prestígio estão a comprar couro a empresas cuja cadeia de abastecimento está ligada a explorações pecuárias ilegais na parte mais desflorestada da floresta amazónica brasileira, onde as negociações sobre o clima deverão ter início em novembro", diz o estudo, referendo-se à reunião da ONU sobre o clima, a COP30.
O grupo de investigação sem fins lucrativos "Earthsight" analisou decisões judiciais, imagens de satélite, e registos de envios, e infiltrou-se mesmo no setor, para ligar a Coach com a cadeia ilegal de bovinos. A empresa de moda não comentou as acusações, esta segunda-feira divulgadas mundialmente num comunicado a que a Lusa teve acesso.
No comunicado destaca-se que quase toda a perda recente da Amazónia no Brasil é causada pela criação de gado, muitas vezes ilegal. Diz-se que o estado mais afetado é o Pará, onde uma área com quase o dobro do tamanho de Portugal foi queimada nas últimas duas décadas.
O Brasil comprometeu-se a acabar com toda a desflorestação no país até 2030 e escolheu o Pará para acolher as negociações internacionais sobre o clima, a primeira COP a ter lugar numa região de floresta tropical.
De acordo com a investigação quase todo o couro que sai do Pará vai para Itália (incluindo o do matadouro suspeito), especialmente para duas fábricas de curtumes na região de Vêneto, a Conceria Cristina e a Faeda, onde é processado e rebatizado como couro italiano. A empresa Coach é um "comprador regular".
Na investigação refere-se que a Coach reorientou o marketing para a chamada "geração Z", um segmento de consumidores seletivo e ambientalmente consciente. Conhecida pelas malas de couro vendidas entre 300 e 600 euros, as vendas dispararam 332% no ano passado, com um dos maiores crescimentos na Europa.
Na página oficial na internet a empresa diz que dá prioridade a matérias-primas alternativas, como restos de produção, resíduos pós-consumo e matérias-primas de base biológica, que são metade do material usado. E diz ter a missão de "avançar para um futuro mais circular", que quando usa novos materiais estes são de base biológica, e que compensa a emissões de carbono.
Segundo a investigação, outros compradores de uma ou das duas empresas italianas de curtumes são marcas como Chanel, Chloé, Hugo Boss, as marcas Fendi e Louis Vuitton do grupo LVMH, bem como as marcas Balenciaga, Gucci e Saint Laurent do Grupo Kering.
Todas disseram que não usavam couro brasileiro mas a Fendi e a Hugo Boss iniciaram uma investigação e a Chanel revelou que terminou recentemente a relação com a Faeda depois de ter perdido a confiança no seu sistema de rastreabilidade. A Chloé foi a única marca a fornecer à "Earthsight" uma metodologia detalhada de rastreio do couro.
Coach, Fendi, Louis Vuitton e Hugo Boss têm um sistema de certificação de sustentabilidade chamado "Leather Working Group", que não exige o rastreio do gado até aos locais onde foi criado. O grupo admitiu que a certificação não é uma garantia de não desflorestação.
O Pará, segundo a investigação, é a região onde os indígenas mais sofreram com o desmatamento. O povo Parakanã tem sofrido décadas de invasões de terras, com seis ataques armados registados apenas nos últimos seis meses. O matadouro ligado à cadeia de fornecimento da Coach é acusado pelo Ministério Público Federal de comprar gado criado ilegalmente em território Parakanã.
"Os consumidores de produtos de luxo esperam que as etiquetas de preço elevado ofereçam algumas garantias de que não estão a contribuir para a desflorestação ou o roubo de terras indígenas. Esta investigação mostra que esta confiança é infundada", disse, citado na investigação, Rafael Pieroni, líder da equipa da Earthsight para a América Latina.
E Marie Toussaint, vice-presidente do Grupo parlamentar dos Verdes/ALE (Aliança Livre Europeia), comentou que a investigação mostro que mesmo as grandes casas de moda europeias correm o risco de ficar exposta à destruição da Amazónia. E destacou a importância da aplicação do regulamento europeu contra a desflorestação, para acabar com a "cumplicidade silenciosa entre o consumo europeu e a desflorestação".
Nas últimas décadas, as empresas ocidentais de bens de consumo deixaram um rasto de devastação nos biomas do mundo e uma série de compromissos falhados para limpar as suas cadeias de abastecimento.
Os europeus terão em breve um regulamento sobre a desflorestação, que exige que as empresas provem que o couro e outros produtos de base que utilizam estão "livres de desflorestação". A lei já deveria estar em vigor, mas foi adiada para 30 de dezembro de 2025 após pressão da indústria.
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