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Cabelo e maquilhagem promovem auto-estima de doentes oncológicas

Maria de Lurdes tem 51 anos e um diagnóstico de cancro da mama que a acompanha há três anos. Depois de uma operação que lhe retirou parte do seio esquerdo, 17 sessões de quimioterapia e 32 sessões de radioterapia, Maria de Lurdes, hoje sentada numa das cadeiras do cabeleireiro da Liga Portuguesa Contra o Cancro do núcleo regional do Sul, situado no Instituto Português de Oncologia de Lisboa, está a recuperar a saúde e o à-vontade para se olhar ao espelho sem reservas.

15 de novembro de 2011 às 18:09

"A auto-estima vai muito abaixo e há muito pouca vontade de alterar essa situação. Mas estas pessoas que estão aqui a fazer voluntariado são maravilhosas porque, para além de nos arranjarem o cabelo, também nos ajudam a nível emocional. Entendem as nossas emoções. Há sempre um chazinho, uma palavra. É um espaço que nos ajuda a interpretar os primeiros sinais da doença e a lidar com eles", confessa.

Esta terça-feira, Maria de Lurdes teve um ‘mimo' especial: pode ouvir conselhos sobre auto-estima e imagem dos cabeleireiros Lúcia Piloto, Mário Cabeleireiro e Metro Studio, profissionais que se associaram à acção solidária de luta contra o cancro desenvolvida no IPO de Lisboa.

Vanda Mendes, de 35 anos, veio ao cabeleireiro do IPO pela primeira vez. Os longos cabelos castanhos escuros que outrora lhe cobriam as costas deram lugar a um corte mais modesto. A acção da quimioterapia em breve será visível e a escalabitana não quer que a imagem reflectida no espelho lhe retire a coragem que a move há seis anos, data do primeiro diagnóstico de cancro na cocha direita.

"Sinto-me mais bonita, mais mulher", confessa, enquanto explica o motivo pelo qual permanece há uma semana no IPO de Lisboa. "Fui operada na última quarta-feira à mama esquerda. Como tenho de fazer tratamentos e pensos diariamente e não tenho como pagar as deslocações entre Santarém e Lisboa, estou internada no lar do IPO há uma semana. Vou ficar pelo menos um mês. É pena é estar longe do meu marido e dos meus filhos", revela, emocionada.

"O estar mais arranjado tem influência no estado emocional do doente. O feedback do espelho, nestes casos, é um factor fundamental para a recuperação da auto-estima", explica Albina Dias, psicóloga da Liga Portuguesa Contra o Cancro, responsável pelas consultas gratuitas de acompanhamento psicológico a doentes oncológicos e familiares, quer sejam acompanhados pelo IPO ou não, serviço que desde Abril deste ano já ajudou cerca de 30 pessoas.

"Estes doentes têm de aprender a lidar com a incerteza. Há probabilidades, estatísticas, nas quais se enquadram os doentes, mas nunca se sabe ao certo como é que o organismo vai reagir, quanto tempo vão durar os tratamentos. Mas não devem perder a esperança". Afinal, pode-se ser feliz apesar do cancro", declara.

Aida Infante, 63 anos, é voluntária no cabeleireiro do IPO de Lisboa há mais de dez anos. Os casos que conheceu de perto são hoje mais do que simples histórias; são lições de vida.

"Certa vez fui chamada à enfermaria e encontrei uma menina com cerca de 20 anos, em isolamento. Não se conseguia levantar, nem sequer sentar. Apenas conseguia estar deitada de lado mas tinha uns olhos azuis da cor do céu. Ela pediu-me uma cabeleira e eu coloquei-lhe uma de corte direito com franja. Assim que se viu com a cabeleira quis chamar todos os médicos e enfermeiros mas que estes vissem quanto estado bonita. Fez-lhe tão bem à imagem. Infelizmente faleceu nessa mesma noite".

Segundo Manuela Rilvas, presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro e voluntária da instituição há 35 anos, este tipo de iniciativas são fundamentais para que as mulheres percebam que "a auto-estima é uma grande ajuda à terapia. É uma forma de dar força interior para lutar contra algo que é penoso mas que pode ser superado".

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, em 2008 o cancro foi responsável pela morte de 7,6 milhões de pessoas, número que se estima que atinja os 11 milhões em 2030.

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