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Cerca de uma centena manifestantes exigem justiça social no Rossio em Lisboa

Manifestação, sob o lema "Não nos Atirem Burcas para os Olhos", foi convocada pela historiadora Raquel Varela.

25 de outubro de 2025 às 16:35

Cerca de uma centena pessoas estão este sábado concentradas desde as 15h30 na Praça do Rossio, em Lisboa, para exigir habitação digna, emprego seguro e denunciar injustiças sociais, violência sexual e repressão política.

A manifestação, sob o lema "Não nos Atirem Burcas para os Olhos", foi convocada pela historiadora Raquel Varela nas redes sociais após a aprovação do projeto de lei do Chega que propõe proibir o uso de burca em espaços públicos.

Em declarações à Lusa, a professora universitária acusou o Governo de desviar a atenção dos verdadeiros problemas do país com o projeto de lei.

"É de uma enorme hipocrisia lançar a questão da burca quando isso é completamente irrelevante em Portugal", afirmou Raquel Varela, sublinhando que a medida serve apenas para mascarar políticas que afetam milhões de trabalhadores.

Entre as preocupações, a historiadora apontou o "aumento do horário de trabalho para 50 horas semanais", a limitação do direito à sindicalização, a redução do IRS para os mais ricos e "a injeção de 700 milhões de euros num banco vendido a um fundo abutre".

"Esses é que são os verdadeiros problemas do país", defendeu, criticando o que considera ser uma manipulação política sob o pretexto de defender os direitos das mulheres.

Raquel Varela acrescentou como problemas o estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a degradação da escola pública e o desvio de fundos públicos para o setor militar e tecnológico.

"Estamos a viver uma erosão da riqueza de quem trabalha", afirmou, apontando que mais de cinco milhões de pessoas --- entre nativos e imigrantes --- não conseguem viver com dignidade apesar de trabalharem.

A responsável acusou ainda o Governo de ser cúmplice de uma deriva política à direita, referindo-se à deslocação do PSD para posições extremadas.

"Estes governos estão a governar contra nós", concluiu, denunciando a precariedade dos serviços públicos e a crescente desigualdade social.

Por sua vez, a advogada Rita Garcia Pereira apontou possíveis violações da Constituição portuguesa na proposta de lei aprovada no parlamento.

À Lusa, a especialista sublinhou que a Constituição consagra o direito à não-discriminação com base no credo religioso, garantindo que todas as pessoas possam exercer livremente a sua fé em condições de igualdade.

"Se faz parte do credo usar a burca, à partida teriam o direito a usá-la", afirmou, acrescentando que mesmo em situações que exigem identificação, é possível pedir que a pessoa retire momentaneamente a peça, respeitando os requisitos constitucionais.

A jurista considerou "francamente excessiva" a proibição total, lembrando que outros acessórios que cobrem o rosto --- como lenços, cachecóis ou óculos escuros --- não são alvo da mesma restrição.

A crítica estendeu-se à seletividade da proposta, que incide apenas sobre vestuário associado à religião, o que, segundo a especialista, "vai contra a Constituição".

Sublinhou ainda que Portugal é um Estado laico e que todas as religiões devem ser tratadas de forma igual, respeitando o direito ao desenvolvimento da personalidade.

Amina, uma jovem muçulmana residente em Portugal, manifestou-se contra a proposta de lei que visa proibir o uso de vestuário religioso como a burca e o niqab em espaços públicos.

Usando um niqab, um véu que cobre o rosto e só revela os olhos, afirmou que a medida representa uma violação dos direitos fundamentais: "Está a tirar-nos o direito de nos vestirmos como quisermos. Portugal era um país onde podíamos praticar a nossa liberdade. Agora já não é."

O projeto de lei foi criticado por Amina como uma tentativa de controlar os corpos e as escolhas das mulheres.

"Eles querem decidir como nos queremos vestir. Não é justo. O corpo é meu, por isso quero escolher como me quero vestir", disse, sublinhando que usa o niqab por vontade própria e não por imposição.

A jovem alertou ainda para o impacto da medida na sua segurança pessoal.

"Antes não me sentia insegura, mas agora tenho medo de ser atacada por racistas, pelos seguidores de Chega que vão tentar tirar-me a roupa", confessou, revelando receio de sair sozinha na rua.

Entre sol e chuva, num típico dia de outono, os manifestantes em silêncio exibiam cartazes com frases como "Burka não é crime, Nós não somos criminosas" ou "As casas são do povo, o povo ocupa as casas".

Além de Lisboa, estão previstas concentrações no Porto (Avenida dos Aliados) e em Braga (Avenida Central).

A convocatória incentiva a mobilização coletiva por uma sociedade livre, igualitária e inclusiva.

"Queremos habitação, emprego seguro, horários para viver e tempo para amar, alimentação de qualidade. Violência é parir na estrada e ouvir ameaças da extrema-direita. Não nos metem medo", lê-se.

Entre as reivindicações estão o direito à habitação digna, a redução do IRS para trabalhadores, o fim do trabalho noturno não essencial, o reforço dos serviços públicos e a defesa do direito à greve.

Também repudia a violência sexual e política, especialmente a promovida por 'bots' associados ao Chega, e critica a imprensa que reproduz a agenda da extrema-direita.

Manifestação foi convocada dias depois de ter sido aprovada, no parlamento, na generalidade, a lei do Chega que proíbe o uso de roupas que tapem o rosto em espaços públicos, com o apoio do PSD, IL e CDS-PP. A esquerda critica a medida por estigmatizar a comunidade muçulmana.

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