Para Marçal Grilo, “Portugal tem neste momento uma oportunidade talvez única para fazer um investimento estruturante na área da educação, da formação, do conhecimento, da ciência e da investigação”.
A Fundação Francisco Manuel dos Santos acaba de publicar um estudo sobre os jovens em Portugal que merece especial atenção.
Trata-se de um trabalho conduzido por uma equipa de especialistas que no final do relatório apresentado desenham um conjunto vasto de conclusões sobre os mais diferentes aspetos da vida dos mais novos, ou seja, dos estudos à atividade profissional, da família ao lazer, do sexo à participação cívica ou do desporto ao relacionamento com os amigos e com os outros.
Mas uma das conclusões que importa reter diz-nos concretamente que "estamos hoje perante a geração mais bem preparada de sempre, como muitos estudos têm salientado, mas também a mais afetada pela precariedade e desigualdade social e económica, a que mais dificuldades enfrenta no âmbito laboral, ante um mercado de trabalho hostil e profundamente desregulamentado".
É portanto neste contexto e na perspetiva de olhar para o futuro do país que escrevo este artigo a que dei o título de "Prioridade aos Mais Novos". Note-se, no entanto, que esta prioridade não significa que não tenhamos que encarar com igual grau de urgência outras questões centrais como são a natalidade, o envelhecimento das populações, a saúde e o combate às pandemias, a coesão territorial, os imigrantes, as políticas para o mar ou as condições que possibilitem um crescimento económico sustentado e sustentável.
Mas a questão dos jovens é particularmente crítica, pois eles vão ser os protagonistas do futuro e será com eles que Portugal se poderá afirmar como um país moderno e pertencente ao grupo dos países mais avançados no espaço europeu.
A questão que importa abordar será portanto a de saber quais as políticas e medidas a tomar para que as novas gerações possam afirmar-se e constituir a base do nosso desenvolvimento futuro, seja no domínio da economia, na área da cultura ou no campo social.
A meu ver o país tem necessariamente de assumir com grande prioridade e ao mesmo tempo com um grande empenhamento financeiro, não apenas o ensino superior, a ciência, a investigação e a relação entre esta e o tecido económico, mas também tudo o que está a montante destes sectores, nomeadamente as creches e a educação pré-escolar, os ensinos básico e secundário e a formação profissional, sem esquecer a importância decisiva que vai ter a formação ao longo da vida como instrumento capaz de reciclar, reconverter e atualizar aqueles que vão sendo vítimas de um processo de mudança que vai ocorrer em praticamente todos os sectores da atividade económica.
Precisamos de olhar para estes sectores e para as respetivas políticas públicas a adotar com uma perspetiva integrada e resultante de negociações ao nível político que permitam sobretudo estabilidade nas medidas a adotar por cada governo e em cada conjuntura política. Não podemos continuar neste caminho de "stop and go" que tem caracterizado a evolução das nossas políticas educativas.
Atribuo particular importância à educação na infância, nomeadamente à educação infantil ou seja aquela destinada às crianças dos zero aos seis anos de idade , porque é muitas vezes neste grupo etário que se traça grande parte do futuro destas crianças, sobretudo as que pertencem aos grupos mais desfavorecidos e que portanto mais necessitam de ser educadas e integradas na sociedade a que pertencem.
Mas ao mesmo tempo que defendo esta prioridade para a educação infantil defendo igualmente que se procure dar a todas as crianças e adolescentes em idade escolar uma formação de base sólida que lhes permita ter os conhecimentos científicos e as capacidades habilitantes, a par dos valores da ética, do respeito pelos outros e da solidariedade que constituem os três pilares essenciais para "saber ser e saber estar" numa sociedade moderna e competitiva e em que cada um deve ser cada vez mais exigente com os outros e particularmente consigo mesmo.
Confesso que acredito nas novas gerações. E acredito porque percebo que as raparigas e os rapazes de hoje estão mais conscientes dos problemas e dos desafios que enfrentam, ao mesmo tempo que têm mais mundo e melhor preparação para ultrapassar as dificuldades que os esperam num futuro mais ou menos próximo. Mas tenho uma visão realista traduzida por uma grande preocupação quanto à necessidade de não deixar ficar ninguém de fora do processo educativo. Penso que as classes médias já perceberam que os seus filhos só conseguirão "vencer na vida" se estudarem e trabalharem, mas infelizmente teremos que fazer um grande esforço para sensibilizar todas aquelas famílias que, por uma razão ou por outra, não assumiram ainda a importância que pode ter a educação no futuro dos seus filhos.
Nesta matéria as escolas, os educadores e os professores podem desempenhar um papel crucial para diminuir as desigualdades que são tão evidentes na sociedade portuguesa. E a este propósito será relevante voltar a insistir na ideia e nas propostas para se caminhar para escolas com grande autonomia, pois não será com um sistema de gestão centralizado e burocrático que se conseguem escolas com capacidade para enfrentar os problemas das comunidades que servem, em particular quando estão localizadas em zonas problemáticas e com famílias com poucos recursos.
Espero sinceramente que 2022 seja um ano em que os responsáveis pelo poder político tenham o discernimento e o pragmatismo para assumirem as questões da educação com a prioridade e o entendimento entre partidos que o país precisa e que pode marcar um novo rumo para a formação dos mais novos.
Portugal tem neste momento uma oportunidade talvez única para fazer um investimento estruturante na área da educação, da formação, do conhecimento, da ciência e da investigação.
O Plano de Desenvolvimento e Resiliência com os seus milhares de milhões de euros constitui um instrumento precioso para colocar em andamento um grande investimento nestas áreas, sendo que o país dispõe hoje de estudos e propostas que são um magnífico ponto de partida para delinear políticas e medidas que vão ao encontro das necessidades do país. Refiro-me concretamente aos trabalhos recentemente apresentados pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e pela SEDES, o primeiro com o título "DO MADE IN AO CREATED IN" e o segundo através de um vasto conjunto de relatórios debatidos no V CONGRESSO desta organização cívica que desta forma comemorou o seu cinquentenário.
Esperemos que os nossos políticos saibam assumir estas responsabilidades e entendam que já na próxima campanha eleitoral devem analisar e debater estas matérias deixando para trás os "casos do dia" e as questões de ordem conjuntural.
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