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Jogo da Morte "pode ser forma de confrontar e atingir os pais", diz psiquiatra

Fernando Almeida explica que há risco de adolescentes começarem a jogar 'Baleia Azul' caso haja problemas de relacionamento entre pais e filhos.

03 de maio de 2017 às 15:13

Há já três jovens portugueses internados devido ao jogo 'Baleia Azul'. Este desafio mortal surgiu na Internet, na Rússia, onde cerca de 130 jovens terão ultrapassado as cinquenta etapas que guiam à automutilação e, por último, ao suicídio. O jogo espalhou-se rapidamente a outros países, como por exemplo o Brasil, onde já há pelo menos uma vítima mortal. 

Mas o que leva uma criança ou jovem a jogar 'Baleia azul'? A que sinais devem os pais estar atentos? E o que fazer caso um filho se esteja a auto-mutilar? Um psiquiatra e uma psicóloga respondem.

"Nestas idades, os jovens ou pré-adolescentes são frágeis e muito influenciáveis. Podem apresentar uma apetência enorme para cometer riscos", alerta Fernando Almeida, médico psiquiatra e professor no ISMAI e ICBAS, ao CM

Começar por jogar ‘Baleia Azul’ pode ser uma ‘arma de arremesso contra a família’, em casos em que o relacionamento entre pais e filhos seja problemático. " Isto pode ser uma forma de confrontação, servirem-se do jogo para confrontar e atingir os pais", defende o especialista, já que a adolescência é, frequentemente, um período da vida em que as pessoas querem chamar à atenção."

Os pais e encarregados de educação devem, por isso, estar alerta."Há maior propensão para jogar este jogo por causa da idade. Estes adolescentes estão em pleno processo de maturação", adverte o médico.

Isabel Lourinho, psicóloga clínica da Faculdade de Medicina do Porto, não só concorda que uma criança ou adolescente, neste período em que ainda não tem a personalidade formada, está suscetível às 'modas' que os colegas e amigos seguem, como acrescenta que o fácil acesso à internet sem supervisão dos pais constituem um risco. "As crianças e adolescentes jogam o que está na moda, seja PokemonGo, seja Baleia Azul. É importante limitar o acesso dos filhos não só a este tipo de jogos, como à internet no geral, com tantos conteúdos impróprios, como a pornografia", sublinha.

A psicóloga é clara quanto aos indícios a que se deve estar atento. "Se, por exemplo, um jovem anda de manga comprida em dias de calor, isso é um sinal a ter em conta. Pode nem estar a esconder marcas de automutilarção. Mas também pode estar a esconder o corpo por algum motivo, e é a causa desse comportamente que não deve escapar à atenção pelos pais. Há que saber reconhecer se um filho não estará a sofrer de ansiedade ou angústia", avisa a clínica.

"O ato de se automutilar pode significar que o adolescente está a substituir uma dor por outra, mais visível", destaca. A profissional de saúde destaca ainda que é fundamental pedir ajuda caso a criança ou jovem já tenha evoluído da angústia para a automutilação. Nessa situação, é fundamental recorrer "imediatamente à ajuda de um psicólogo ou de um psiquiatra".

Recorde-se que os casos conhecidos no nosso País já estão a ser investigados pela PJ e incluem o de uma jovem, em Albufeira, que se terá atirado de um viaduto. Um adolescente de Sines, que acabou internado em Setúbal com sinais de automutilação. O mais recente é o de uma rapariga de 15 anos que foi internada na noite desta terça-feira, no Hospital de S. João, no Porto, com cortes nos braços. 

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