Médico Ricardo Rio-Tinto falou sobre avanços feitos nesta área, dos receios associados à doença e do aumento da incidência deste tumor em doentes mais jovens.
A sobrevivência dos doentes com cancro do pâncreas ao fim de cinco anos mais do que duplicou na última década, graças a esquemas de quimioterapia mais eficazes e à melhor identificação dos doentes, disse um especialista.
Na véspera do Dia Mundial do Cancro do Pâncreas, o médico Ricardo Rio-Tinto, presidente do Clube Português do Pâncreas, falou à agência Lusa dos avanços que têm sido feitos nesta área, dos receios associados à doença e do aumento da incidência deste tumor em doentes mais jovens, entre os 40 e os 50 anos, sem os fatores de risco clássicos: consumo de álcool e tabagismo.
Apesar de o prognóstico global continuar a ser mau, tem-se assistido a um aumento lento, mas consistente da sobrevivência global ao fim de cinco anos, que passou de cerca de 5% para mais 11%.
"Em 10, 12 anos, a sobrevivência aos cinco anos mais do que duplicou e estamos a falar de todos os doentes com diagnóstico de tumor no pâncreas", disse o presidente do Clube Português do Cancro, secção da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.
Se nos próximos 10 anos se conseguir alcançar um crescimento desta ordem isso significa que "cerca de 25% dos doentes têm a ambição de poderem ser curados", vincou.
"Estes números têm crescido de forma sustentada porque conhecemos melhor os tumores, porque conhecemos melhor os doentes, porque os diagnosticamos mais cedo, os tratamos melhor, porque sabemos quais são aqueles que devem ser operados e por aí adiante", afirmou.
O investigador da Fundação Champalimaud contou que estão a aparecer cada vez com mais frequência doentes com um quisto no pâncreas que foi detetado numa ressonância magnética ou numa TAC que fizeram por outra razão.
"É um grupo muito importante, talvez represente 20% dos tumores do pâncreas do seu total, a que nós devemos ter muita atenção e seguir", defende.
Há um outro grupo de doentes em que existe predisposição associada à hereditariedade e que explicam cerca de 10% de todos os casos de cancro do pâncreas.
Em alguns casos, disse, até é possível identificar um gene ou um conjunto de genes que poderão ser responsáveis por vários casos numa família.
Segundo o investigador, a identificação precisa destes doentes tem sido "a chave" para o crescimento acentuado da sobrevivência após cirurgia.
"Mas resta-nos um grande grupo de doentes com diagnóstico de cancro de pâncreas e sem fatores de risco conhecidos: não fumam, não bebem de forma exagerada, são novos, não têm familiares com cancro do pâncreas, e não têm quistos pancreáticos de risco", observou.
Apesar de ainda não haver resposta para este enigma, Ricardo Rio-Tinto diz que poderá estar na exposição a alguns fatores do ambiente "tóxicos", que são hoje muito mais abundantes e presentes: microplásticos, pesticidas, fertilizantes.
O médico explicou que a única possibilidade de cura para o cancro do pâncreas está na cirurgia, e nos tumores mais pequenos localizados, que não envolvem estruturas 'vitais' e em que é possível fazer imediatamente a ressecção cirúrgica.
Contudo, salientou, houve "um grande avanço" nos tipos de quimioterapia que permite, "mesmo em tumores que parece que são operáveis imediatamente", fazer uma quimioterapia neoadjuvante que aumenta a probabilidade de cura.
Em Portugal, entre 2000 e 2020, o diagnóstico de cancro do pâncreas cresceu cerca de 30%, passando de cerca de 1.300 novos casos por ano para 2.000, com "uma discreta preponderância" em homens.
Apesar de ser o 8.º tumor maligno em frequência, em alguns países já é a 2.ª causa de morte por cancro e o seu diagnóstico causa "um receio brutal nos doentes".
"Tipicamente as pessoas sentem que é uma coisa fatal e é muito sombrio este diagnóstico" ao contrário do que acontece com muitos outros tumores que também eram fatais, como os do pulmão, da mama, do cólon, e hoje têm "uma probabilidade de cura muitíssimo grande".
No caso do tumor do pâncreas, disse, "ainda estamos um bocadinho mais atrás", mas "há boas notícias".
No futuro, indicou, será possível "fazer biópsias líquidas para diagnóstico, não só do pâncreas, mas para muitos outros tumores".
"Eu acho que este é o caminho", salientou o especialista.
HN // FPA
Lusa/fim
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.