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Mais de 80% dos media em Portugal já difundiu notícias falsas baseadas nas redes sociais

Dados revelam que mais de metade dos órgãos de comunicação não possuem protocolo de verificação da informação.

15 de fevereiro de 2023 às 14:57

Oitenta e três por cento dos meios de comunicação em Portugal já difundiu notícias falsas baseadas nas redes sociais, mantendo-se nas redações os métodos de verificação tradicionais, apesar do reforço feito a este nível, segundo dados do observatório Iberifier.

De um conjunto de entrevistas realizadas pelo Observatório Ibérico de Media Digitais (Iberifier), em setembro e outubro de 2022, a 17 diretores e editores de empresas de comunicação social em Portugal, resultou que mais de metade (58,0%) dos órgãos de comunicação não possuem protocolo de verificação da informação e cerca de 80,0% não teve formação acrescida sobre verificação de factos.

De acordo com os resultados divulgados esta quarta-feira, a maioria dos entrevistados considera que "os portugueses reconhecem o trabalho desenvolvido pelos vários meios tradicionais", sendo mencionada "a existência de um canal público visto como 'âncora', a associação de jornalismo ao telejornal e a ausência de grandes escândalos relacionados com a atuação dos media".

Contudo, um terço dos entrevistados considera que o sentimento de confiança nos media em Portugal "pode estar relacionado com a iliteracia dos portugueses", o "fraco sentido crítico" e a "deferência em relação ao poder instituído", havendo quem assinale ainda a "excessiva tolerância dos portugueses".

Ao nível das questões laborais, os jornalistas reclamam mais respeito pelas escalas de trabalho e pelo tempo de descanso, o direito à vida familiar e ao 'desligar', melhores salários e contratos e mais formação.

Consensual entre os diretores e editores inquiridos é a necessidade de diferenciar os conteúdos jornalísticos dos restantes (recorrendo, por exemplo, a 'etiquetas de diferenciação que possam orientar os leitores'), defendendo-se também uma maior aposta na literacia dos cidadãos e uma regulação e fiscalização mais apertadas.

A sustentabilidade dos media e o desafio de encontrar um modelo de negócio viável é o problema mais apontado, com alguns diretores -- "sobretudo de meios de comunicação mais recentes" -- a defenderem que o jornalismo não deve ser visto como um negócio e a afirmarem preferir que o jornalismo abdique da publicidade.

Contudo, a maioria dos inquiridos defende que o caminho para a sustentabilidade passa pela diversificação de receitas, apontando uma conjugação de modelos de financiamento e enaltecendo o papel do apoio privado em diferentes modalidades, como bolsas ou projetos específicos.

Relativamente ao financiamento público dos meios de comunicação, "parece haver algum consenso para a possibilidade de este apoio não ter de ser necessariamente monetário", podendo concretizar-se através de apoios fiscais.

"A ser monetário, fica sempre a ressalva de dever ser transversal aos meios e realizado de forma transparente", refere o Iberifier.

Promovido pela Comissão Europeia e associado ao Observatório Europeu de Media Digitais (EDMO), o Iberifier é um observatório de media digitais em Portugal e Espanha que visa combater a desinformação.

O projeto é coordenado pela Universidade de Navarra, Espanha, mas tem como principal parceiro o ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa. No total, integra 12 universidades, cinco organizações de verificação e agências de notícias (entre as quais a agência Lusa) e seis centros de investigação multidisciplinares.

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