No espaço de um ano o cenário das audiências em Portugal mudou de forma radical, particularmente no horário nobre, a faixa de maior consumo televisivo, em que são emitidos os programas que os anunciantes privilegiam para os seus investimentos.
A RTP é, de longe, o maior perdedor. A estação pública, entre Março e Outubro de 2011 (ver quadro), era líder no horário da informação (20h00--21h30) e no acesso ao horário nobre (19h00--20h00) disputava o primeiro lugar com a TVI (tendo mesmo vencido em Março e Outubro). Analisando os mesmos meses deste ano, o canal surge sempre no terceiro lugar em todos os horários, atrás dos canais privados.
Já a TVI, que continua líder de audiências no total do dia, também assistiu à queda das suas audiências em dois dos períodos analisados. No acesso ao ‘prime time’, a estação de Queluz viu a SIC assumir a liderança. Já no espaço da informação, a TVI mantém-se no primeiro lugar, com números muito similares aos de 2011. A grande alteração acontece na faixa dedicada à ficção e aos reality show, como a ‘Casa dos Segredos’. Entre as 21h30 e as 24h00, a TVI continua líder de audiências. Todavia, a vantagem que chegou a ultrapassar os dez pontos de share em 2011 passou para apenas um ponto em Outubro deste ano. Se a tendência se mantiver, a curto prazo, a SIC poderá mesmo roubar o primeiro lugar ao canal liderado por José Fragoso. Contudo, para o director-geral da TVI, a "comparação entre os resultados de audiência de 2012 e 2011 peca por incorrecção metodológica" devido às "diferenças de base no desenho dos dois painéis" de audiências. Para José Fragoso é "evidente que a mudança de sistema [da Marktest em 2011, para a GfK este ano] e a composição do painel" actual "tem reflexos" nos resultados, recordando que o actual sistema encontra-se em análise na CAEM (Comissão de Análise de Estudos de Meios). Fragoso ressalva ainda que, de acordo com a GfK, a TVI continua a ser "o canal mais visto, quer no total do dia quer em prime-time" nos primeiros 22 dias de Outubro. O responsável pela oferta da TVI revela também que "um estudo particular que a TVI subscreve" com os dados da Marktest em 2012 dá "igualmente a situação de liderança da TVI nos dois momentos horários referidos. Ou seja, é uma tendência de preferência máxima confirmada nos dois estudos".
Luís Marques, director-geral da SIC, começa por dizer à Correio TV que a aproximação da estação de Carnaxide à liderança em nada tem que ver com a mudança do sistema de audiências. "É completamente falso, basta analisar a tendência dos últimos meses da Marktest, com uma subida da SIC e a descida da TVI, particularmente nos targets comerciais". "Se com a Marktest a SIC equilibrou, com a GfK veio continuar e acentuar essa tendência", afirma.
Para explicar esta aproximação, o responsável da SIC fala do aumento do consumo televisivo (aproximadamente mais 200 mil pessoas a ver TV com o sistema da GfK), aliado ao "desgaste de algum tipo de oferta da TVI". Tudo isto somado ao "sucesso de ‘Dancin’ Days’ e de ‘Gabriela’" resulta num "reforço de audiências" e transforma a SIC num canal "muito competitivo", diz.
Para Manuel Falcão, ex-director da RTP 2 e director-geral da agência de meios Nova Expressão, a verdade está no meio da análise de José Fragoso e Luís Marques. Ou seja, se por um lado reconhece que "continuamos a ter muitas coisas por explicar" no sistema da GfK, que mantém "problemas de fundo", por outro, e "apesar dos problemas existentes", não considera "que o sistema seja o causador das diferenças". "Efectivamente, a SIC revelou-se mais concorrencial e desenvolveu uma capacidade de disputa que não tinha – até porque antes tinha pouco produto – e este ano sentiu-se o resultado da aposta na produção e de uma nova filosofia de grelha. Os conteúdos, como se vê, têm uma grande importância e a SIC está a aproveitar muito bem aquilo de que dispõe", sublinha.
Mas se a ficção da SIC, com a contribuição dos produtos da Globo, tem dado bons resultados à estação de Carnaxide, José Fragoso contra-ataca com as novas apostas da TVI, num "momento de renovação", com a "estreia da novela ‘Doida por Ti’ no horário de final de tarde de segunda a sexta-feira, voltando a ocupar o lugar deixado vago pela interrupção de ‘Morangos com Açúcar’". Com esta novela, Fragoso diz que o canal dará "mais uma prova do dinamismo da ficção nacional da TVI/Plural perante a ficção importada da Globo". "Numa história originalmente concebida por autores portugueses passamos também pela representação de qualidade das novas gerações de actores portugueses e numa execução de produção integramente nacional", afirma.
Esta estreia poderá ter impacto na faixa de acesso ao ‘prime time’, actualmente liderado pela SIC, até porque, como diz Manuel Falcão, a TVI sofreu "com o apagar do fenómeno ‘Morangos com Açúcar’. Apesar disso, Falcão não considera que a aproximação no horário nobre entre SIC e TVI se deva a "cansaço em relação à ficção" da estação de Queluz. "O que acontece de facto é que é muito difícil combater conteúdos como ‘Gabriela’ ou ‘Avenida Brasil’, e ‘Dancin Days’ tem sido uma boa surpresa", adianta, acrescentando ainda que "mesmo públicos que viam poucas telenovelas, estão a ver ‘Gabriela’ e ‘Avenida Brasil’".
Questionado se a SIC vai roubar o primeiro lugar à TVI no horário nobre, Luís Marques diz que "não quer antecipar" essa liderança, mas afirma que o canal "estará muito mais próximo e vai liderar alguns targets, como os comerciais". Neste campo, revela que o ganho nas audiências já resultou na subida da quota publicitária em três a quatro pontos comerciais. "É evidente que como está o mercado não conseguimos traduzir isto em termos de receita, mas ajuda a resistir melhor", concluiu.
José Fragoso adianta apenas que "a TVI e os seus canais continuam a garantir aos anunciantes o alcance de cobertura e comunicação regular que é pretendido" pelos clientes. Contudo, e tal como Marques, realça que "a evolução conjuntural da economia portuguesa tem condicionado o volume deste tipo de investimentos, o que tem prejudicado a performance geral dos media" nacionais.
Para Manuel Falcão, estes resultados têm "sempre um impacto" nas receitas comerciais, já que "os preços da publicidade dependem das audiências conseguidas". Contudo, salienta que "o principal problema está no facto de existir actualmente mais oferta de espaço publicitário do que procura", já que os anunciantes estão em retracção devido à situação económica. "É a conjuntura, mais que a variação de audiências, que está a criar uma perca de valor assinalável", afirma.
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