vive repartido entre a televisão, o cinema e o teatro, em Portugal e no Brasil. Aos 33 anos, diz estar a “amadurecer” a ideia para iniciar um ciclo de carreira mais ambicioso.
Que balanço faz da peça de teatro ‘Um Sonho para Dois’, que trouxe para Lisboa?
Correu muito bem. Foi a minha estreia como produtor. A sala esteve quase sempre cheia, o que me deixa muito feliz, atendendo às circunstâncias em que vive o País.
Há outros projetos para esta peça?
Queríamos levá-la a países de língua portuguesa. Angola e Moçambique já mostraram interesse em vê-la.
E ‘Dancin’ Days’, como correu a sua participação?
Passar uma temporada maior em Portugal deu-me oportunidade de voltar às novelas de forma mais intensa. Desta vez, no papel do pai da Mariana [Joana Ribeiro] e ex-namorado da Júlia [Joana Santos]. Os próximos episódios vão credibilizar a personagem.
Como vê a ascensão da SIC à liderança na ficção?
As televisões vivem ciclos, e a SIC está a viver um muito bom, com apostas certas. Fico muito feliz com a liderança do horário nobre. Mas, enquanto artista, quero que RTP, SIC e TVI difundam bons programas para que os artistas possam trabalhar.
O modo de fazer novela é diferente no Brasil?
A forma de fazer, os atores, o tamanho das equipas… é tudo muito similar. A grande diferença é o PROJAC, a cidade cenográfica que facilita a produção. Anunciar numa novela da Globo, que chega a 200 milhões de pessoas, custa muito mais do que anunciar para dez milhões de pessoas. E as televisões vivem de receitas publicitárias, logo, quanto maiores elas forem, mais dinheiro há para produzir. Esta é a grande diferença, porque a forma de fazer é quase igual.
Está em Lisboa a rodar ‘Cadences Obstinées’, de Fanny Ardant e com Gérard Depardieu. Como foram os primeiros dias de trabalho?
A primeira semana é sempre um pânico para qualquer ator. O filme é forte, aborda as relações humanas, os desejos e sonhos não concretizados. A realizadora é uma grande atriz, um símbolo do cinema, uma mulher que respira cinema. Temos estado a fazer uma preparação muito intensa, que tem sido crucial.
Em que língua representa?
Português, francês e italiano.
Apurou as línguas estrangeiras para este projeto?
Muito, e continuo a fazê-lo. Terei aulas ao longo do filme.
Que personagem faz?
A de um jogador de póquer. Tentei conhecer um pouco esse mundo, fui a casa de gente que faz torneios, visitei casinos, procurei olhares nos jogadores… Foi uma preparação muito intensa, porque interpreto um homem completamente focado no jogo.
Com quem contracena?
Com toda a gente. O Nuno Lopes, a Asia Argento, o Gérard Depardieu… Temos atores portugueses, franceses, italianos, romenos, americanos, e o mais engraçado é o cruzar de culturas. A troca de experiências é que nos faz ter um trabalho diferente, que ajuda a evoluir.
Teve alguma preparação especial?
Contratei uma nutricionista e um preparador físico, além de ir todos os dias ao ginásio. É que este personagem é viciado em jogo, tabaco, bebida, e queria que fosse mais marcado fisicamente. Para ficar mais seco, estou a fazer uma dieta há mês e meio.
Já perdeu peso?
Uns quilinhos.
Que custou mais na dieta?
Eliminar os doces e o pão, o gin, que bebia de vez em quando, as carnes vermelhas, massas e arroz… Dói um bocadinho, mas isto só vai parar a 26 de fevereiro, quando terminar a rodagem. Mas são sacrifícios inerentes à profissão.
Quando regressa ao Rio?
No final de fevereiro. Mas se me disserem que há um projeto interessante na Bulgária é para lá que vou...
Rejeita a ideia de que está instalado no Brasil?
Estou onde o trabalho está. Tenho passado algum tempo no Brasil ao longo destes nove anos muito por culpa de bons projetos. Enquanto ator, estou no Brasil, Portugal, França, Espanha, e quero focar-me nos Estados Unidos. Um ator não se deve cingir a um único lugar. Quando trabalhei como modelo, morei em Madrid, Milão, Paris, Frankfurt, Munique, Barcelona, EUA… Isto moldou-me, fez-me alguém que gosta de viajar e conhecer culturas diferentes. Agora o próximo passo é passar um tempo nos Estados Unidos e perceber o mercado.
Os Estados Unidos são a próxima grande meta?
Quero passar lá um tempo. Daqui a dois, três anos, vou ter de parar para fazer uma grande formação. Será um tempo para aprender, reaprender, reciclar.
Será um novo ciclo na sua carreira?
Acho que sim. Gosto muito de observar e de ouvir, e o que me têm dito as pessoas mais velhas e sábias é que a vida é feita de ciclos. Às vezes é preciso parar para pensar no que fizemos, no que queremos fazer, e depois reajustarmo-nos.
O seu sucesso no Brasil ajuda a abrir portas a outros portugueses?
Antes de mim, outros atores fizeram um belíssimo trabalho do qual me falam ainda hoje. A minha estratégia foi continuar a apostar no Brasil. Os convites foram aparecendo e a carreira cimentou-se. Tudo na minha vida se foi construindo passo a passo, e a minha aposta deu frutos, estou com uma carreira num país onde amo trabalhar. E se calhar trouxe também uma visão de Portugal mais moderna. Não correspondo à imagem tradicional do português baixinho, com bigode….
Mas o brasileiro já não vê o português assim...
Não, hoje já não. Mas há dez anos ainda imperava esta imagem. Neste momento, há muitos brasileiros a viajarem pela Europa e a visitarem Portugal, um país de eleição para eles, porque ainda aqui têm raízes.
Quando chegar ao Brasil, vai começar a gravar a nova novela da Globo?
Antes da novela, tenho outro trabalho na Globo, que não posso revelar.
Na representação?
Pode passar pela ficção, pelo entretenimento… É um projeto aliciante e novo. No Brasil, tenho trabalhado em televisão, mas também em cinema, e tive uma experiência interessante com o Renato Aragão, na ‘Turma do Didi’. Na Globo, sabem perfeitamente o que quero fazer e experimentar.
Palpita-me que vamos ver o Ricardo Pereira num formato de comédia...
Pode ser. Só garanto que não será novela.
O que pode adiantar da novela?
Não posso falar. A Globo não permite.
Falar com sotaque brasileiro ajudou?
Abriu oportunidades para fazer todo o tipo de papéis. Na rua, vêm ter comigo para saber como é que fazia o português, pensando que eu era um brasileiro a tentar falar português. É o melhor reconhecimento que poderia ter.
Falemos do filme ‘In Search of Ingrid’, onde vai interpretar Mauro Sposito. Quando arranca o projeto?
Deveria ter sido rodado em 2012 mas foi adiado. O convite surgiu quando estive na Colômbia, em 2011, a gravar a novela ‘Aquele Beijo’, da Globo. É outro país onde quero morar e trabalhar.
Que papel vai fazer?
O filme tem que ver com as FARC e o resgate de Ingrid Betancourt. Farei de jornalista. Foi a minha vontade de querer trabalhar na Colômbia que me levou a contratar um agente lá e ter tido esta oportunidade.
Em quantos países tem agente?
Portugal, Espanha, Colômbia, Brasil e Estados Unidos.
Porquê o interesse na Colômbia?
Bogotá fervilha culturalmente, facto que alguma Europa desconhece. A Colômbia ultrapassou a Argentina em termos económicos. Está muito ligada ao México, polo muito forte de cinema e TV. E tem uma grande ligação ao mercado americano pelo facto de a língua castelhana estar muito difundida nos EUA.
É um mercado interessante?
Tem grande potencial de crescimento e com muitas ligações ao cinema hispânico, o que me interessa bastante.
Quando termina o contrato de exclusividade com a Globo?
Nunca falo sobre contratos.
É mais bem pago no Brasil?
Será a mesma coisa. As pessoas têm ideia de que quando saímos de Portugal ganhamos melhor.
Onde investe o que ganha?
Tem noção do que ganha um ator? Não tenho como investir em nada, vivo a minha vida, invisto bastante em viagens. Sou poupado.
Então onde investe o que poupa?
Não invisto, guardo no banco.
É conservador no que toca às finanças?
Sou muito tradicional. Não invisto na Bolsa. Não sou esbanjador, o meu vício é viajar, conhecer culturas diferentes. A nossa profissão é instável. O que se ganha pode ser necessário para o mês em que não se ganha. É uma ilusão pensar que o ator poupa dinheiro.
Fala muito do cinema. É nesta área que quer centrar a carreira?
Este é o meu vigésimo filme. Cresci a fazer cinema. Televisão, cinema e teatro são três linguagens distintas que fazem parte do trabalho e da vida de um ator. Para mim, é importante ir um bocadinho a cada uma delas todos os anos. Quase todas as sextas-feiras vou ao cinema, adoro ver filmes em casa, viajar, e adoro fazer cinema. Pela forma, pelo cuidado, pelo tempo que se demora, pela preparação… Tenho um grande fascínio pelo cinema, mas tenho feito muita TV. Mas se o cinema está muito dentro de mim, foi nos palcos que me estreei, no Teatro Nacional Dona Maria II.
PERFIL
Ricardo Pereira, de 33 anos, estreou-se como ator em 2000, numa peça de Peter Shaffer no Teatro Nacional Dona Maria II. Além de ter feito várias peças, foi protagonista das novelas ‘Perfeito Coração’ e ‘Floribella’ (SIC). O primeiro papel de destaque numa novela brasileira foi em ‘Como uma Onda’, na Globo (2004). Em 2001, fez as novelas ‘Insensato Coração’ (SIC) e, depois, ‘Aquele Beijo’ (Globo), em parte rodada na Colômbia. Entre os muitos filmes em que entrou, destaca-se ‘Mistérios de Lisboa’, de Raul Ruiz, baseado no livro homónimo de Camilo Castelo Branco.
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