Atriz de ‘Cacau’, com grande experiência de televisão, é também um nome importante do teatro e uma professora de interpretação com provas dadas. A 'Boa Onda' foi encontrá-la nos Recreios da Amadora, onde ensaiava uma nova peça da companhia que fundou e dirige, o Teatro dos Aloés, para falar de uma carreira cheia de sucessos.
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Está no elenco da novela ‘Cacau’ (TVI). Como avalia a experiência?
Ah, foi muito giro, embora preparar uma personagem pequena seja mais difíci do que integrar o elenco principal. E ultimamente tenho feito sobretudo pequenos papéis. Aí conta-se com a simpatia dos colegas, a disponibilidade deles para nos acolherem. Tem sido giro porque tenho apanhado imensos antigos alunos meus nas novelas. Como aconteceu no ‘Queridos Papás’ [TVI], por exemplo, onde encontrei cinco ex-alunos. Apoiaram-me muito.
O que faz com que aceite os convites para trabalhar em televisão: a qualidade do elenco, da equipa técnica, do papel?
Depende mais da minha agenda do que de outro fator qualquer. Nunca me apareceu um papel tão horrível que recusasse interpretá-lo.
O que a levaria a recusar um papel?
Recusaria fazer uma personagem racista e xenófoba, que não desse para para desenvolver, por exemplo. Uma personagem misógina. A não ser que o projeto fosse claramente antiracista, antixenófobo, antimisógino. E que isso fosse bem claro. Quando era mais nova fiz personagens sensuais. Hoje sentir-me-ia ridícula. Teria de ver bem o texto. A idade dá-nos para isto: para dar mais atenção aos textos.
Qual considera ter sido o papel mais marcante da sua carreira em TV?
O primeiro, claramente. Na ‘Roseira Brava’ [RTP]. Era a má da fita e fui maltratada. Lembro-me de entrar num café, de me sentar e de ouvir uma senhora dizer: ‘Se esta mulher se senta, eu saio!’. E saiu. Mais tarde, a novela voltou a passar, entrei num café e pedi para trocar dinheiro e disseram-me: "Pessoas como a senhora não são bem vindas no meu estabelecimento". Só quando estava a sair é que ouvi uma ‘boca’ sobre a novela e percebi que se referiam ao meu papel.
E reações positivas às suas personagens? Também as houve, certamente.
Houve uma novela em que fazia par com o Jorge Silva, o ‘Feitiço de Amor’ [TVI], em que interpretava uma tonta, amiga da Maria João Luís, que era a vilã. Eu fazia o contraponto. Mas fiz quase sempre personagens más. As amantes... Uma vez um produtor disse-me: "Com esses olhos nunca farás de boazinha!" Agora, com a idade, estou a entrar noutro casting. Estou a ficar mais para o velhote, começo a fazer de avó.
Para onde vão as suas preferências? Que tipo de personagem gosta mais de interpretar?
As figuras populares. Fiz a Pereira no telefilme ‘Ti Miséria’, da RTP, e adorei. No filme ‘Amadeo’, do Vicente Alves do Ó, também fiz uma personagem popular, que me soube muito bem.
Mas durante alguns anos integrou o elenco principal de várias novelas...
Sentia-me uma operária de luxo. Picava o ponto e ficava lá horas infindas, como se estivesse numa fábrica. Na ‘Roseira Brava’ tive de contratar uma assistente para poder estudar as cenas e passar os textos. Levantava-me às seis da manhã, entrava no estúdio às oito e terminava às oito da noite. No fim de semana estudava os papéis.
O ordenado compensava? Atualmente há muita gente a queixar-se...
Na altura, sim, compensava. Não sei como estão os ordenados agora, mas pelo que ouço, estão um bocadinho mal... Imagino que as grandes vedetas estejam a ganhar muito bem, mas o resto das pessoas nem por isso. Quando és protagonista, é preciso ganhares muito bem para compensar o esforço. Uma novela dura nove meses. São nove meses da tua vida que desaparecem. Simplesmente não existem.
Além da televisão, também tem feito bastante cinema.
Fiz há pouco tempo um filme delicioso. ‘A Minha Casinha’, do António Sequeira. Com a Beatriz Frazão, a Sara Barradas, o Salvador Gil e o pai, o Miguel Frazão. Ganhámos o Prémio do Público de um festival de cinema no Texas. O filme está a rodar nos festivais internacionais. Vou voltar a trabalhar com o João Botelho, a partir de um livro da Condessa de Ségur.
A certa altura da sua carreira, deixou de fazer tanta televisão. Por opção?
Na realidade, saí. Tive vários convites que não pude aceitar, porque foi a escolha que fiz. Porque também gosto de fazer cinema e teatro. Televisão, sim, é bom, mas não todos os dias. Não iria sobreviver a meses e meses de gravações constantes. Porque depois entra-se numa rotina... Apetecia-me fazer coisas que pudessem ficar.
E é aí que entra a ACT – Escola de Atores, que fundou, e a Companhia de Teatro dos Aloés, que também fundou? Ambas em 2001.
Costumo dizer que estava grávida de gémeos. Porque a escola e a companhia nasceram praticamente no mesmo mês. Depois de acabar o Conservatório, comecei logo a fazer muitas novelas, mas o que eu queria era fazer teatro. Ainda estive três anos na Malaposta, mas depois voltei a ser muito chamada para televisão... Rapidamente percebi que não era aquilo que queria para a minha vida. Até porque sentes-te um produto do mercado e nunca sabes quando é que vais ter trabalho, quando não vais ter trabalho... Há muita instabilidade na televisão e as pessoas ficam reféns disso. Eu desejava uma vida estruturada e ser independente. A escola e a companhia responderam a essa necessidade.
Como é que surgiu a ideia de fundar uma escola de formação de atores?
A Patrícia Vasconcelos, que conhecia desde o Conservatório, há muito tempo que me andava a convencer a fazer uma escola, mas nem eu nem ela tinhamos dinheiro para investir. Na altura pedimos empréstimo e agora, 20 anos depois, que as contas estão finalmente equilibradas, abandonei a direção artística da ACT e passei a ser apenas professora. É como um filho: aos 20 anos, tornou-se independente. A pandemia obrigou-me a repensar as minhas prioridades. Decidi que quero, antes de tudo o resto, ser atriz.
E gosta de ser professora?
É das coisas que mais gosto de fazer. Formei gerações de jovens atores e agora cruzo-me com eles no trabalho e é maravilhoso. Conheço-os a todos pelo nome, a relação que temos é ótima. Agora cuidam eles de mim como eu já cuidei deles.
Não sente que há muitos que vão para a profissão ao engano, atraídos pela ideia de fama e fortuna que nem sempre chegam?
Há pessoas que estão enganadas quando entram para a escola. Mas depois acontecem duas coisas: ou saem para abraçar outras profissões ou, se ficam, são conquistadas pelo teatro e mudam radicalmente. Há alunos que só queriam televisão – para serem estrelas – e ao fim dos três anos sou eu que os estou a convencer a aceitar convites para fazer novelas. Eu não tenho nada de mau para dizer sobre as novas gerações, muito antes pelo contrário. Cada vez encontro pessoas mais trabalhadoras, mais empenhadas, com mais vontade de fazer coisas e de criar novos projetos. Não sei o que é esperar pelos alunos dentro da sala de aulas: chegam sempre a horas.
Fundou, juntamente com José Peixoto, e outros, o Teatro dos Aloés, companhia com a qual tem feito grandes textos e interpretado personagens marcantes da dramaturgia mundial. Sente que é o seu espaço de liberdade enquanto atriz?
Na vida não dá para fazer tudo o que apetece. Em nada. Há sempre concessões. Ainda assim, diria que não faço assim tantas cedências quanto isso. Há um orçamento, claro, e isso já determina as nossas escolhas. Se pudesse fazia Tchékhov todos os anos, mas as peças dele têm sempre elencos grandes. Mas estou satisfeita com aquilo que temos conseguido fazer com a comunidade da Amadora, onde estamos implantados. Lembro um em particular, ‘A Morada’, em que andámos pelos bairros ditos problemáticos – que não são nada problemáticos – a fazer trabalho de campo. Foi muito interessante e aprendi imenso. Este ano vamos fazer um projeto sobre a água...
É bom trabalhar na Amadora?
Sim, é preciso entender a interculturalidade desta cidade. Temos conseguido criar o nosso público e gosto muito de estar aqui [nos Recreios da Amadora].
O que sente que ainda lhe falta fazer, em termos profissionais?
Ui. É uma boa pergunta. Eu não sou pessoa de ter sonhos, de desejar fazer aquele papel ou o outro. Queria muito fazer ‘O Cerejal’, do Tchékhov, e já fiz. Queria fazer um Brecht, um Shakespeare, claro. Mais até como encenadora do que como atriz...
É verdade, vimo-la a passar para o lado de lá, e a assinar espetáculos como encenadora...
O [José] Peixoto obrigou-nos (risos). A mim e ao Jorge [Silva]. A assumir a função de encenador. E acabámos por descobrir uma faceta que nem sabíamos que tínhamos. Agora partilhamos as encenações da companhia: cada um faz uma encenação por ano.
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