O popular ator acaba de regressar aos palcos: substitui o malogrado Luís Aleluia na peça ‘Noite de Reis’, em cena no Teatro da Trindade, em Lisboa. Entretanto, continua a dirigir o elenco de ‘Festa é Festa’, um sucesso imparável na televisão nacional, prestes a completar mil episódios.
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Está a substituir Luís Aleluia, que nos deixou no ano passado, na peça 'Noite de Reis', de Shakespeare, que voltou agora ao palco do Teatro da Trindade. O que é que isso significa para si?
Eu era muito amigo do Luís. Era e sou. Em memória continuamos amigos. Embora ele fosse um bocadinho mais velho do que eu, somos da mesma geração artística e sempre tive uma grande admiração por ele. O Aleluia tinha um dom especial. Os franceses fazem diferença entre 'comédien' e ator. Atores somos todos mas o comédien é aquele que tem um dom intrínseco que lhe facilita a abordagem às personagens. Ele tinha isso. Como o José Raposo também tem.
Saber da morte do Luís Aleluia deve ter sido um golpe?
Trabalhávamos juntos no 'Festa é Festa', em que faço direção de atores. E estava a gostar muito de trabalhar com ele nesse projeto. Quando partiu foi muito complicado. Tocou-me muito. Tocar-me-ia sempre, por ser meu amigo. Mas estávamos ligados àquele processo...
Teve alguma indicação do que poderia acontecer-lhe?
Lembro-me de ter muitas conversas com ele. O Luís debatia-se muito com os problemas da profissão, com a velhice do ator. Daí o seu envolvimento na Casa do Artista. Estava sempre a pensar nisso. De repente, um murro no estômago. Fiquei tão triste. Quando o Ricardo Neves-Neves me pediu para o substituir no espetáculo... Considero uma honra substituir o Luís. Lá onde ele estiver, acho que está contente. Depois, sou um fã incondicional do Neves-Neves. Adoro os espetáculos dele, gosto de tudo o que faz. É, talvez, dos criadores de teatro mais interessantes e criativos do País. Portanto aceitei, com satisfação.
Quando foi desafiado a ser diretor de atores da novela 'Festa é Festa' (TVI) teve a perceção de que viria aí um sucesso tão estrondoso?
Já estamos quase a chegar aos mil episódios! Não. Mas percebi que estávamos prestes a iniciar algo grande. Aceitei logo porque ia voltar a trabalhar com o António Borges Correia – com quem tinha feito 'Jardins Proibidos', há 20 e tal anos. E essa foi a primeira novela portuguesa a ganhar as audiências às brasileiras. Foi um marco. Quando a Cristina Ferreira [diretora da TVI] apresentou o projeto, lembro-me de ter dito: aqui nesta sala estão três pessoas que estavam nesse projeto vencedor. Eu, o José Eduardo Moniz e o António Borges Coelho. Fomos vencedores e vamos ser vencedores novamente.
Como explica este êxito?
Estávamos numa fase complexa, no mundo inteiro. Tínhamos atravessado a pandemia e ainda estávamos a tentar compreender a Covid. Os textos do Roberto Pereira agradaram-me imenso. Pensei que eram tangíveis. As personagens são muito teatrais. O Bino (interpretado pelo Pedro Alves), então, é delicioso. Tudo aquilo estravazava o real. Lembro-me de ligar ao António e de lhe dizer: isto é a Aldeia do Astérix dos portugueses. É real? Claro que não. É comédia. Ou acreditas ou não acreditas, ou te divertes ou não te divertes.
Está satisfeito com o resultado?
Está a perguntar-me se o produto podia ser apurado? Podia. Mas não temos dimensão para trabalhar como se trabalha noutros países. Em vez de fazermos 'x' cenas por dia, fazíamos metade, como eles fazem, e o produto sairia muito melhor. Mas iríamos todos à falência. Se queremos continuar a trabalhar, temos de perceber o sistema.
Tem uma personagem que só aparece de vez em quando. Porquê?
O Oliveira. Só participo de vez em quando, sim. É uma questão ética: acho que não devo estar a ocupar o espaço de um colega meu que precisa de trabalhar.
Sempre quis ser ator?
Não. Mas sempre tive atração pelo artificial. Já em miúdo não gostava do realismo e preferia o lado expressionista da arte. Lembro-me de olhar para reproduções de quadros e de não gostar do que estava bem pintadinho. Preferia o Gauguin. Os quadros do Picasso faziam sentido para mim e Edward Munch é um dos meus pintores preferidos.
Então tinha aptidão para as artes?
Nem por isso. Nasci no campo, sou filho de camponeses e gosto muito da natureza. Podia ter seguido agronomia, mas a arte apaixona-me. Infelizmente, adoro pintura mas não sou capaz de fazer um risco direito; adoro música mas nem para tocar ferrinhos tenho jeito; adoro dança mas sou um pé de chumbo e para cantar também não dou nada. Teatro lá consigo fazer (risos)...
Quando se estreou nos palcos?
Quando saí de Castelo Branco vim estudar para Almada, onde a minha irmã vivia. Estava num quarto, na casa dela, não pagava nada e tinha tempo livre. Um dia deparo-me com um anúncio da Companhia de Teatro de Almada, do Joaquim Benite. Fui lá. Fiquei apanhado. Porque a arte é apaixonante. Ninguém que experimente a expressão artística consegue abandoná-la. Só por razões muito fortes, como a sobrevivência.
Fez o Conservatório?
Não. O José Martins, que também estava na Companhia de Teatro de Almada, aconselhou-me a tentar uma bolsa de estudos e ir para Paris. Eu disse-lhe que gostava de ser encenador. Gostava de dirigir. E acabei por fazer grande parte da minha vida profissional a dirigir... nas novelas. Na altura, fui ao Instituto Franco-Português e eles mandaram-me para França. Era para ficar um ano, mas fiquei cinco. Desenrasquei-me, como os outros se desenrascavam.
Já em Portugal esteve na fundação da da companhia teatral Meia Preta, de teatro de máscaras?
Ah, foi um momento mágico, que acontece na vida de todos os jovens: O mundo é nosso! Que se lixe a renda da casa! Se tens dinheiro ou não, que importa? É uma época fascinante. Mas agora tenho outro grupo. Somos conhecidos pela Ficha Tripla. Eu, o Almeno Gonçalves e o António Melo. Sempre que podemos, fazemos teatro juntos.
Vive entre Lisboa e os Açores, não é assim?
Sim. Agora que estou a fazer novela e teatro não tenho tempo para ir tantas vezes como gostaria. Foi o acordo que fiz com a minha companheira, a mãe dos meus filhos: agora é ela que vem cá mais vezes. Tive de conferenciar com ela e de lhe perguntar se estava disponível. A Luísa, que é professora, concordou. Os meus dois filhos, o Diogo e o André, são açorianos.
E algum deles seguiu a profissão do pai?
O André, que é o mais novo, faz produção de cinema e de publicidade. E adora fotografia. Está na profissão, sim, trabalha bastante. O mais velho não. Não tem nada que ver com isto. É igual à mãe: é impossível tirar-lhe uma fotografia. Trabalha na Suíça como engenheiro informático. Ele e a mulher. Faz parte desta geração que trabalha onde quer, que tem muita mobilidade. É um miúdo muito calmo e ponderado. O teatro é muito criativo, mas nada supera a criatividade da vida. Tive essa certeza quando nasceram os meus filhos. Nada é mais belo do que os filhos, nenhuma peça de arte supera a beleza de um filho. São as melhores personagens que eu criei.
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