Aos 52 anos, ator de ‘Festa é Festa’ (TVI) fala da personagem Peixoto, do sentido missionário da sua profissão, recorda o período da depressão quando viu os seus “pilares ruírem”, do tempo em que esteve em negação, dos filhos - Leonor e Rafael - e da sua outra grande paixão: a cozinha.
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Nascido a 18 de fevereiro de 1972 (52 anos), em Lisboa, Vítor Emanuel entrou para o teatro aos 15 anos, por sugestão de um amigo, e aos 17 já era considerado o ator revelação do ano. Mais tarde viria a ser escolhido para fazer o programa infantil ‘Clube Disney’. Entre novelas e séries é um dos rostos mais presentes na televisão portuguesa. Atualmente faz parte do elenco de ‘Festa é Festa’ e do programa ‘Somos Portugal’, ambos da TVI. Muitos não saberão, mas é a voz portuguesa do Peter Pan. Vítor Manuel tem dois filhos, Leonor, de dez anos, e Rafael, de seis.
Há três anos a fazer o ‘Festa é Festa’ (TVI) e sabendo que uma novela é quase uma maratona, como está a encarar esta prova de resistência?
Projetos vencedores como este são ilustrativos de como o público há muito procurava um produto assim para consumir em televisão. Seria até ingrato da minha parte, e para comigo mesmo, sequer pensar em estar cansado. Um ator nunca pode estar farto daquilo que está a fazer. O trabalho de um ator também é um trabalho missionário. Mas é engraçado porque tudo isto começou como um projeto de quatro meses.
E que gozo é que lhe tem dado desempenhar o empreiteiro Peixoto?
Do ponto de vista artístico e pessoal tem-me dado um gozo enorme, porque é uma personagem que tem vindo a construir-se e a crescer. Nem sempre um ator tem o privilégio de ter uma personagem assim. De temporada para temporada há sempre qualquer coisa para acrescentar. Para além de todos os cruzamentos com outras personagens, o Peixoto é talvez, nem que seja no sentido figurativo, o homem com mais mulheres no ‘Festa é Festa’. Já são quatro ou cinco (risos).
Há tanto tempo a desempenhar o mesmo papel, também já sentiu aquele síndrome de quando o ator se funde com a personagem e vice-versa?
Eu corroboro isso. Neste momento em que estou a dar esta entrevista dou por mim à procura das palavras certas para não estar aqui a enrolar e não dizer nada, tal como faz o Peixoto. Ele é capaz de enrolar num discurso gigantesco só para depois dizer ‘boa noite’ (risos).
Então quer dizer que tem levado o Peixoto para casa?
Às vezes acontece. O Peixoto tem, pelo menos, cinco grandes bordões: "ao nível", "nomeadamente", "vamos lá ver uma coisa", "oi, oi, oi, oi, oi,oi" e o "situacionistica". Ora, no dia a dia eu sei que o "nomeadamente" e o "ao nível" saem-me com alguma frequência. A minha filha mais velha é que me chama muitas vezes a atenção: "Pai, já estás armado em Peixoto outra vez...".
Sente que, com esta personagem, o Vítor Emanuel voltou também ao melhor da sua forma como ator?
Fico muito contente quando as pessoas se lembram de quem eu era e do que já fiz enquanto ator. Isso é capaz de ser o espelho daquilo que realmente está a acontecer com este meu trabalho. Faço ao fim de semana o ‘Somos Portugal’ de norte a sul do País, tenho um contacto direito e intenso ao longo de seis horas com o espectador e é isso que tenho sentido, um retorno incrível. Por isso vou usar uma palavra que gosto muito: gratidão. Estou muito grato.
Esta personagem do Peixoto surgiu numa fase difícil da sua vida, facto que foi público. Uma vez que foi a Cristina Ferreira que o chamou de volta à televisão, sente que ficou em dívida eterna para com ela?
Sinto que estou grato. Já o disse mais do que uma vez e vou continuar a dizê-lo. A minha postura perante a vida tem sido sempre esta, a de agradecer tudo o que me acontece, sejam coisas melhores ou piores. Aprendi isso sem saber que tinha que o aprender, mas ainda bem que o aprendi. O bom e o mau são sempre válidos para a nossa vida porque nos ensinam muita coisa.
Sente que é, hoje, uma pessoa reconciliada com aquele período menos bom da sua vida em que não tinha trabalho, em que caiu na revolta e na depressão?
Sim, completamente reconciliado. Aprendi com as vicissitudes da vida. Sei das dificuldades que tive, primeiro em perceber que tinha entrado na espiral e depois em sair dela. Mas, na verdade, ela só me trouxe ensinamentos. Percebi muitas coisas sobre mim. No primeiro embate de transtorno houve, sim, revolta, incómodo, mal-estar. Hoje fala-se muito em saúde mental, mas não se falava há dez anos com a mesma abertura. Há mais sensibilidade de toda a gente para falar disto.
Hoje, à distância a que já estamos daquele período, consegue perceber porque entrou naquela espiral?
Ao início não me apercebi de nada. Eestava naquele estado catatónico de que as pessoas não falam, de que os pais não falam aos filhos. Aquilo que sempre ouvimos a vida toda é que temos de ser fortes e andar para a frente. O que eu acho é que temos todos de ter mais atenção uns com os outros.
Mas houve alguma causa específica que o conduziu àquele estado?
Acho que não, porque foi uma amálgama de coisas e de situações. Desde muito novo sempre tive a minha vida assente numa série de pilares, sobretudo a nível profissional, e praticamente de um dia para o outro esses pilares ruíram. Sei que tenho colegas com mais anos de atividade do que eu, mas nessa fase já tinha 25 anos de profissão. É a diferença entre um carro bater a 10 km por hora ou bater a 100. Os impactos são diferentes e comigo foi isso que aconteceu. No fundo, bati de frente a 100 km/hora. E depois, a nível pessoal, também houve outras coisas que aconteceram que transformaram tudo isto numa bola de neve. Já em período de tratamento, foi-me dito que tinha também passado por um período de negação. Eu achava sempre que dava a volta sozinho, mas isso é apanágio em 99,9 por cento de todas as situações clínicas que estão documentadas, dentro e fora de Portugal. As taxas de suicídio, por exemplo, são assustadoras e chegam a ser na ordem das nove mil por dia.
Mas alguma vez pensou nisso?
Que me recorde, não.
Já afirmou que os seus filhos foram a sua grande terapia!
Para quem algum dia almejou ser pai, os filhos são o motor de arranque. Não há qualquer máquina de combustão que não tenha um motor de arranque. Eu tive vários motores ao longo da minha vida, até aparecerem os meus filhos, primeiro a Leonor (10 anos) e, três anos depois, o Rafael (seis). Costumo dizer que tenho um motor de arranque duplo.
E como é a relação deles com a profissão do pai?
É completamente tranquila. Ou seja, eles sabem o que eu faço. Se tiverem de estar no sítio onde eu estou, têm um comportamento exemplar. Tudo isto é muito normal para eles porque já cresceram neste meio. Lidam bem com a minha exposição, quando, por exemplo, os fãs vêm ter comigo na rua ou quando apareço na televisão. Não vou dizer que são indiferentes a isso, mas para eles já é tão normal como ir almoçar ou jantar ou ir para a escola.
O Vítor tem uma outra paixão, que é a cozinha. Continua reservada para os amigos e família ou gostava de ter algum projeto relacionado com isso?
Ainda não há nada de concreto. Tudo terá a ver com disponibilidade, tempo e abertura. O objetivo é vir a fazer alguma coisa como deve ser. Para já, vou cozinhando em privado e o que faço publicamente é em circuito fechado. Posso, por exemplo, fazer um jantar de degustação, com vinhos à mistura, para 40 ou 50 pessoas.
Mas estamos a falar de cozinha tradicional ou de autor?
Eu fundo e cruzo. Num dos últimos jantares de degustação que fiz, cozinhei, por exemplo, umas línguas de bacalhau à bolhão pato, rabo de boi desfiado com queijo da ilha de S. Jorge, um brownie com uma redução de menta e um ceviche de camarão.
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