Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem um novo projeto para a prestação de cuidados de saúde mental na capital.
07 de outubro de 2021 às 10:471 / 2
No próximo dia 10 assinala-se o dia da Saúde Mental. Na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), o médico Luís Afonso, é o diretor clínico da Direção de Serviços de Saúde e responsável por um novo projeto que visa reestruturar, melhorar e implementar uma nova estratégia na prestação de cuidados de saúde mental na capital.
Correio da Manhã – Como se fez sentir a necessidade de redesenhar e articular as diversas respostas na área de saúde mental integradas na SCML?
Luís Afonso – O sentir que a nível comunitário é frequente encontrarmos famílias em que a doença mental de um dos seus elementos conduz frequentemente a uma disfuncionalidade com desestruturação das suas dinâmicas. Por outro lado, assistimos ainda a um aumento progressivo das dependências em particular nos jovens por fenómenos de adição, constatando-se que a resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS), muitas vezes é insuficiente, o que leva ao isolamento e ao desamparo das famílias que ficam sem saber onde recorrer. Importa destacar que a área da saúde mental é transversal a um vasto leque de respostas existentes na Santa Casa, dispondo esta, de serviços que integram equipas multidisciplinares, especificamente direcionados para esta vertente, como é o caso da Unidade de Saúde W+ e da Unidade de Saúde Dr. José Domingos Barreiro, sendo importante, também, destacar que existe uma equipa de suporte às casas de acolhimento, sobretudo para intervenções em crise, é o caso do equipamento D. Carlos I.
Em que aspetos essa carência é mais preocupante?
– Decidiu pôr mãos à obra. De que forma?– A SCML não pretende substituir o SNS na sua responsabilidade comunitária, mas sim, em conjunto com outras instituições trabalhar em complementaridade. Assim foi proposto a criação de um grupo de trabalho com dois núcleos: um para a saúde mental de adultos, liderado pela Dra. Ana Jorge; e outro para a área infantojuvenil, liderado pelo Dr. Augusto Carreira, aos quais juntamos consultores internos da SCML. Após as primeiras reuniões de trabalho, chegámos à conclusão de que era importante ouvir peritos e assim convidámos o professor Miguel Xavier, diretor do Programa Nacional de Saúde Mental, a Dra. Teresa Maia, coordenadora para a região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, o professor Caldas de Almeida, que colabora com a SCML, o Dr. António Bento (da área dos sem abrigo). Daqui surgiu uma avaliação de suporte e definimos o caminho para a SCML.
O mais importante agora é começar…
Estratégia
Os resultados das reflexões levadas a cabo pelo grupo de trabalho permitiram identificar as seguintes linhas orientadoras:
– Prevenção da doença mental alicerçada em programas de melhoria da autoestima e das competências de vida.
– Integração dos programas e respostas multidisciplinares de saúde mental instituídos na SCML, quer nas situações de institucionalização quer na intervenção de proximidade.
– Desenvolvimento de uma estratégia que promova a proteção social, atenue as desigualdades e mitigue os impactos do desemprego e da exclusão social, com iniciativas focadas nos problemas de saúde mental de grupos vulneráveis.
– Iniciativa de implementação de resposta integrada às necessidades de pessoas com demência, desejavelmente em articulação com o SNS.
– Implementação de programas colaborativos e articulados com os cuidados de saúde primários e os serviços locais de saúde mental do SNS, especialmente dirigidos a grupos vulneráveis.
– Participar no desenvolvimento da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental, na área da Infância e Juventude e dos Adultos.
Propostas
Infância e Adolescência
Adultos
Com esta proposta, pretende-se o desenvolvimento das ações por equipas devidamente identificadas e responsáveis por uma população delimitada, promotoras da complementaridade das respostas por parte das diversas entidades, contribuindo para a eliminação de sobreposições e para a construção de uma efetiva continuidade de cuidados.