Especialista em energia José de Oliveira acredita que a crise energética trará efeitos positivos para Angola, acelerando projetos já em curso.
O especialista em energia José de Oliveira acredita que a crise energética trará efeitos positivos para Angola, acelerando projetos já em curso, defendendo que o petróleo e gás vão continuar a ter um peso importante no 'mix' energético mundial.
Em declarações à Lusa, José de Oliveira, investigador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC/Ucan) para a área de energia, indicou que a crise pode levar a uma aceleração dos projetos em curso no setor em Angola, alguns dos quais atrasados pela pandemia de covid-19 e que agora podem entrar em velocidade cruzeiro.
Por outro lado, não deverá repercutir-se na falta de combustíveis em Angola, antes pelo contrário, já que com mais receitas a Sonangol (petrolífera estatal) tem mais capacidade para suportar as importações de combustíveis.
Quanto à entrada de novos investidores na indústria petrolífera angolana, não será tão fácil, já que a o acesso de novas empresas vai estar dependente do sucesso ou insucesso das novas áreas em pesquisa, nomeadamente na bacia do Namibe onde a Exxon, Total, Eni e Sonangol estão a trabalhar, bem como nas águas ultra profundas da bacia do Congo onde a multinacional francesa Total se encontra a perfurar numa área em que a profundidade do mar é de 3.600 metros, um recorde mundial.
"Talvez tenhamos de esperar um tempo até que esta onda anticombustíveis fósseis acalme um pouco, pois o petróleo e o gás ainda vão ter uma participação grande no 'mix' energético mundial por mais duas a três décadas", referiu.
Salientou, por outro lado, que em Angola, a transição energética está em curso há vários anos sendo a maior parte da eletricidade de origem hídrica, enquanto a de origem térmica "tem vindo a diminuir, e dentro de alguns anos será muito baixa".
Além disso, notou, o país africano tem projetos para a implementação de energia solar, alguns de pequena escala, já a funcionar com apoio térmico para cobrir os consumos noturnos, em alguns municípios.
"Com o desenvolvimento das redes de transporte de energia o país vai cobrir nos próximos anos mais áreas do interior com energia renovável, de fontes hídricas ou solares", acredita o investigador.
José de Oliveira apontou outros países africanos com grande potencial hídrico, como o Congo, a Etiópia e Moçambique, e acrescentou que a maioria "para descarbonizar a energia vai ter de usar novas fontes renováveis, tais como a solar e a eólica", embora seja necessário também esperar pelo aparecimento das grandes capacidades de armazenamento em baterias, ainda não existentes.
Atualmente, o gás natural é a maior fonte de geração de eletricidade em África, mas o 'mix' energético (excluindo biomassa) mostra que o continente depende ainda em 90% dos combustíveis fósseis, com o petróleo (42%) a dominar, seguindo-se o carvão (23%) e o gás (27%).
"África é também o segundo continente mais dependente do petróleo. Tudo isto junto explica os motivos por que África vai ser o último continente a conseguir descarbonizar a energia consumida", explica José de Oliveira.
Além dos elevados investimentos que terão de ser feitos "com apoio dos países ricos, por vias bilateral ou multilateral de financiamento, a dimensão da solução a implementar em contraste com as fracas capacidades técnico-financeiras da maioria dos países do continente explica o longo tempo necessário", complementou.
Lembrou, no entanto, que o total do consumo de energia em África é menos de metade do consumo da Índia e que o valor acumulado de CO2 lançado na atmosfera de 1890 a 2020 corresponde apenas a 3% do total mundial.
"Por outras palavras, a lenta transição energética em África não afeta os benefícios da transição energética mundial, em especial dos grandes consumidores, que essa sim tem de ser rápida se queremos controlar os aumentos de temperatura média", observou.
O investigador admite que este processo é de certa forma responsável pela crise que se está a viver.
"Os responsáveis pela energia na Europa, por exemplo, esqueceram-se que não podiam ter os 'stocks' de gás natural a 86% do normal em vésperas de Inverno e que lançar as culpas para cima da Rússia quando a Gasprom está a cumprir os seus contratos, como o afirmam analistas ocidentais é apenas um jogo geopolítico que não resolve os problemas", afirmou.
"Para importar mais gás da Rússia, a Europa tem de saber se ela dispõe de capacidade e negociar aumentos de volume ou novos contratos", sublinhou o investigador, adiantando que criticar a China também entra no jogo político.
José de Oliveira destacou que "a Europa tem capacidade financeira para acompanhar as atuais cotações do GNL [gás natural liquefeito] que duplicaram de valor".
"Em suma, a transição energética parece ter feito esquecer aos políticos que é um projeto global que está a dar os primeiros passos e, por conseguinte, todos os países estão ainda a viver dentro da matriz energética que se pretende alterar radicalmente", concluiu.
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