A edição de hoje
Os temas de Jean Genet e a ambiência estética de Fassbinder: eis a impressão geral que nos deixa a mais recente criação de Bruno Schiappa, “Intelectualmente Emocional”, em cena na Sala Estúdio do Teatro da Trindade, em Lisboa, até dia 30.
O cenário reproduz uma cela algo luxuosa numa cadeia do futuro. Duas camas, dois manequins (um feminino e outro masculino), muitos livros espalhados pelo chão. Numa das camas está um homem que foi preso por roubar “vontades alheias”. Para ocupar a outra chega, desde logo, um outro, mais jovem, que o companheiro se vai entreter a torturar verbalmente.
Quem conheça o trabalho anterior de Bruno Schiappa, reconhecerá neste espectáculo alguns dos seus temas ‘fétiche’, nomeadamente este jogo do gato e do rato. Só que aqui, e ao contrário do que acontecia no “Psicopata”, por exemplo, o jogo de provocação verbal não tem consequências físicas... E até tem efeitos benéficos.
APRENDER A VIVER
No fundo, é uma história de aprendizagem a que se conta no Trindade. Uma espécie de passagem de testemunho, onde um homem mais velho ensinará ao mais jovem um truque para ser feliz: aprender a gozar a vida, em plena liberdade.
Pelo meio há uma namorada, há sexo - hetero e homossexual - há provocação à moda de Genet. Não é por acaso que o jovem prisioneiro lê “Nossa Senhora das Flores”.
Formalmente, e como não podia deixar de ser, este é novamente um espectáculo que “rouba” o que pode ao cinema, não só no registo de actuação (naturalista) mas também nos ritmos do diálogo e nos momentos emotivos, que nos remetem para cenas já vistas no grande ecrã.
Bruno Schiappa tem uma personagem mais profunda do que outras que tem feito, e Rita Fernandes acompanha-o com muita segurança. Menos bom é o desempenho do estreante Alexandre Gregório, cuja interpretação não é suficientemente reveladora do “crescimento” da sua personagem. Ver de quarta a sábado às 22h00. Para maiores de 16.
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