Cantor volta a Portugal com o projeto ‘Trinca de Ases’ com Gal Costa e Nando Reis. Dias 9 e 10 de Março no Campo Pequeno e dia 11 no Coliseu Porto.
Gilberto Passos Gil Moreira nasceu em Salvador da Bahia a 26 de junho de 1942. Fundou o movimento cultural Tropicalismo e Gravou mais de 70 discos na carreira. Regressa a Portugal com um novo projeto. O pretexto para falar de música, de vida e de politica.
A canção ‘Trinca de Ases’ fala de "uma moça e dois rapazes". Como aconteceu este encontro entre a moça Gal, o menino Nando e o rapaz Gilberto?
Este encontro deu-se em 2016 por ocasião do centenário de Dr. Ulysses Guimarães (um dos grandes rostos de oposição à ditadura militar no Brasil). O jornalista Jorge Bastos Moreno queria um espetáculo novo e exclusivo. Fomos vendo a disponibilidade dos artistas que podiam combinar entre si e surgiu a ‘Trinca de Ases’.
Mas quem é que desafiou quem?
Foi tudo em sintonia com a música, eu pensei na Gal, minha parceira de longa data, e depois o Nando surgiu como catalisador de juventude.
Que cumplicidade artística e musical descobriram dois seniores da MPB e um músico de rock?
Percebemos através dos ensaios que o trio funcionava naturalmente de forma harmoniosa. A coisa toda foi entrando nos eixos à medida que os ensaios avançavam e com o passar do tempo em digressão a cumplicidade entre os três só aumentou.
Vinte anos separam a geração de Gal e Gilberto da geração de Nando. O que é que a Gal e o Gilberto ainda têm a aprender?
Tanto eu como a Gal continuamos a aprender todos os dias. E com o Nando no grupo temos sempre o que aprender e também o que ensinar. É uma troca permanente entre músicos que resultou. Há, por exemplo, sucessos meus que ganharam novas roupagens. E depois surgiu a inspiração para criar a música ‘Trinca de Ases’ que batizou este trio.
Quando se partilha o palco com outros músicos ao final de tantos anos, onde e como ficam os egos de cada um? Que cedências é preciso fazer?
Somos três artistas já bastante rodados e aos poucos vai-se perdendo essa questão do ego e naturalmente vai-se aumentando a capacidade de ceder dentro de certos limites. É uma aprendizagem que fomos tendo ao longo dos anos. E depois em ‘Trinca de Ases’ o amor pela música é superior.
O espetáculo que trazem a Portugal é exatamente igual ao que têm apresentado no Brasil ou há algumas surpresas para o público português?
Ainda está no segredo dos deuses. Estamos ainda a conversar sobre isso, se iremos acrescentar ou tirar algo. Os espetáculos no Brasil sofrem ligeiras alterações de uma cidade para outra. Portugal não será diferente.
O Gilberto Gil tem uma postura muito roqueira neste espetáculo, que contrasta com a imagem do músico mais contido dos últimos anos. Este Gil do ‘Trinca de Ases’ é um Gil renascido, com nova alma?
A postura neste espetáculo é muito diferente do último projeto que me juntou a Caetano, nós dois, só voz e violão. Nesse agora fico quase o tempo todo de pé, e vou avisar já que também danço!
O Nando fala em "dois mestres: Gal e Gilberto". Quanto pesa esta coisa de saber que é uma referência?
Tenho só alegria em saber que novos artistas se inspiram no meu trabalho.
Nos últimos anos, a música portuguesa começou finalmente a entrar com maior força no Brasil, sobretudo uma nova geração do fado. António Zambujo gravou Chico Buarque, Carminho gravou Tom Jobim e Raquel Tavares gravou Roberto Carlos. Como tem acompanhado esta nova música portuguesa?
Vejo com muito bons olhos o boom de artistas portugueses de altíssimo nível no Brasil. Além desses que cita, gos-tamos também de Marisa, Madredeus, Maria João e Mário Laginha e muitos outros que já vinham abrindo caminho no Brasil. Foram os pioneiros neste caminho.
O Gilberto está com 75 anos. Qual a memória mais viva que tem do início da sua carreira?
Lembro-me dos festivais da televisão onde me encontrava com todos os colegas; os primeiros espetáculos ainda na Bahia. A emoção que tinha nos meus primeiros espetáculos na Bahia. Tanta coisa boa.
A idade é uma preocupação ou é um posto?
Não pode ser uma preocupação, não posso também pensar que seja um posto, gosto mais de pensar que o passar do tempo é inevitável. Portanto, temos que vivê-lo com serenidade.
O que se perde e o que se ganha com o passar do tempo?
Ganha-se experiência e sabedoria. Perde-se vigor e energia.
O que acha que deu à música e a música lhe deu a si?
Através da música cresci pessoal e profissionalmente, eu dei tudo de mim à música. É a minha vida, e a música dá-me esta alegria de viver e esta intemporalidade. A música ficará para sempre no tempo.
O que ainda existe daquele menino que aos dezoito anos formou com amigos o conjunto Os Desafinados?
Ainda há pouco tempo por ocasião do lançamento de minha nova música disse, numa conferência de imprensa, que muito do que faço ainda hoje é feito pelo menino que eu fui no interior da Bahia!
No ano passado comemoraram-se 50 anos do Tropicalismo. Tendo Gilberto Gil sido um dos seus grandes impulsionadores, de que forma acha que o legado daquele movimento se sente hoje na cultura brasileira?
O Tropicalismo trouxe uma lufada de modernidade e sobretudo de grande liberdade para compor, cantar, se apresentar do jeito que se quisesse. Acho que todos se sentem mais livres porque aconteceu a Tropicália.
O Gilberto Gil também esteve ligado à política, com uma carreira iniciada em 1988 como vereador em Salvador da Bahia. A política é ou deveria ser uma arte e como tal tratada com genuinidade, honestidade e verdade?
Deveria ser tratada desta forma. A política é para as pessoas. Assim devia ser mas não é.
O que retirou das suas experiências políticas, nomeadamente da sua experiência como ministro? Voltava a um cargo político?
Não quero muito estar a falar de política mas acho que não voltaria a um cargo político.
Depois de ‘Trinca de Ases’ o que se irá seguir?
Tenho já pronto um trabalho de músicas inéditas produzido pelo meu filho Bem Gil, e estou a trabalhar na composição de uma ópera inspirada no Gita Govinda, com o maestro Aldo Brizzi
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