A banda portuguesa lança o seu 11.º álbum de estúdio, ‘Extinct’, um registo que reflete a maturidade do grupo, um outro realismo e uma sonoridade menos negra. Fernando Ribeiro, o vocalista, explica tudo.
Há quem diga que encontrar o nome para um disco chega a ser mais difícil do que fazê-lo. De onde é que vem este ‘Extinct’?
Curiosamente, este disco nasceu do título [risos]. Por aqui se vê o quão difícil é encontrar um nome e uma palavra que encerre um conceito.
E que conceito é este?
Toda a gente sabe o que quer dizer ‘extinção’ e o que é um ‘ser extinto’. Este título até a mim me surpreendeu, porque não é nada fechado e veio ao encontro do que eu procurava: uma palavra que conseguisse definir momentos na minha vida e algum espírito do nosso tempo.
E que momentos são esses?
São momentos que têm a ver com muitas coisas, desde a morte de músicos que eram uma influência para nós até à morte de um certo tempo, do não retorno.
Isso é quase filosófico!
É curioso porque chegámos à fala com alguns professores da Universidade de Ciências de Lisboa que nos ajudaram também a entender o que é que ‘extinção’ queria dizer cientificamente. Aprendemos que, além de fim, extinção também significa luta. E, contas feitas, essa ideia não era assim tão diferente das experiências que eu tinha tido.
Que experiências?
Essencialmente duas experiências completamente opostas, uma de morte e outra de vida. A de morte foi a do Peter Steel dos Type O Negative que era uma referência para os Moonspell.Eleeratambémum grande amigo e costumava mesmo chamar-nos os ‘amigos portugueses’. Acho que com a morte dele se fechou um ciclo porque ele era como que o último da sua espécie. E a experiência de vida foi o nascimento do meu filho Fausto, que tem hoje dois anos e meio.
Como é que foi essa experiência de ter um filho quando se anda neste meio de um lado para o outro?
É uma felicidade e um amor incomparável. É como a metáfora do Homem-Aranha, mais poderes, mais responsabilidades [risos]. Há certas partes de nós que temos de extinguir. Quem ama um filho vai ter de experienciar aqui ou ali coisas que se vão extinguir e vai ter, por exemplo, de acabar a confrontar-se com o seu próprio egoísmo.
Isso quer dizer que este disco embora seja dos Moonspell também é um disco muito pessoal do Fernando Ribeiro?
Quem trabalha no campo da extinção e da sobrevivência das espécies diz que há uma emoção e uma perda pessoal, mas também há um sentimento de continuar com a vida. E isto é muito a dinâmica dos meus dias, da minha casa, da minha banda e por isso é que este disco também tem muito pouca ficção e é muito pessoal. Foi tudo muito pensado por nós e acho que essa é a grande diferença deste disco.
E por isso é um trabalho menos negro do que os anteriores!
Depois de ouvir este disco, eu acho que as pessoas percebem que não existe uma absoluta escuridão nem uma absoluta luz. Os Moonspell falam muito das suas experiências neste disco, não tanto de observar o Mundo, mas mais da sua realidade. Não podemos passar a vida a falar de lobisomens e vampiros por muito que gostasse [risos].
Já que falamos de extinção, o mercado e a indústria da música também vivem alguma extinção, sobretudo tal como os conhecíamos há 15 ou 20 anos. Ainda vale a pena gravar discos?
Claro que vale. Do ponto de vista comercial há muita gente que acha que já não vale a pena gravar porque os discos não se vendem e não se escoam. Mas ceder a isso seria a negação de algo fundamental para os Moonspell que tem muito a ver com o facto de termos 23 anos de carreira e de acharmos que os discos são autoexpressão e fazem parte da nossa história. Os discos valem pelo lado egoísta [risos],há sempre uma questão romântica que os envolve. Nós,por exemplo,ainda tentamos promover com os nossos fãs uma relação mais duradoura com os nossos discos.
Os Moonspell estão todos nos 40 anos. Um metaleiro amolece com a idade?
Depende das circunstâncias. Às vezes até temos de endurecer [risos]. Na verdade, eu acho que a nossa vida nunca foi tão exigente e ocupada como é agora. Mesmo que quiséssemos amolecer, acho que não iríamos conseguir. Às vezes andamos em digressão com 23 datas em cima e aparecia-nos uma folga, mas percebemos sempre que não é altura. A nossa ordem é mantermo-nos em forma e unidos.
E como é que olham para o futuro?
Com 23 anos de banda sabemos que já não fazemos outros 23. Se calhar até fazemos, mas sobre outras formas.Não temos condições,enquanto portugueses,de ser uns Black Sabath ou um Ozzy. Nunca tivemos essa dimensão.
Este disco acaba por ser mais melódico, mais musical. É uma mudança de estilo?
Tem a ver com alguma maturidade. É uma tentativa de mostrar que se pode ser emocional e poderoso sem ir pelo caminho mais fácil, do duplo bomboedasguitarras.Masnós sempre andámos pelos contrastes. Queremos chegar às pessoas de uma forma mais insinuante e não tanto ‘in your face’.
Vinte e três anos de banda representam mais do que um grupo de rock. Como é que se mantém um ‘matrimónio’ a cinco durante tantos anos?
Não vou dizer que nunca discutimos, mas a amizade é uma coisa primordial para nós. Eu vejo muitas bandas portuguesas a desistirem quando estão no topo e fico sempre a pensar no que é que isso lhes fez. A amizade é fundamental porque os Moonspell são uma constante na nossa vida. Eu já mudei mais vezes de casa do que de estúdio. Os Moonspell ganharam uma existência própria e é quase uma mãe para nós, para onde corremos quando precisamos.
Com este disco lançam também o vosso primeiro documentário. O que é que se pode ver em ‘Road to Extinction’?
O plano era simples, levar para estúdio uma câmara na cabeça, filmar e meter nas redes sociais. Mas depois decidimos contratar uma pessoa com experiência no cinema que é o Vítor Castro, que também é um amigo e que nos conseguiu filmar como tal. Daí nasceu uma história que nunca tínhamos conseguido contar aos fãs: o que é o processo de um disco. Filmámos muita coisa do nosso dia a dia e no estúdio na Suécia, num país estranho e língua estranha onde tínhamos, por exemplo, de ir ao supermercado e apontar [risos]. Os fãs dos Moonspell vão estar perto da banda como nunca estiveram.
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