Projeto faz parte de um programa de renovação e valorização museológica da Sala das Descobertas do Palácio Nacional de Mafra.
O pintor Rui Macedo vai recriar um conjunto de pinturas desaparecidas do Palácio Nacional de Mafra desde que o príncipe-regente D. João ordenou o seu envio para o Brasil, em 1804.
O projeto faz parte de um programa de renovação e valorização museológica da Sala das Descobertas do Palácio Nacional de Mafra, cuja primeira fase foi concluída em julho, com o restauro das pinturas murais sobre a expansão marítima dos séculos XV e XVI, disse à Lusa o diretor do monumento, Sérgio Gorjão.
Além das pinturas do teto e das paredes -- agora restauradas -- da autoria do artista e arquiteto português Cirilo Volkmar Machado (1748-1823), encontram-se ainda nesta sala legendas das pinturas que o artista terá encomendado a cinco pintores, e que serão agora substituídas por novas telas "fazendo eco do tema dominante da sala, através de um olhar crítico e criativo contemporâneo", explicou o responsável, em resposta a perguntas por 'email'.
A Sala das Descobertas do Palácio Nacional de Mafra foi alvo de um programa pictórico iniciado em 1795, mas interrompido com a partida da família real para o Brasil, em 1807, face às invasões napoleónicas de que Portugal foi alvo.
Datada de 1798, a pintura do teto é uma das primeiras representações da história de Portugal inspirada na obra de Luís de Camões, destacando figuras como Vasco da Gama, vencendo o Adamastor, Pedro Álvares Cabral, chegando ao Brasil, Cristóvão Colombo e o Infante D. Henrique.
A sala também teve, na sua origem, uma decoração com telas de vários pintores, nomeadamente Vieira Portuense, Domingos Sequeira, José da Cunha Taborda, Bartolomeu António Calisto e Arcângelo Fosquini encomendadas por Cirilo Wolkmar Machado, levadas para o Brasil e, desde então, dadas como desaparecidas.
"No lambril, abaixo das telas, encontram-se as identificações dos pintores, do ano em que realizaram a obra, o tema e a fonte histórico-literária que lhes serviu de inspiração", apontou Sérgio Gorjão.
Sobre o desafio artístico de criar obras num contexto histórico num monumento como este -- classificado em 2019 Património Cultural Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) -- Rui Macedo afirma que recebeu o convite "com entusiasmo" e sentido de "grande responsabilidade".
"Eu gosto destes desafios que procuram criar diálogos diretos entre tempos históricos distantes e onde a arte contemporânea raramente é o meio utilizado para estimular uma relação entre o património histórico e o pensamento artístico contemporâneo", afirmou à Lusa, também em resposta a perguntas enviadas por 'email'.
A prática artística de Rui Macedo incide maioritariamente em projetos semelhantes que usam, exclusivamente, a pintura instalada em espaços museológicos, procurando um diálogo com o património material e imaterial, nomeadamente, em intervenções já realizadas no Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa, o Museu da República, no Rio de Janeiro, Brasil, ou o Museu Nacional de Artes Decorativas em Madrid, Espanha.
"À medida que tenho investigado sobre o que se conhece sobre as pinturas desaparecidas -- apenas um programa genérico de trabalho artístico proposto pelo pintor e arquiteto português Cyrillo de Volkmar Machado aos pintores, para além dele próprio -- tem sido desafiante e exigente encontrar soluções pictóricas pertinentes que, simultaneamente, tanto se integrem como promovam, desejavelmente, uma leitura desafiante do tema da sala", descreveu o artista sobre o processo.
Macedo estudou o programa artístico proposto por Cyrillo de Volkmar Machado naquela época para a realização de seis pinturas de grande dimensão com base em seis textos sobre diferentes momentos da expedição inaugural de Vasco da Gama à Índia e a consequente presença portuguesa no Oriente.
Por se tratar de uma sala que alude à mitologia, a momentos da História de Portugal no tempo da expansão marítima, "torna-se pertinente fazer uma releitura que ecoe, metaforicamente, questões que provêm destes cruzamentos de temas, como a vulnerabilidade e poder, estórias e saberes tradicionais, identidades, miscigenação ou mesmo a (in)definição de fronteiras culturais e geográficas", apontou Rui Macedo sobre o projeto a realizar no monumento barroco do século XVIII, mandado construir pelo rei João V.
Parte do processo de investigação -- em formato de residência artística - tem sido realizado em parceria com a curadora Inês Valle, que tem centrado a investigação "em projetos que desafiam as fronteiras entre os hemisférios norte e sul, potenciando um repensamento do objeto artístico como resultado de histórias com incidência no território", assinalou.
O resultado deste processo será a criação e consequente instalação das pinturas ´site-specific´ de grandes dimensões, que tomarão o lugar das obras desaparecidas no século XVIII, num projeto que, segundo o diretor do monumento, "presta homenagem à obra de Luís de Camões no ano em que se celebra o quinto centenário do nascimento, restituindo o esplendor de um conjunto artístico inspirado na sua epopeia".
O investimento total estimado é de 100 mil euros, dos quais 60 mil euros são provenientes de mecenato da Fundação Millennium bcp, e os restantes 40 mil suportados pela Museus e Monumentos de Portugal, através de um protocolo assinado em 2024.
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