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Vhils, há 20 anos na arte de erguer muros com vista urbana

Alexandre Farto é famoso por esculpir personalidades, mas elogia e destaca os “heróis anónimos”.

09 de janeiro de 2021 às 01:30

Já esculpiu na pedra rostos gigantes de Amália Rodrigues, José Saramago, Zeca Afonso, da chanceler alemã Angela Merkel ou da ativista brasileira assassinada Marielle Franco. Mas quando se pergunta a Vhils, nome artístico de Alexandre Farto, que personalidade ainda lhe falta erguer num dos famosos murais, o português de 34 anos hesita: “As coisas são simbólicas e vão evoluindo. Não sei bem dizer... Também represento muito os heróis anónimos”, conta ao CM

Com 20 anos de carreira, Vhils sabe bem do que fala: em junho de 2020, esculpiu os rostos de dez profissionais de saúde na porta de entrada do Hospital de São João, no Porto, como forma de “homenagem” a quem está na linha da frente no combate à pandemia que, tal como a outros artistas, lhe adiou e cancelou projetos, além de o obrigar a repensar a forma de trabalhar. “O confinamento foi muito duro, mas consegui organizar-me. Tentei manter também a sanidade mental. Sei que há muitas pessoas ainda a sofrer. Lidei como pude”, confidencia.

A forma como cria já galgou fronteiras há muito: Vhils tem trabalhos em cidades tão díspares como Moscovo, Bogotá, Rio de Janeiro ou Xangai. Uma projeção que o próprio atribui à formação que fez, na University of the Arts, em Londres: “As coisas foram acontecendo. Londres abriu-me ao Mundo e também conheci outros artistas que me ajudaram muito.”

Algumas das criações duram pouco tempo porque estão em paredes de prédios antigos, que acabam demolidos. Foi o que aconteceu na célebre obra de um rosto envelhecido, anónimo, que esteve quatro anos na parede da antiga fábrica da Sidul, junto à LX Factory, em Alcântara. Veio abaixo em 2018. “Tenho um apego pelas obras que faço, mas quando se trabalha no espaço público, a cidade evolui, altera-se. Como, aliás, cada um de nós”, justifica-se.

Apesar da crise, planos não lhe faltam: tem ainda em exibição a exposição individual ‘Haze’, nos Estados Unidos, já depois da mostra ‘Momentum’, que esteve numa galeria em Paris até ao Natal. A presidência de Portugal do Conselho da União Europeia também lhe traz desafios: o edifício Justus Lipsius, em Bruxelas, acolhe a instalação urbana ‘Commotion’, de 25 artistas, na qual Vhils é o curador.

Da Margem Sul do Tejo para o Mundo

Alexandre Farto nasceu há 34 anos no Seixal e, aos 13, já pintava muros e fazia ‘graffiti’ nos comboios da margem sul do Tejo. A rapidez do ato de transgressão levou-o a encurtar a assinatura até chegar ao nome artístico Vhils. Aos poucos, o estilo visual foi evoluindo para a ilustração, o desenho gráfico, até chegar à arte de esculpir rostos de grandes dimensões. Terminou a formação académica em Londres, em 2008, e, no ano seguinte, uma das suas obras apareceu ao lado de um trabalho do artista britânico Banksy, num festival em Londres. Com ateliê montado no Barreiro, tem obras em mais de 30 países. Em 2015, o então Presidente da República, Cavaco Silva, condecorou-o cavaleiro da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.

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