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Sempre admirei o Boavista

Jesualdo Ferreira confessa que deixou o Sporting de Braga com alguma tristeza, por se tratar de um grupo que ajudou a revitalizar. Mas agora a altura já é de pensar no novo desafio que se avizinha: o Boavista, por quem o experiente técnico assinou por duas temporadas.

10 de maio de 2006 às 00:00

Correio da Manhã – Confirma que já assinou, por dois anos, com o Boavista?

Jesualdo Ferreira – Confirmo, é verdade. Assinei hoje mesmo [ontem] pelo Boavista.

– O que o levou a aceitar?

– O Boavista é um clube que me agrada. É um clube muito interessante, que sempre admirei e muitas vezes referi como um exemplo a seguir por todos os outros. O Boavista provou que é possível ter sonhos e que eles podem ser concretizados.

– Com a actual equipa é possível lutar pelos primeiros lugares?

– É muito cedo para falar disso. Ainda só assinei hoje [ontem]. Falaremos desses aspectos noutra altura.

– Foi dispensado pelo Braga. Esperava esta decisão da SAD?

– Por acaso até estava à espera, e não me pergunte a razão. É uma questão de ‘feeling’. A partir de Janeiro/Fevereiro intui que a SAD não iria propor-me a continuação.

– Foi uma decisão justa?

– Olho para estas coisas com frieza e racionalidade. Um treinador é contratado para ganhar e os responsáveis podem tirar as conclusões que quiserem acerca do trabalho de um técnico. Neste caso, acredito e espero que tenham sido bem sustentadas.

– Claro que não é só isso. Embora não pareça, sou um homem de emoções. E apesar de não ter mágoa sinto tristeza por deixar um grupo que ajudei a revitalizar. E tenho sido alvo de manifestações de solidariedade. Sou sensível a esse carinho, sei que o mereço, mas partilho essas manifestações com com toda a equipa técnica, médica e SAD. Quando cheguei a Braga, apenas uma minoria era favorável à minha contratação. Tenho orgulho no facto de ter ajudado a criar o espírito braguista.

– Em Braga provou que é um dos melhores treinadores portugueses?

– Isto não é um ‘casting’ mas sei que sou competente e não o descobri agora. Sei isso há muitos anos.

– Acredita que deixa o Braga por não ter atingido a ‘Champions’?

– Acredito que possa ser uma razão. O nosso discurso foi sempre ambicioso. Mas ambição nem sempre é sinónimo de rendimento. Temos de lidar com jogadores com diferentes aptidões e competências. Pretendia-se continuar no caminho dos bons resultados e manter a política da venda de jogadores sem que isso influenciasse o rendimento da equipa. Mas, por vezes, os discursos que se fazem na cabina não saem cá para fora com a dimensão que lhes damos. E isso leva a que um caso de sucesso como o Braga seja tido, agora, como um caso de insucesso.

– A SAD do Braga pediu-lhe a Liga dos Campeões?

– No primeiro ano, com um Braga acabado de escapar à despromoção, dei a cara e disse que equipa iria lutar pelas competições europeias. Disse o mesmo no ano seguinte. Mas as classificações muito boas que fomos atingindo alteram a cabeça das pessoas. Nunca alteraram a minha porque sei que no caminho há sempre imponderáveis. As lesões que nos perseguiram e alguns casos de arbitragem estão nessa lista. E à medida que o desgaste vai avançando pode acontecer uma queda. O Sporting quebrou depois de perder com o Fc Porto e o Benfica também, depois do jogo com o Barcelona.

– Os jogadores do Braga não aguentaram a pressão...

– Não, pelo contrário. Eles foram além do seu estatuto e realidade. Mas todas as equipas têm oscilações. Nos últimos três anos, o Braga mostrou um grande equilíbrio Mas há contingências que atingem grandes equipas e grandes jogadores e é bom que em Portugal se comece a perceber isso. Mas dou de barato que não o percebam.

– Disse um dia que em Braga se estava a criar um monstro. A criatura comeu o criador?

– Não comeu, mas deu umas dentadas.

– Que espera do próximo Braga?

– Muito. Nestes três anos, o Braga passou de uma equipa próxima da descida de divisão a candidato ao título. O Braga tem hoje condições culturais fortes e os seus joagadores sabem que já não é fácil jogar ali. Por isso, quem for para lá só terá e só poderá fazer o Braga avançar. Penso que é essa a ideia da SAD.

– João Tomás merecia a Selecção?

– Enquanto não sair a convocatória, não falarei sobre isso. Depois de Scolari a divulgar – e se me perguntarem –, direi o que penso.

Iniciou a carreira de treinador em 1981, em Rio Maior, numa altura em que os licenciados em Educação Física – como ele – eram olhados de soslaio pelos técnicos sem formação académica. Assinou, ontem, pelo Boavista, depois de ter representado sete emblemas ao longo da já longa carreira. Entre outros clubes, passou pelo Benfica e pelo Far Rabat, tendo sido ainda ténico principal da selecção de Esperanças. Em três anos, levou o Sporting de Braga às competições europeias, colocando o clube no quarto lugar da tabela classificativa. Pelo meio, a equipa chegou a liderar a SuperLiga, como aconteceu na época que agora terminou, feito apenas partilhado com o FC Porto, campeão nacional. Mas a SAD bracarense dispensou os serviços do técnico. A menos de um mês de celebrar 60 anos, inicia, agora no Boavista, uma nova etapa da carreira. Jesualdo Ferreira nasceu em Mirandela a 6 de Junho de 1946.

A DANÇA DOS TREINADORES

Acabou a Liga e começaram de imediato as trocas de treinadores. Entre casos confirmados e outros em vias de o ser, já existem sete clubes a preparar trocas. Dois deles, V. Guimarães e Belenenses, já na Liga de Honra.

BENFICA

Sai: Ronald Koeman rumo ao PSV.

Entra: Carlos Queiroz e Sven-Goran Eriksson estão na lista de preferências do clube.

SP. BRAGA

Sai: A rescisão com Jesualdo Ferreira foi anunciada ainda antes da Liga acabar.

Entra: Carlos Carvalhal, sem treinar desde que deixou o Belenenses, será o sucessor.

NACIONAL

Sai: Apesar da qualificação para a Taça UEFA, Manuel Machado não vai renovar o contrato. Académica ou campeonato da Arábia Saudita podem ser o destino.

Entra: Carlos Brito, Jaime Pacheco e Vítor Pontes são possibilidades para o emblema insular.

BOAVISTA

Sai: Carlos Brito falhou a qualificação para a UEFA e rescindiu.

Entra: Jesualdo Ferreira é o preferido da SAD ‘axadrezada’.

VITÓRIA DE GUIMARÃES

Sai: Vítor Pontes não resiste à descida de divisão e vai mesmo sair.

Entra: O mais provável sucessor é Norton de Matos, que deverá acumular a função de treinador com a de director-técnico.

BELENENSES

Sai: José Couceiro anunciou o abandono do comando técnico logo após a descida à Honra.

Entra: Para já não são conhecidos candidatos ao lugar.

TÉCNICOS COM LUGAR CATIVO NA PRÓXIMA ÉPOCA

FC Porto: Co Adriaanse

Sporting: Paulo Bento

V. Setúbal: Hélio Sousa

U. Leiria: Jorge Jesus

Marítimo: Ulisses Morais

E. Amadora: Toni

P. Ferreira: José Mota

Gil Vicente: Paulo Alves

Naval: Rogério Gonçalves

Aves: Neca

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