Que Tim Burton é um génio, já toda a gente sabe. Que vive num mundo de fantasia, também. Que se comporta como uma criança grande, a viver mil e uma aventuras nos contos que transporta para o grande ecrã, tem sido várias vezes sublinhado. Que tem em Johnny Depp o seu actor fetiche, é por demais conhecido.
Por tudo isto, ‘A Noiva Cadáver’ nem deveria ser notícia, tais os hábitos criados pelo realizador norte-americano. Nada mais errado. Cada obra que lança nas salas tem o condão de surpreender, mesmo quando carrega os tiques que fizeram dele um dos mais importantes cineastas da actualidade.
Está lá a voz de Depp, a viagem pelos ambientes góticos, a história de amor quase impossível, a banda sonora de Danny Elfman. E está, acima de tudo, a mente delirante de um adulto que vive num sonho permanente, seja ele composto por uma figura tímida com tesouras no lugar das mãos, um temível cavaleiro sem cabeça pronto a espalhar o pânico ou um grupo de extraterrestres que não conseguem matar Tom Jones.
‘A Noiva Cadáver’ ocupa apenas um pedacinho desse cérebro meio destrambelhado. E que pedacinho: precisamente aquele onde em 1993 encontrou inspiração para criar ‘O Estranho Mundo de Jack’, no qual trocou a realização pelo papel de produtor.
A insuspeita revista norte-americana ‘Time’ considera ambos demasiado iguais, não vendo com bons olhos este novo casamento. O realizador defende-se: “A diferença é que no primeiro desenhei tudo completamente, fazia tudo sentido na minha cabeça. Este foi mais orgânico porque é baseado num antigo conto popular. Eu e o Mike Johnson (co-realizador) mudámos a história um pouco e sinto que nos completámos muito bem.”
COMPARAÇÕES À PARTE, Tim Burton aposta uma vez mais nos bonecos para contar a história, desta feita de um casal que na véspera de subir ao altar sente a vida andar para trás. Tudo porque ele, Victor Van Dort, falha no treino para os votos de união eterna e, trapalhão, acaba mesmo por queimar o vestido à futura sogra. Pior era impossível. Humilhado perante os familiares da mulher com quem está prestes a dar o nó, aristocratas falidos, sequiosos do dinheiro amealhado pelos seus pais no negócio do peixe, decide ir para o bosque treinar as deixas pré-enlace.
É lá, com a cantilena estudada, que espeta a reluzente aliança num arbusto, nada menos do que um dedo da noiva cadáver, acordada do sono eterno dando graças por ter encontrado marido. Atónito e amedrontado com a asneira, Victor é levado para o mundo dos mortos, onde vive um pesadelo longe da mulher que deveria ser sua um dia depois.
Na cidade ninguém sabe dele. Victoria desespera pelo rapaz tímido que desapareceu sem deixar rasto. Os pais dela dizem mal da vida, incomodados com o que a população poderá dizer. Após algumas tropelias e muita música à mistura, Victor consegue regressar, casado com o ‘zombie’ que não o larga nem por um segundo. Muitas surpresas acontecem a partir desse momento.
‘A NOIVA CADÁVER’ representa o regresso de Tim Burton aos ambientes sombrios depois de uma fase em que os contos eram maquilhados de cor-de-rosa. Em entrevista à BBC aquando do lançamento de ‘Charlie e a Fábrica de Chocolate’, o realizador dizia estar a passar por um período suave, brincando com a situação: “É de ver os Teletubbies e os Wiggles. Tenho agora uma visão muito mais doce. Sou uma pessoa feliz!”
O homem que em miúdo já gostava de filmes sobre monstros aposta uma vez mais na morte como tema central, segundo ele um reflexo da infância em Burbank, pequena localidade da América profunda, junto à fronteira com o México, país onde o tema é celebrado com humor e alegria.
Johnny Depp tem partilhado tão sombria quanto maravilhosa faceta, que regista em ‘A Noiva Cadáver’ novo episódio. A comunhão entre realizador e actor é perfeita, mesmo quando o esforço se revela sobre-humano. “Trabalhar com o Tim é como chegar a casa. É aquele lugar muito confortável, mesmo sabendo que à partida têm de ser considerados muitos riscos, e que temos de estar bem preparados para explorar a personagem.”
HISTÓRIAS DO MUNDO DAS TREVAS
'BEETLE JUICE'
Barbara e Adam sofrem um acidente de viação, morrem e tornam-se fantasmas. Ainda assim, o casal volta a habitar a casa de campo de New England, e quando esta é vendida começa a tentar aterrorizar os novos proprietários.
'BATMAN'
Corria o ano de 1989 quando Michael Keaton vestiu pela primeira vez a pele do homem-morcego, catapultando-o para o estrelato. Tim Burton foi o responsável pelo feito, ao adaptar de forma sublime as aventuras do super-herói.
'EDUARDO MÃOS DE TESOURA'
Provavelmente o melhor conto de fadas realizado nas últimas décadas, ‘Eduardo Mãos de Tesoura’ marcou o início da relação profissional entre Johnny Depp e Burton, que ainda hoje se mantém. Um filme imprescindível.
'A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA'
Adaptação de um conto clássico sobre as desventuras de um polícia nova-iorquino que em 1799 chega a Sleepy Hollow para resolver uma série de crimes macabros. E que acaba por descobrir a estranha história do assassino.
MULHER SEM PRIVILÉGIOS
O facto de viver com Tim Burton não traz qualquer privilégio a Helena Bonham Carter. A actriz inglesa tem créditos firmados na Meca do Cinema, participou em filmes como ‘Clube de Combate’, ao lado de Brad Pitt e Edward Norton, e em ‘Frankenstein’, mas tal não lhe dá um estatuto especial quando trabalha com o companheiro – como aconteceu em ‘O Planeta dos Macacos’ e ‘O Grande Peixe’.
Prova disso, Burton fê-la esperar ansiosamente durante duas longas semanas antes de lhe anunciar o resultado da audição para ‘A Noiva Cadáver’. “Ela é actriz e creio que fez disso algo dramático. Houve provavelmente um bocadinho de tortura no processo, até porque fui mais duro com ela. Nenhum outro elemento do elenco teve de fazer a audição, é verdade, mas ela é porreira”, diz o realizador antes de esclarecer: “Não teria qualquer problema em não a escolher para um filme meu, como não o teria com o Johnny (Depp), só por gostar de vê-los actuar. Temos sempre de tentar fazer o melhor, com o elenco certo, e creio que a Helena entende isso.”
Género: Animação.
Realização: Tim Burton.
Actores: Johnny Depp, Helena Bonham Carter e Emily Watson.
Classificação: 4/5.
Segue a par e passo a carreira de Tim Burton atrás das câmaras, é fã do cinema de animação em que as histórias fazem as delícias tanto de miúdos como de graúdos.
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