Se guiar um ‘Laputa’, um ‘Ascona’ ou um ‘Pajero’, prepare-se, porque pode ser alvo de piadas. Há nomes de automóveis que deixam marcas terríveis
Os construtores automóveis nipónicos estão a dar cabo de anos de diplomacia entre o Japão e a Espanha. As ‘gaffes’ começaram quando a Mitsubishi lançou o jipe ‘Pajero’ no mercado espanhol. ‘Nuestros hermanos’ nem queriam acreditar quando olhavam para os ‘stands’ e se deparavam com aquele veículo ‘que se masturbava muito’ (é este o sinónimo da palavra ‘Pajero’ na língua castelhana).
A marca nipónica ainda tentou emendar a mão, lançando ousadas campanhas publicitárias: “Ponha um Pajero na sua vida, ele dura mais”, podia ler-se nos ‘outdoors’ espalhados pelas ‘auto-pistas’ entre Madrid e Barcelona. Os condutores bem se riam das entrelinhas mas a piada não poderia durar eternamente num país com largas tradições católicas. A Mitsubishi acabou por alterar o nome do seu todo-o-terreno. Os espanhóis passaram a ter direito não a um potente ‘Pajero’, mas a um anódino ‘Montero’.
‘Pensar global, agir local’, poderia ser o lema da Mitsubishi, que nos países anglo-saxónicos, apelidou esse mesmo jipe de ‘Shogun’. Um epíteto a fazer lembrar um qualquer filme de artes marciais de Bruce Lee.
Mais recentemente, foi a vez da Mazda deixar os empresários de toda a Espanha e América Latina a gaguejar, com o aparecimento do novo modelo, o ‘Laputa’. La… quê? Os revendedores chilenos queixaram-se da dificuldade em promover um carro com um nome tão ‘sui generis’ mas a Mazda já avisou que não altera uma vírgula. Refira-se que ‘Laputa’ no Japão não é uma grandessíssima asneira mas o nome de uma cidade. Neste momento, vendedores e criativos latinos devem estar a magicar em como convencer as condutoras a comprar o ‘Laputa’ sem as ofender.
A Nissan é outra das marcas oriundas do país do ‘Sol Nascente’ que está a causar polémica. Após uma campanha em redor do moderno e veloz ‘Moco’ – um nome que provém da expressão nipónica ‘moco-moco’, que significa ‘quente e querido’ – os japoneses descobriram, tardiamente, que ‘moco’ quer dizer… ranho, em castelhano. Era preciso ter azar…
CARROS E PENSOS HIGIÉNICOS
Numa época de mercados globais, a escolha do nome de um automóvel passou a ser um acto quase científico. “Fazem-se aturadas pesquisas de marketing e estudos fonéticos em computador para gerar palavras que funcionem em todas as línguas do globo”, explica Rui Faria, editor da revista ‘Auto-Motor’. Mas nem assim se evitam constrangimentos regionais ou mal-entendidos locais. “É que há nomes perigosos”, ironiza o mesmo responsável.
O jornalista recorda-se de um episódio caricato. “Um dia, quase choquei num supermercado com os responsáveis de marketing da Nissan. Eles enchiam o carrinho de compras com pensos higiénicos”, conta. Só mais tarde soube a razão de tal compulsão. “Iam enviar aqueles produtos de higiene feminina para a representante da Nissan em Espanha, e explicar-lhes que ‘Serena’, o nome do mono-volume que iam lançar no nosso mercado, era o mesmo de uma das marcas de pensos mais famosas da altura.” Mas a Nissan não se comoveu e não houve qualquer mudança gramatical ou fonética. “Por coincidência, ou não, o ‘Serena’ teve um volume de vendas pouco elevado”, recorda.
Houve um outro modelo que, há algumas décadas atrás, causou algum mal-estar na Nação. Estamos a falar do Opel Ascona, nome que ainda perdura no imaginário colectivo. “Ninguém podia dizer ‘Ascona’ em voz alta”, recorda o editor da ‘Auto-Motor’. A palavra descambava numa asneira feia, um pecado quase mortal, num país que vivia sob uma ditadura que não tolerava os trocadilhos picantes. “O cinzentismo era tal que chegaram a alterar o nome do sabonete ‘Rexona’ para ‘Rexina’. Não fosse alguém fazer uma piada fácil”, ironiza.
‘TOUAREG’ FUNDAMENTALISTA
Para evitar azares como estes, o ideal seria as marcas alterarem a nomenclatura consoante o mercado a que se destinam. “Teoricamente, seria a solução perfeita, mas tornar-se-ia bastante oneroso para elas”, sustenta Rui Faria.
Só a mudança de logotipo e as diferentes perfurações na carroçaria, multiplicadas pelos milhares de modelos fabricados em série, tornar-se-iam numa dor de cabeça, mesmo para multinacionais como a Mitsubishi, Mazda, Opel, ou Daewoo – marca que irá lançar em breve o ‘Kalos’, um nome não muito apelativo para os consumidores portugueses.
Em pior situação parece estar a Volkswagen. O conglomerado alemão aposta tudo no ‘Touareg’, um todo-o-terreno topo de gama. “Com uma campanha publicitária gigantesca, um dos grandes pretextos do ‘Touareg’ é relançar a Volkswagen no apetecível e sobrelotado mercado norte-americano”, explica o especialista em automóveis.
Só que os germânicos parecem não estar atentos aos noticiários desde o 11 de Setembro. “É um nome politicamente incorrecto. Para os americanos, ‘Touareg’ é simplesmente algo ligado ao imaginário árabe, aos seus inimigos.” Irão os conterrâneos de George W. Bush ultrapassar os seus preconceitos enquanto os seus filhos morrem na guerra do Iraque?
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