Filho do maior narcotraficante da História lança livro de memórias.
"Quero que o meu filho saiba a verdade: que o avô foi o maior bandido do século XX, mas também que foi um pai extremoso, com quem aprendi o valor da família e de que vale a pena lutar pelos afetos."
As palavras são de Juan Pablo Escobar, filho do narcotraficante mais famoso da História e que em 2009 comoveu o Mundo com o documentário ‘Sins of my Father’ (‘Pecados do meu Pai’, em tradução literal). No filme, pedia perdão aos filhos das vítimas que Escobar semeou durante o seu reinado de terror. Cinco anos depois, Juan Pablo – que entretanto mudou de identidade [o novo nome, escolhido pela lista telefónica, é Sebastián Marroquín], volta a ser notícia. Desta feita, por causa do livro biográfico ‘Pablo Escobar – O Meu Pai’, best-seller na América Latina e que acaba de chegar ao mercado português pela mão da Planeta.
Em pouco mais de 400 páginas, o autor recorda a ascensão e queda do grande barão da droga, revela as cicatrizes profundas que a infância e juventude lhe deixaram e descreve os esforços da família para conseguir sobreviver depois da morte de Escobar e de reconstruir a vida no estrangeiro.Ele, que chegou a ter a cabeça a prémio na Colômbia [os narcotraficantes rivais do pai temiam que retomasse as suas atividades e lhe tentasse vingar a morte], foi forçado a entregar a fortuna para conseguir sair vivo do país natal.
Na altura sentiu-se roubado. Hoje pensa de forma diferente. "Sinto-me mais rico agora do que quando era milionário", garante à ‘Domingo’. "Porque sou um homem livre e nem todo o dinheiro do mundo nos compra a liberdade. Agradeço àqueles que me tiraram tudo: foi um favor que me fizeram, a mim e à minha família. Já não temos de andar com aquele peso às costas."
O paladino da paz e da reconciliação, que entretanto se casou, licenciou-se em Arquitetura e criou uma marca de roupa com imagens de Pablo Escobar [cujos lucros promete dividir com as vítimas do pai e instituições de caridade], teve entretanto um filho. Que, aos dois anos, já beija a foto do avô. "Ainda é cedo para lhe contar tudo, mas quero que tenha consciência da história familiar. Para que nunca a repita. É a minha responsabilidade enquanto pai", diz Juan Pablo.
         DE POBRE A MILIONÁRIO
De origens humildes [o pai era agricultor e a mãe professora primária], um Pablo Escobar muito jovem disse que, caso não tivesse um milhão de pesos aos 30 anos, se suicidaria. Pequeno delinquente, começou por falsificar diplomas de habilitações (que depois vendia aos estudantes), roubou lápides nos cemitérios, bilheteiras dos teatros e automóveis até conhecer um contrabandista conhecido por ‘El Padrino’, que lhe indicou o caminho do dinheiro fácil.
Escobar foi pioneiro no tráfico de cocaína numa altura em que o mundo não tinha despertado para o flagelo. No livro, Juan Pablo escreve: "A ingenuidade das autoridades desse tempo facilitou o trabalho (...). Nessa época não havia raio-x nos aeroportos, nem cães antidroga, nem agentes, nem revistas exaustivas. Bastava uma simples mala com fundo duplo para entregar muita droga sem se correr o risco de se ser detetado."
O negócio crescia de tal forma que toda a Medellín cercava Escobar: engraxadores, ciclistas, jornalistas, empresários, políticos e polícias faziam fila à porta do traficante para tirarem a sua fatia. E assim, aos 26 anos, em vez do milhão de pesos desejados (373 mil euros), Pablo Escobar abriu uma conta de três milhões de euros no Banco Industrial Colombiano.
Na mesma idade casou-se com uma jovem de 15 anos, de quem viria a ter dois filhos: Juan Pablo (nascido a 24 de fevereiro de 1977) e Manuela (nascida em 1984). E pôs a família a viver no luxo. Na Herdade Nápoles, uma das excentricidades de Escobar, havia 27 lagos artificiais, três jardins zoológicos, a maior pista de motocrosse da América Latina, um parque jurássico com dinossauros à escala real, dois heliportos e uma pista de aviação com mil metros de extensão.
Mas Juan Pablo revela também que o pai usou muito do dinheiro da droga para construir prédios para os mais pobres e inúmeros centros desportivos. Ironicamente, não queria que os jovens colombianos caíssem no vício das drogas. Ele, que gostava de fumar o seu charro de marijuana, nunca se encantou com as substâncias mais pesadas e o filho diz que só o viu bêbedo uma vez.
MORTE POR SUICÍDIO
Em guerra aberta contra as autoridades, que pretendiam julgá-lo e entregá-lo à justiça norte-americana, Escobar acabaria por provocar muitas mortes na Colômbia. Todo aquele que se atravessasse no seu caminho – incluindo ministros, juízes, jornalistas e um sem-número de polícias – tornava-se um alvo a abater.Juan Pablo diz que o pai ainda teve uma oportunidade de ouro para mudar de vida, em 1991, quando lhe propuseram uma pena de cadeia (na prisão La Catedral, que ele próprio havia construído), em troca da confissão dos crimes. Mas até isso falhou, já que continuou a gerir o narcotráfico atrás das grades. "Nessa altura pedi-lhe para deixar a violência, para dar um novo rumo à sua vida, para se reinventar. Mas não quis. Se o tivesse feito, hoje, provavelmente, ainda estaria vivo."
Pablo Escobar morreu um dia após completar os 44 anos, depois de estar muito tempo ao telefone, a falar com o filho. A chamada foi localizada e ele acabaria cercado por um grupo inimigo. Foi atingido com três tiros, mas Juan Pablo jura que a bala fatal, aquela que realmente lhe tirou a vida, disparada no ouvido, foi o próprio Escobar que a disparou.
"Ninguém me contradisse até agora, nem vai contradizer", garante. "Tenho a certeza absoluta de que o meu pai se suicidou, não só porque mo disse durante toda a vida – que se mataria caso estivesse em risco de ser apanhado – como mo confirmaram os médicos legistas." Segundo Juan Pablo, na altura essa não foi a versão oficial, porque "teria sido mais uma batalha perdida contra Pablo Escobar".
E agora? A viver em Buenos Aires, Argentina, com a família, Sebastián Marroquín, de 38 anos, espera ver o dia em que seja reconhecido por si próprio e não por ser filho de quem é. E continuará a contar a sua história. "O meu testemunho pode dissuadir os jovens a envolverem-se nas drogas e no narcotráfico."
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