Desde 1992 foram registados 48 ataques de tubarões nas praias do Recife, no Brasil, e 16 pessoas morreram. Apesar de não se verificarem ataques há quase um ano, as medidas de segurança continuam em vigor neste que é um dos destinos de férias preferidos dos portugueses.
Wagner da Silva, de 25 anos, estava com os tios na praia de Boa Viagem, no Recife, no nordeste do Brasil. Resolveram entrar no mar e passaram a barreira de corais que se estende em frente à cidade. Estavam os três com água pela cintura quando o jovem sentiu uma pancada forte por trás. Já no hospital, Wagner disse que soubera logo que era um tubarão. O ataque resultou em fracturas ósseas nas duas mãos e perda de tecido muscular na perna direita.
Este foi o mais recente caso de ataque de tubarão verificado nas praias da região metropolitana do Recife, a capital do estado de Pernambuco. Aconteceu em Agosto do ano passado mas, de acordo com dados oficiais, desde 1992, data em que se verificou a primeira ocorrência, já houve 48 ataques com 16 mortes.
O turista desavisado que se passeia pelo bonito ‘calçadão’ das praias de Boa Viagem e Piedade, levará um susto ao reparar nas placas colocadas a cada 200 metros: ‘Perigo - Área Sujeita a Ataque de Tubarão’. Para a maior parte das pessoas isto é o suficiente para optar por banhos de sol na areia. Mas não para todos. Basta uma caminhada junto à praia para comprovar que muita gente não abdica dos banhos de mar.
Apesar de decorridos mais de 10 anos sobre o primeiro ataque, só recentemente as autoridades se ocuparam mais seriamente da questão. “Como os primeiros ataques foram a surfistas e bodyboarders, pensava-se que apenas este ‘grupo de risco’ estava sujeito. As autoridades públicas, incluindo bombeiros e o Instituto de Medicina Legal, tratavam os banhistas atacados como se de afogamento se tratasse. Foi preciso mais de um ano para que o óbvio fosse aceite”, conta o jornalista e surfista, Arnaud Mattoso.
Enquanto os mais radicais defendiam o extermínio dos tubarões e a devolução das praias à população, as autoridades apostaram numa acção mais didáctica.
As campanhas de informação nas praias, aliadas à fiscalização de bombeiros e salva-vidas têm sido as medidas mais visíveis. As autoridades contam ainda com o efeito dissuasivo das placas de advertência de perigo de tubarões. “As placas foram colocadas há mais de 10 anos, mas eram poucas e ineficientes. Sempre houve o receio de prejudicar o turismo. Só no ano passado é que mudaram as placas, aumentando-as e usando uma mensagem mais directa sobre a possibilidade de ataques”, lembra o jornalista que tem acompanhado os factos desde o início.
Apesar dos avisos dispostos na orla da praia, sempre há quem se aventure na água. Isso mesmo confirma Arnaud: “Existem trechos perigosos, como as fendas entre os recifes de corais. Esses locais, aliados à maré cheia em final de tarde ou início da manhã e nas luas cheia e nova são potencialmente arriscadas. Mas uma pessoa bem informada, tomando as precauções necessárias, pode se banhar sem problema. Eu mesmo moro bem perto do mar de Boa Viagem e tomo banho com frequência.”
Em 1995 foi instituída a proibição de desportos náuticos e de nadar depois da rebentação numa área de cerca de 35 quilómetros, entre o Porto do Recife e o Porto do Suape (ao sul). A pouca distância mais para sul fica o mais importante centro turístico de Pernambuco, a praia de Porto de Galinhas, onde não existe registo de ataques.
“Hoje em dia acho que já ninguém ‘surfa’ em frente à cidade do Recife. Durante algum tempo depois da proibição algumas pessoas continuaram a ‘surfar’, mesmo depois de vários ataques. Tenho a impressão que quando um surfista, o Charles, foi atacado e o tubarão levou as suas duas mãos, todos finalmente ficaram convencidos do perigo”, relata Gabriel Gomes Júnior, 38 anos, surfista e engenheiro de pesca.
Com o aumento da frequência dos ataques no ano passado (registaram-se cinco ocorrências) foi criado o Comité Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (CEMIT). O objectivo deste grupo é estudar os ciclos biológicos, hábitos alimentares e movimentos migratórios dos tubarões. Foram identificadas duas espécies no Recife consideradas perigosas para o homem: o tubarão cabeça-chata e o tubarão tigre.
O CEMIT tem vindo a analisar os factores ambientais que podem ter relação com os ataques, como a temperatura e salinidade da água, as condições atmosféricas e mesmo os ciclos da lua.
Já este ano, foi encerrado um matadouro cujos resíduos eram despejados directamente no rio Jaboatão, que desagua naquela área. Para Fábio Hazin, coordenador do CEMIT, “não há dúvidas de que os despejos constituíam um factor importante no contexto dos ataques.”
A construção do Porto de Suape, que mudou a configuração do estuário dos rios Ipojuca e Merepe, é apontada pelos especialistas como o motivo da migração dos tubarões para mais perto da costa, na zona do Recife. Durante as obras do porto foram destruídos 600 hectares de mangues e isso afectou o ecossistema de tal forma que os animais ficaram sem alimento disponível e sem local para procriar.
O Recife tem a mais alta taxa de fatalidade em consequência de ataques de tubarões do Mundo. As estatísticas mostram que na Flórida, entre 1990 e 2003, houve 311 ataques com 3 mortes, em comparação com 39 ataques e 13 mortes no litoral pernambucano durante o mesmo período. A explicação para esta discrepância de números está, na opinião do biólogo marinho Marcelo Szpilman, “na agilidade do resgate e no eficiente atendimento de primeiros-socorros. O que significa dizer, disponibilidade de recursos e de infra-estrutura, onde reside a diferença entre os países do primeiro mundo e os países pobres.”
Embora o turismo seja a área potencialmente mais sensível aos ataques de tubarões, Arnaud Mattoso acha que isto não faz com que os turistas deixem de visitar o Recife. “Podem deixar de tomar banho, isso sim. Mas acho que a violência urbana é mais prejudicial do que o tubarão, que também é vítima e não o vilão.”
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