A comissária Ana Neri, comandante operacional da Divisão da PSP da Amadora e da Esquadra de Investigação Criminal (EIC), está a ser investigada pela Polícia Judiciária por uso indevido de droga apreendida.
É suspeita do desvio de cocaína, heroína e haxixe em operações, com o objectivo de fabricar provas contra suspeitos de tráfico.
As investigações foram desencadeadas por denúncias da própria divisão – e visam também a chefe Elisabete e a agente principal Sandra. Os testemunhos policiais em operações de combate ao tráfico, na Amadora, chegaram, já no início deste ano, ao subcomissário Bruno Alves e ao subchefe Pedro Magrinho, ambos da EIC.
Os dois responsáveis da PSP da Amadora participaram o caso ao Ministério Público, mas, “inexplicavelmente”, tanto um como outro acabaram, durante a última semana, afastados pela PSP da EIC, adianta ao CM fonte policial.
Pedro Magrinho foi transferido para a esquadra da Mina, enquanto o subcomissário Alves, até agora com funções de comando na Amadora, “ainda nem sabe onde o vão colocar”. E quanto às suspeitas, Elisabete já foi transferida para a esquadra da Damaia e tanto a comandante Neri como a agente principal Sandra “encontram-se de férias”.
Ana Neri saiu há dois da 2.ª divisão da PSP de Lisboa, nos Olivais, e chegou à divisão da Amadora já como comandante operacional. Tinha a responsabilidade directa na investigação criminal – e “dividiu as equipas da EIC à sua maneira”.
Elisabete e Sandra já tinham trabalhado com Neri nos Olivais e estavam agora requisitadas para o combate à droga na Amadora. A chefe Elisabete coordenava agora as brigadas antidroga na Amadora.
Em Setembro do ano passado, “vários elementos saíram descontentes com a forma como actuava o novo comando”, todos com o curso de investigação criminal – “e limitam-se agora a fazer patrulhamento normal”.
As três polícias estão sob suspeita de tentarem salvar as investigações de tráfico menos conseguidas. Em casos de apreensões de cocaína, heroína ou haxixe retirariam parte, “que escondiam em local seguro, e entregavam apenas o resto para análise e mais tarde ao tribunal”. A droga desviada serviria para incriminarem suspeitos de tráfico.
O caso está agora a ser investigado na 1.ª secção do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, sob a coordenação do procurador Manuel Gonçalves.
PSP CONFIRMA PROCESSO
A Direcção Nacional (DN) da PSP, depois de solicitado ontem um pedido de esclarecimento por parte do CM, confirmou ao final da tarde que “a situação referida encontra-se a ser investigada no DIAP de Lisboa”, para onde a PSP “remeteu o inquérito”. Responde ainda o gabinete de Comunicação e Relações Públicas da DN que a PSP vai agora “colaborar com o Ministério Público em todas as diligências solicitadas”.
CRIMINALIDADE VIOLENTA
A EIC da Amadora abrange uma área que corresponde à totalidade do concelho e ainda boa parte do de Sintra (Queluz, Massamá, Monte Abraão e Agualva- -Cacém), num total de cerca de 800 mil residentes. São zonas suburbanas onde ocorre a maior fatia da criminalidade violenta registada na Grande Lisboa. Para tal contribuem os bairros degradados, alvo de constante vigilância da EIC, existentes na Amadora.
PERGUNTAS & RESPOSTAS
-A comissária Neri, a chefe Elisabete e a agente Sandra podem ser acusadas pelo Ministério Público de que crimes?
- As três suspeitas poderão ter de responder em tribunal por denúncia caluniosa ao prejudicarem terceiros; peculato, por se apropriarem de provas dos processos; e até por tráfico, se houver indícios da venda de droga.
- Quais são as penas que estão previstas para esses crimes no Código Penal?
- O crime de peculato está previsto no Código Penal com penas de um a oito anos de prisão; a denúncia caluniosa pode implicar cadeia até dois anos; e, em caso de tráfico de droga, incorrem em penas até aos 12 anos.
- Além do processo crime, as arguidas arriscam procedimento disciplinar?
- O processo disciplinar pode ficar suspenso na PSP aguardando o desenrolar do processo-crime, mas, em caso de existirem fortes indícios da prática dos crimes, a Direcção Nacional pode decidir-se pela suspensão de funções.
- Caso os suspeitos sejam condenados com falsas provas, as penas são anuladas?
- O processo de revisão de sentenças é obrigatório, mas não terá desta vez lugar na primeira instância. Será o Supremo Tribunal de Justiça a reapreciar caso a caso, com carácter de urgência em casos de prisão efectiva.
"MAU AMBIENTE" EM TODA A DIVISÃO
Desde Setembro que o ambiente na Divisão da Amadora, especialmente na Esquadra de Investigação Criminal, anda “mau”. A razão apontada são as mudanças realizadas nas brigadas, algumas das quais trabalhavam juntas há anos e foram desmanteladas pela comissária Neri.
A situação levou mesmo a que uma dezena de agentes da EIC tivesse pedido, por iniciativa própria, transferência e esteja agora a “guardar portas e fazer patrulhamentos normais”, perdendo-se as capacidades ganhas durante os vários anos que realizaram investigação criminal.
“São homens com vários louvores e que nunca tiveram um processo disciplinar. Incompatibilizaram-se com a comissária e preferiram sair. Quem perde é a população”, disse ao CM fonte policial. Foram substituídos, na maioria, por elementos sem formação de investigação criminal.
Entre os elementos que saíram estão os operacionais que localizaram e seguiram durante vários dias o perigoso criminoso Celé, que viria a ser abatido pelo Grupo de Operações Especiais.
“Mexeram na EIC que tinha sob controlo a área mais perigosa do País [bairros da Amadora]”, lamentam as fontes.
FLAGRANTE
Depois de testemunhas apanharem outros polícias a esconder droga no final de operações, deram conta ao sub-comissário Alves e ao subchefe Magrinho, que levaram o caso aos superiores.
INVESTIGAÇÃO
Dário Prates, comandante da Divisão de Investigação Criminal da PSP de Lisboa, e Oliveira Pereira, comandante de Lisboa, remeteram a queixa para o Ministério Público, através da 1.ª secção do DIAP.
DISCIPLINA
A Direcção Nacional da PSP não responde ao CM se, a par do processo-crime movido pelo Ministério Público às três polícias, foi aberto um processo disciplinar interno para apurar responsabilidades.
POLÉMICA
A saída da comissária Neri da investigação criminal na 2.º divisão da PSP, nos Olivais, ficou envolta em polémica por uma operação de apreensão de droga em que foram detidos quatro agentes da PSP.
CRIME IGUAL
Os quatro polícias detidos em 2002 pela equipa coordenada por Ana Neri, curiosamente, acabaram condenados, entre outros crimes, por apropriação indevida de haxixe apanhado em acções de rua.
A EIC da Amadora tem cerca de 40 elementos. Nos últimos dois anos teve quatro comandantes. Alguns saíram incompatibilizados
A EIC da Amadora foi uma vez nomeada a melhor Esquadra de Investigação Criminal do País e outras três a melhor de Lisboa
ORGANIGRAMA DA ESQUADRA DA AMADORA
A hierarquia na investigação criminal da PSP da Amadora antes de rebentar o escândalo.
ANTÓNIO MANUEL PEREIRA - Comandante da divisão
COMISSÁRIA NERI – Comandante operacional
SUBCOMISSÁRIO ALVES – Comandante E.I.C. (Agente da Esquadra de Investigação Criminal)
CHEFE ELISABETE – Coordenadora droga (Agente da Esquadra de Investigação Criminal)
CHEFE MAGRINHO – Coordenador património (Agente da Esquadra de Investigação Criminal)
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