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ONG portuguesas dizem que COP30 "falhou o essencial"

Texto tem ainda de ser aprovado por consenso na sessão de encerramento.

22 de novembro de 2025 às 21:19

Três associações portuguesas que acompanharam os trabalhos da COP30 em Belém, Brasil, consideram que a conferência do clima "falhou o essencial" ao não traçar um "roteiro imediato e claro para o abandono urgente" dos combustíveis fósseis.

"O documento principal da COP30, o chamado 'Mutirão', (...) revelou fragilidades significativas, falhando completamente num elemento essencial que seria traçar um roteiro para o abandono dos combustíveis fósseis", escrevem em comunicado as associações Zero, Oikos e FEC -- Fundação Fé e Cooperação.

Em declarações à Lusa na COP30, o presidente da Zero, Francisco Ferreira, disse que haver um documento final aprovado é "obviamente positivo", porque uma COP sem um acordo "seria dar razão a países como os Estados Unidos, onde estes processos multilaterais e o próprio tema das alterações climáticas estão numa agenda contrária".

O ambientalista considerou também positiva a aprovação de um documento para apoiar a transição justa de uma economia baseada nos combustíveis fósseis para uma economia baseada nas renováveis, protegendo os trabalhadores que são afetados por essa mudança e defendendo financiamento para esse fim.

Aplaudiu ainda o objetivo de triplicar o financiamento para a adaptação, no quadro do fundo de adaptação, de 40 mil milhões para 120 mil milhões, até 2035.

No entanto, alertou que, "naquilo que é essencial", a redução das emissões de gases com efeito de estufa à escala global, o balanço não é bom; "Aí falhámos redondamente", disse.

"Há dois anos traçámos este objetivo na conferência no Dubai e agora era expectável termos um roteiro com objetivos, com uma aceleração" na redução do uso desses combustíveis.

Apesar de o presidente da COP30 ter prometido avançar nesse processo até à próxima COP, no próximo ano na Turquia, Francisco Ferreira sublinhou que "isso não está espelhado em nenhum documento da convenção, nomeadamente no documento principal, no Mutirão", o que é "um falhanço muito significativo".

No seu comunicado conjunto, as três associações dizem que a falta desse plano de ação "é uma submissão política aos interesses dos países produtores de petróleo, em particular da Arábia Saudita, ou dos que continuam a assumir que ainda precisam de muita energia proveniente do carvão, petróleo e gás natural fóssil".

Outro "falhanço grande" é não haver "ambição suficiente" para se passar para uma trajetória mais próxima do objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5ºC face aos valores pré-industriais, mantendo uma trajetória de 2,5 graus.

"Nós vemos as consequências das alterações climáticas no nosso país e em todo o mundo, sabemos que estamos numa situação de emergência. Sabíamos que seria muito complicado termos aqui resultados fantásticos, mas esperávamos mais", lamentou Francisco Ferreira.

José Luís Monteiro, da OIKOS, disse à Lusa sair da COP30 com "um sentimento de traição profunda" que já vem de conferências do clima anteriores.

"É mais um ano em que dizemos que vamos fazer as coisas no próximo ano", lamentou o ativista, admitindo como positivo que tenha havido "algum compromisso em relação à transição" e o aumento do financiamento à adaptação.

Os países reunidos na COP30, em Belém do Pará, no Brasil, aprovaram, este sábado, o projeto final de acordo sem menção às energias fósseis e querem ver triplicado o financiamento para a adaptação climática dos países em desenvolvimento.

Segundo o texto, este sábado, publicado, o projeto final do acordo entre os cerca de 200 países na conferência climática da ONU, no Brasil, não contém nenhuma menção explícita às energias fósseis, contrariamente às solicitações de muitos Estados, incluindo os países europeus.

O texto, que tem ainda de ser aprovado por consenso na sessão de encerramento que decorrerá ainda, este sábado, em Belém, apela à triplicação do financiamento para a adaptação climática dos países em desenvolvimento nos próximos 10 anos.

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