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Exigências, mudanças de rumo e pressões: cessar-fogo em Gaza foi acordado nos últimos minutos

Tréguas do conflito no Médio Oriente entraram em vigor nas primeiras horas da manhã deste domingo.

19 de janeiro de 2025 às 00:28

O acordo de paz entre Israel e o Hamas, entrou em vigor nas primeiras horas da manhã deste domingo. A votação final por parte do governo israelita foi esta sexta-feira anunciada. Numa primeira fase, serão libertados 33 reféns às mãos do Hamas e, em troca, 737 prisioneiros palestinianos. 

As negociações do cessar-fogo arrastavam-se há meses. Envolvidas nas mesmas estiveram intermediários do Qatar, Egito e Estados Unidos da América, mas a esperança de tréguas do Conflito que devasta o Médio Oriente há mais de um ano - desde outubro de 2023 - parecia desvanecer-se. Até que, 2025 trouxe a luz ao 'fundo do túnel'. 

“Literalmente, as negociações decorreram até 10 minutos antes da conferência de imprensa. Foi assim que as coisas foram acertadas no último minuto”, disse fonte familiarizada com as negociações à BBC NEWS.

Um acordo que demorou a chegar

Segundo as mesmas fontes, as negociações de paz, há muito existentes, terão sofrido de rumo em meados do mês de dezembro. Em causa poderá ter estado a morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, assim como a queda do governo de Bashar al-Assad na Síria, apoiado pelo Irão.

Após a morte de Sinwar pelas forças israelitas em Gaza, a outubro do ano passado, Israel considerou que a atitude do Hamas nas negociações mudou. Até então, alegam que o grupo palestiniano não "tinha pressa" para fechar um acordo e que "ditava" em vez de negociar. De acordo com um oficial israelita, houve pressão por parte da Casa Branca com a administração de Biden e pela equipa de Donald Trump.

"Não poderíamos fechar um acordo como esse até que as condições mudassem", declarou Israel.

A equipa de negociação de Joe Biden, na altura presidente dos EUA, visitou o primeiro-ministro israelita a 12 de dezembro. Presentes estiveram o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, o enviado para o Médio Oriente, Brett McGurk, e o diretor da CIA, Bill Burns. A reunião durou "várias horas" e, de acordo com uma autoridade dos EUA, teve como temas centrais uma "nova equação regional" e a passagem "do cessar-fogo no Líbano para outra rodada de discussões intensivas" em Gaza.

A BBC avança que, em diálogo com um funcionário do Hamas a 16 de dezembro, foi revelado que Donald Trump,  presidente eleito dos EUA em novembro, era uma peça chave para um possível cessar-fogo. O funcionário palestiniano estava otimista com o facto de um assessor de Trump ter enviado uma mensagem aos mediadores a indicar querer um acordo antes da tomada de posse agendada para esta segunda-feira, 20 de janeiro.

Donald Trump terá alertado o grupo para "o inferno a pagar", caso não concordasse em libertar os reféns israelitas. A pressão para a paz terá sido igualmente exercida sobre Netanyahu, que estaria a "impedir o acordo".

No mês de dezembro, Israel descartou a possibilidade de soltar prisioneiros de alto perfil. Por outro lado, a Casa Branca acusou o Hamas de criar obstáculos para libertar os reféns.

“O Hamas estava a recusar-se a concordar - e isso foi um colapso nessa altura - com a lista de reféns que seriam libertados na primeira fase do acordo. Isso é fundamental. Este é um acordo de libertação de reféns. Se não concordarem com a lista de reféns que serão libertados, não haverá acordo”, indicou um funcionário da administração de Biden. 

A mesma fonte indicou que o grupo palestiniano fez afirmações "completamente falsas" sobre o facto de desconhecer a localização de alguns reféns. Segundo Israel, o Hamas tentou esconder reféns vivos e ameaçou apenas libertar cadáveres. Do lado oposto, o grupo palestiniano acusou o inimigo de adicionar mais 11 nomes à lista de reféns a libertar na primeira fase do acordo.

A 3 de janeiro, houve um aparente avanço com o Hamas a propor a libertação de 110 prisioneiros que cumpriam penas perpétuas. Por cada refém que o grupo libertasse, Israel tinha de trocar uma "chave" - número acordado de prisioneiros.

“Há uma equação para saber quantos prisioneiros palestinianos saem. Assim, para as mulheres soldados, por exemplo, há uma chave. E para os homens idosos, há uma chave. E para as mulheres civis, há uma chave. E tudo isto foi resolvido e os prisioneiros foram nomeados, centenas e centenas de prisioneiros na lista”, explicou um oficial dos Estados Unidos da América.

Durante as negociações, o Hamas cedeu a duas exigências: a retirada por completo do exército israelita de Gaza e um compromisso formal de Israel com um cessar-fogo total.

A 6 de janeiro, Israel rejeitou a proposta do Hamas sobre os 11 reféns. À BBC, o grupo enviou uma lista com 34 nomes de reféns, mas dois dias depois, o corpo de um, Yosef AlZayadni, foi encontrado em Gaza. O Hamas revelou estar disponível para libertar, numa primeira fase, soldados de reserva.

Reta final das negociações

Até altas horas da madrugada, várias foram as reuniões que se fizeram em Doha, capital do Qatar. No último mês, passaram a ser "conversas de proximidade". No prédio, de dois andares, juntavam-se ambos os lados - Israel e Hamas. No primeiro andar estava a delegação do Hamas e no segundo a de Israel, explicou um alto funcionário dos EUA, citado pela BBC.

Mapas de Gaza, manuscritos e detalhes sobre os reféns eram temas de debate. Nas negociações continuavam envolvidos os mediadores, entre eles, o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani.

A 9 de janeiro, 90% do acordo foi alcançado, mas existiam ainda questões pendentes. A 11 de janeiro, numa reunião muito importante, o primeiro-ministro israelita foi fortemente pressionado pelo enviado especial de Donald Trump.

Na noite de 12 de janeiro, considerada "decisiva", prosseguiram as negociações durante seis horas. Em cima da mesa esteve, mais uma vez, como os reféns seriam libertados e a retirada das tropas israelitas de Gaza. Quando terminada, ficou por resolver o mecanismo do regresso dos indivíduos deslocados do sul de Gaza para o norte da região.

O Hamas recusou que Israel revistasse os veículos onde seriam transportados os reféns para garantir que não haveria nem militantes, nem equipamento militar a ser transportado. Ficou acordado que as buscas seriam feitas pelas equipas técnicas do Qatar e do Egito.

A 15 de janeiro, um alto funcionário dos EUA revelou que já haveria acordo de cessar-fogo. Dois dias depois, a 17 de janeiro, Israel votou a favor das tréguas e revelou a lista de reféns que queria que o Hamas libertasse. Este sábado, 18 de janeiro, Netanyahu, garantiu que o cessar-fogo - a começar na manhã de domingo - estava ameaçado, caso não recebesse a lista oficial dos israelitas que seria libertados.

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