Templo que recebeu a imagem de Nossa Senhora foi transformado em abrigo com corredores feitos de sacos de areia.
Sirenes obrigam a evacuar igreja em Lviv
As sirenes tocaram várias vezes. De manhã e de tarde, durante largos minutos, alertando para o perigo iminente. Em Lviv, a cidade considerada segura na Ucrânia, era percetível o medo. O nervosismo nas vozes, o correr para os abrigos.
Nos muitos altifalantes espalhados pela cidade ia-se ouvido "nós não nos rendemos". A frase era repetida de forma insistente, como um grito de guerra.
Estávamos na igreja, onde centenas de pessoas veneravam a imagem de Nossa Senhora, chegada de Fátima na quinta-feira, e lhe pediam pela paz. E foi nesse mesmo espaço que as pessoas ficaram. Mas encaminhadas para as caves da igreja, agora transformada em abrigo, com corredores feitos de sacos de areia para diminuir o impacto das explosões.
Foram cerca de trinta minutos de medo. Dos adultos, porque para muitas crianças a normalidade do som afasta o perigo. Pintavam, tocavam piano, corriam pelas salas. E riam: quase como se desafiassem Putin, dizendo-lhe que a Ucrânia lhes pertencia, que a terra sempre será sua.
Aí encontrámos Elena. Ucraniana, ex-residente em Faro, e capaz de trocar connosco umas palavras na nossa língua. "Os meus amigos em Portugal dizem para voltar. Mas como é que o poderia fazer? A minha mãe tem 93 anos e eu não vou abandonar a Ucrânia", diz-nos, com um sorriso no rosto, confessando que tem medo. "Agora sinto-me mais forte por estar aqui a Nossa Senhora. Quando soube até chorei e quis vir para lhe agradecer por estarmos seguros". Tal como Elena, outros tantos que estavam na igreja esperaram no abrigo e depois voltaram ao templo. Para assistirem à missa e para ver a 13ª réplica que estava no Santuário de Fátima.
"Vim para o abrigo porque estou com as crianças e com a minha mulher. Ela sente-se mais segura e portanto ficamos aqui até que nos digam que podemos sair", contou-nos um morador de Lviv que agora se dedica a acolher refugiados. "Temos um negócio de agroturismo espalhado pela Europa. Agora usamos os nossos espaços para acolher os nossos."
As sirenes deixaram de tocar já depois das quatro da tarde e a vida retomou rapidamente a normalidade. Até às oito, os estabelecimentos comerciais mantiveram-se abertos, o recolher obrigatório chegou às 10h00.
Na cidade mais polaca da Ucrânia, continuou-se a rezar. Para que a paz chegue rápido, para que os desalojados possam voltar às suas cidades. Para que os russos recuem e deixem os ucranianos serem apenas isso. Donos do que lhes pertence.
Pormenores
Fugiram 3,3 milhões
Mais de 3,3 milhões de refugiados já fugiram da Ucrânia desde a invasão russa, anunciou este sábado a ONU. Cerca de 90% são mulheres e crianças.
Polónia e Hungria
Já cruzaram a fronteira polaca um total de 2 010 693 pessoas, tendo fugido para a Hungria 299 273 ucranianos. À Eslováquia chegaram 240 009.
Roménia e Moldávia
Mais de meio milhão chegou à Roménia (518 269), número que inclui os que cruzaram a fronteira para a vizinha Moldávia.
Rússia e Bielorrússia
Os dados das Nações Unidas indicam que perto de 185 000 pessoas optaram por ir para a Rússia e que 2548 refugiados entraram na Bielorrússia.
Lisboa recebeu mais 400 pessoas
Perto de 400 refugiados ucranianos, a maioria mulheres, idosos e crianças, chegaram este sábado a Lisboa, no âmbito de uma missão humanitária apadrinhada por diversas entidades, entre elas a autarquia alfacinha. A caravana, de cinco autocarros e 25 viaturas de nove lugares, saiu de Cracóvia, onde deixou alimentos e medicamentos.
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