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Quem é Igor Khashin, o russo pró-Kremlin que recebia refugiados ucranianos em Setúbal

Aos 25 anos deixou a cidade Saratov, na Rússia, e veio para Portugal.

29 de abril de 2022 às 22:10

Igor Khashin, o antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos e atual líder da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), subsidiada desde 2005 até março passado pela Câmara de Setúbal, que recebeu pelo menos 160 refugiados ucranianos, tem ligações próximas com o Kremlin há vários anos.De acordo com a Câmara Municipal de Setúbal, Igor Kashin "colabora, regularmente, há vários anos, com várias entidades da administração central, entre as quais o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Alto Comissariado para as Migrações e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, tendo prestado esta colaboração já este ano, em instalações de alguns destes serviços em Setúbal, no contexto do acolhimento de refugiados da guerra da Ucrânia". Terá relações próximas com a embaixada russa e com o regime liderado por Vladimir Putin, escreveu o jornal Expresso.O jornal Expresso noticiou que Igor Khashin e a mulher, Yulia Khashin, funcionária do município setubalense, responsáveis pela Linha de Apoio aos Refugiados, terão fotocopiado documentos dos refugiados, entre os quais passaportes e certidões das crianças.

Mas quem é Igor Khashin?

Igor Khashin nasceu em Saratov a 30 de Agosto de 1975 e lá cresceu até aos 25 anos de idade. Depois disso, deixou a sua terra natal e veio para Portugal.

Em entrevista, em 2015, a propósito do Fundo para Apoio e Proteção dos Direitos de Compatriotas Residentes no Estrangeiro,uma fundação criada por Sergei Lavrov, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, e que contou com a participação e supervisão de de Igor Khashin, o russo contou que andou numa escola soviética e, "como todas as crianças daquela época, gostava de Júlio Verne, Belyaev".Na escola onde estudou, "havia conceitos claros e precisos sobre o que são os adultos, quem são os professores", referiu Khashin.Começou por ser eletromecânico e o segundo emprego de Khashin foi no Conselho Coordenador dos Compatriotas Russos. "Esta atividade ajudou-me muito, especialmente porque nessa altura eu estava a formar-me numa Faculdade de Direito - a disciplina de Direito Constitucional nessa altura era nova, estava a desenvolver-se, e era muito interessante trabalhar com vários funcionários da assembleia legislativa do final do Império Russo (Duma)", salientou o diplomata.Falando no papel da Casa da Rússia, Khashin diz que é "a representação de interesses e a defesa de posições". "Lá, eram levantadas questões que diziam respeito tanto aos compatriotas que vivem no estrangeiro como aos que vivem directamente na região europeia", referiu ainda."Gostaria de notar que, neste momento, para além dos representantes do Ministério dos Negócios Estrangeiros, temos frequentemente membros da Duma, do Conselho da Federação, de outros ministérios e departamentos relevantes - Rosmolodezh, do Ministério da Cultura, do Ministério da Educação, do Serviço Federal de Migração ligados a nós", destacou Khashin, em 2015.Embora gostasse de Portugal, para Kashin, a Rússia "é sempre um sonho", acrescentado que nunca se poderá esquecer da "pátria".

E qual é a relação de Igor Khashin com Vladimir Putin?

De acordo com o Expresso, Khashin é "gestor de projetos", e as associações a que terá estado ligado estavam nos 'sites' da Ruskyi Mir e da Rossotrudnichestvo, instituições estatais criadas pelo Kremlin para divulgar a cultura e o mundo russos, mas, segundo fontes, "podem servir de cobertura a elementos dos serviços secretos" da Rússia.

A fundação Russkiy Mir, criada pelo presidente russo, em 2007, projetada com o objetivo de promover a língua e a cultura russas em todo o mundo, fez com que Igor Khashin e Yulia Gundarina participassem em eventos organizados pela agência de propaganda do Kremlin e até já terem estado em Moscovo, capital da Rússia, a ouvir Putin a discursar no 8º Congresso de Compatriotas.

A Associação de Ucranianos em Portugal alertou os Serviços de Informação da República Portuguesa, a 2 de Abril, para a presença de "agentes de influência russa" em algumas organizações que acolhiam refugiados em Portugal.

 De acordo com a embaixadora da Ucrânia, Inna Ohnivets, em entrevista exclusiva à CNN Portugal, no início de abril - quando a guerra na Ucrânia já durava há dois meses - a associação Edintsvo, chefiada por Igor Khashin "está ligada à embaixada russa e este cidadão, durante uma reunião comigo em 2016, confirmou que esta associação não tem qualquer entidade com a Ucrânia, sendo apenas russa"."Estas associações pró-russas com ligações muito estreitas com a embaixada russa (...) podem receber dados pessoas dos refugiados" que poderiam ser interessantes "para a inteligência russa", referiu Inna Ohnivets.

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