Dia 11: "Adeus Viena, olá Budapeste"

José e Francisca, pai e filha, escolheram o CM para relatar interrail pela Europa.

08 de agosto de 2015 às 11:32
francisca oliveira, josé oliveira, interrail
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Francisca Oliveira, 14 anos, e José Oliveira, 49 anos, estão a fazer um interrail pela Europa. E contam tudo no site do Correio da Manhã

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"Escolhemos Budapeste como próximo destino. Mais uma vez vamos livres e sem expectativas, mas de coração aberto.

A hora de saída é às 10h12. Como tudo em Viena funciona, foi fácil entre bus, metro e comboio chegar à estação Wien Haupbanhof a horas. A viagem durará 2h30 o que é ótimo pois permitia-nos aproveitar a cidade durante toda a tarde. Mal sabíamos nós o que nos esperava.

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Deixamos Viena com um céu azul e muito calor. A viagem decorreu naturalmente e sem sobressaltos.

Chegamos à hora marcada. Budapeste – Keleti, uma das estações de comboio de Budapeste. Onde é que viemos nós parar?!

Bem, a primeira impressão é muito estranha, a estação é antiga, suja e a envolvência ainda mais. Uma série de lojinhas que vendem comida e bugigangas e se nos dissessem que caímos na Turquia, acreditávamos.

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Poucas informações disponíveis, contudo as pessoas com quem falamos, que pela aparência, pareciam portugueses de há 30 anos, foram sempre disponíveis e solícitas, dando o seu melhor para nos entenderem e se fazerem explicar. Mais uma vez a língua é um obstáculo grave. Está tudo escrito em Húngaro (cirílico), não se entende nada, nem por simpatia.

Bem, pela primeira vez e porque estávamos esfomeados, recorremos à fast-food e fomos a um KFC que havia nas redondezas.

Como não conseguimos orientar-nos pelo mapa, solicitamos um táxi que nos levou ao alojamento previamente reservado.

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O taxista fez o preço logo à cabeça, mesmo antes de entrarmos no automóvel. Estranho!! Lá fomos. Pagamos uns milhares de florins, a moeda Húngara. Fomo-nos entretanto habituando de que aqui é tudo aos milhares, mas de início assusta. Ficamos também com a sensação que viríamos a confirmar, que os preços podem variar conforme os apetites e o bom humor do interlocutor.

Ainda assim, não cedemos e não haverá nada que consiga destruir a nossa boa energia. O local onde ficamos alojados é também ele uma retrospetiva de um Portugal dos anos 80, pelo aspeto, pelos empregados e até pelos clientes, maioritariamente húngaros. Fica maravilhosamente situado, no meio do rio Danúbio, numa ilhota, a ilha de Margarit, mas muito afastado da cidade.

Ainda não conseguimos o sorriso de nenhum húngaro. Estaremos a perder qualidades?! Bem, com dificuldade descobrimos que era o 26 o bus que teríamos de apanhar para ir ao centro de Budapeste.

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Assim foi, caçamos o tal 26 e depois saímos para apanhar o metro. Novo choque. A estação de metro não se parecia com nada do que até agora tínhamos visto. Suja, degradada, barulhos com ritmos dos orientes, estranha música que vinha de rádios colocados nas bancas das lojinhas que se espalhavam. Nem um sorriso na expressão das pessoas, todas muito sérias e sisudas.

Chegamos ao centro de Budapeste. Eram quase 15h00. Ainda a tempo para nos situarmos, escolhermos o nosso ponto de referência e partirmos para a descoberta.

Estávamos nos preparativos, a saber que havia duas cidades, Peste, onde agora estávamos, e Buda, que ficava do outro lado do rio, e enquanto falávamos com o jovem húngaro que se expressava em inglês razoavelmente e nos ia dando umas dicas, quando à traição começam a cair umas pinguinhas de chuva vindas de um céu que ainda há pouquinho estava azul. As pinguinhas, em breves segundos, começaram a chegar mais grossas e rápidas. Ups?! O que se passa?! Recolhemos com o nosso húngaro de circunstância a uma estação de metro ali mesmo em frente. O que eram uns tantos, rapidamente se transformou numa multidão, que aumentava à medida que mais e mais gente iam chegando a correr, completamente encharcados. A chuva era muito intensa, tudo inundado. Já lá iam uns bons 20 minutos e nada de melhoras, em vez disso só ouvíamos sirenes e víamos gente cá fora a correr na procura do melhor abrigo. O nosso estava completamente cheio. A chuva deu lugar a granizo. Era cada bola que caia do alto! Impressionante, pareciam pedras. Pelo espanto das pessoas, não devia ser um fenómeno vulgar.

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Estivemos nisto até às 17h30. Lá se foi a nossa tarde. Por impulso e sem pensar muito, acordamos que se queríamos conhecer minimamente a cidade teríamos de recorrer aos serviços daqueles autocarros que dão umas voltas pelos locais mais importantes da cidade. Os seesigthing. Fizemos esta concessão, por inevitável que nos pareceu naquele momento, era seesigthing ou nada.

Surpresa boa, havia acompanhamento em português. Uau!!!! Fantástico. Desta forma tivemos uma panorâmica da cidade. Sem sair do autocarro visitamos a Praça dos Heróis, "Hosok "(cada "o" com dois acentinhos), com o museu das belas artes e a galeria de arte, uma de cada lado. No centro o memorial do milénio em homenagem aos fundadores do país e o anjo Gabriel como figura central do monumento. Soubemos da sua simbologia na criação da nação húngara. Passamos na List F Square, na Opera, no Market Hall e atravessamos as pontes sobre o rio Danúbio, do lado de Buda visitamos a cidadela e o Palácio de Buda, de regresso a Peste passamos ainda pelo café New York, que eles dizem ser o mais bonito do mundo. Tudo isto em duas horas.

Budapeste não foi uma cidade que nos tivesse conquistado à primeira. Acabamos a viagem e eram já 19h30. Tempo para pouco mais do que tentar espreitar ruelas e deixarmo-nos ir por elas sem motivo nem destino.

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Mais uma vez fomos tentar a culinária húngara. Deixamos o goulash para amanhã e provamos uma mistura de carnes acompanhada por verduras e picles. Salvou-se a salchicha que trazia, pois quanto ao resto foi uma desilusão.

Vingamo-nos no gelado que comemos a seguir. Eram artesanais e os empregados faziam o gelado em forma de flor. Curioso e bom, o gelado era muito bom.

Antes de irmos descansar, cirandamos pelo centro, na Erzsébet Square, onde se iam juntando jovens à volta de uma praça com um laguito no meio e pela quantidade de pessoas que chegavam parecia o ponto de encontro da "malta jovem" em Budapeste. O calor, que não obstante a chuvada, nunca se foi embora, fazia com que muitos entrassem pelo lago ou molhassem os pés. Havia alguns bares em volta com música alta, gente que conversava ou que tocava guitarra em grupos de amigos e muito, muito álcool nas ruas.

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Regressamos a casa já era meia noite. Como ficava muito longe e ainda não "dominamos" Budapeste, chamamos um táxi, que mais uma vez nos cobrou "a olho" e levou-nos não sei quantos mil florins. Que susto, parece uma fortuna.

A impressão que ficamos desta pequena incursão a território húngaro é de que valorizam muito as suas preciosidade , mesmo as mais pequeninas… "A água"… "Os banhos"… Os spas... O café que é o mais bonito do mundo. Reparamos também na amargura com que se referem à ocupação comunista, tendo apagado o mais possível os seus vestígios.

A característica principal são os seus habitantes, que comprovam que a Hungria é uma zona de confluência, onde passaram raças, religiões, povos e culturas diversas, havendo vestígios de tudo isso.

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Mais uma vez, e como já dissemos, a língua é uma dificuldade nem com esforço captamos seja o que for.

E o sorriso? Elegemos os húngaros como os menos sorridentes. É verdade, ao final do dia e enquanto estávamos sentados, com os pés na água observando e esperando ter vontade de irmos embora, ouvimos uma conversa em inglês entre dois jovens que falavam sobre a cidade e um deles dizia: "Sim, pode não ser a cidade mais bonita nem encantadora, but it has soul"… Haveremos de encontrar a alma desta cidade.

Até amanhã."

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