Desigualdade de género deixa às mulheres a responsabilidade de cuidar dos vulneráveis em Moçambique

"O cuidado não é uma questão privada, é um bem público", disse Habiba Rodolfo.

29 de outubro de 2025 às 16:52
Desigualdade de género deixa às mulheres cuidado a vulneráveis em Moçambique Foto: Britta Pedersen/AP
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As Nações Unidas consideraram, esta quarta-feira, que as responsabilidades com cuidados não remunerados às pessoas vulneráveis em Moçambique são mais assumidas por mulheres devido às desigualdades de género, pedindo recompensa por esta atividade.

"Em Moçambique, como em muitas partes do mundo, as mulheres e as meninas assumem a maior parte das responsabilidades de cuidados não remunerados. Esta realidade reflete desigualdades de género profundamente enraizadas e limita as suas oportunidades de educação, emprego e participação na vida pública", disse a chefe da Unidade de Governação no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Moçambique, Habiba Rodolfo.

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A responsável, que falava, em Maputo, no âmbito da celebração do dia internacional do cuidado e apoio, disse que as Nações Unidas estão a implementar programas em Moçambique que visam integrar o cuidado e o apoio não remunerado nas políticas nacionais, com o objetivo de promover a prestação de serviços inclusivos e amplificar as vozes dos cuidadores e das pessoas com deficiência, lançando as bases para uma sociedade mais justa, equitativa e inclusiva.

"O cuidado não é uma questão privada, é um bem público. Investir em cuidados é investir em direitos humanos, na igualdade de género, no empoderamento económico e no bem-estar de todos", disse Habiba Rodolfo.

"Convocamos todos os setores a unirem forças na transformação. Vamos garantir que o cuidado e o apoio sejam reconhecidos, redistribuídos e recompensados. Vamos construir sistemas inclusivos, resilientes e sustentáveis", acrescentou a responsável do PNUD.

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O presidente do Conselho Nacional do Voluntariado, também presente no evento, disse à Lusa que as mulheres são a maioria na lista dos cuidadores de pessoas vulneráveis, pedindo ações concretas para melhorar a sua situação.

"O voluntário não é remunerado, mas se deve criar condições para que faça o seu trabalho com dignidade e segurança, sabendo que o que oferece é o seu tempo e competência. Estamos a falar de transporte, se exigir que tenha seguro de saúde e condições de trabalho adequadas ao risco da atividade", explicou Deeder Guerra.

"Há também vulnerabilidade à violência baseada no género, isso é revoltante porque estamos a falar de uma pessoa que se doa para cuidar da outra, no entanto é violentada", acrescentou.

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Como soluções, esta organização pede apoio ao Governo, setor privado, sociedade civil e academia, apelando igualmente ao fortalecimento das estruturas de cuidadores nas comunidades para ajudar pessoas necessitadas.

O Conselho Nacional do Voluntariado é uma rede que conta com mais de 300 organizações e estima ter cerca de três milhões de voluntários em todo o país, segundo dados avançados à Lusa pelo seu presidente.

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