"O que nós esperamos é ter muitos alunos a estudar", explicou o coordenador nacional da ONGD portuguesa Helpo.
Um financiamento do instituto Camões vai permitir à ONGD portuguesa Helpo acompanhar, com planos individuais, alunos de três escolas secundárias do distrito moçambicano de Metuge, um dos que concentra mais deslocados dos ataques terroristas em Cabo Delgado.
"O que nós esperamos é ter muitos alunos a estudar. Criar condições para que estes alunos estudem, porque além dos alunos que estão na escola, também pretendemos resgatar os alunos que nos dois anos anteriores deixaram de estudar", explicou à Lusa o coordenador nacional da Helpo, Carlos Almeida.
"Este é um projeto que pretende cobrir a totalidade das escolas do distrito onde estamos, o distrito de Metuge, que tem três escolas secundárias apenas, apesar de ser o segundo distrito com mais população deslocada depois da cidade de Pemba. E na realidade apenas tem três escolas secundárias que estão muito espaçadas, o que significa que há muitos alunos com dificuldade de acesso à escola secundária", reconheceu o responsável.
Aquela Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) portuguesa desenvolveu o projeto "Educação Relevante em Emergência", com um pacote de incentivos à conclusão da escola secundária e "geração de referências positivas entre alunos deslocados em Cabo Delgado", avaliado em 288.545 euros e que recebeu em agosto a aprovação de um financiamento de 85% pelo Camões -- Instituto da Cooperação e da Língua, para assim chegar aos atuais 4.743 alunos das três escolas do distrito.
"Não são na sua totalidade deslocados, mas um dos pontos fortes da nossa intervenção aqui em Cabo Delgado tem sido sempre esse: Trabalhamos, sim, com deslocados, mas nunca virando as costas às populações que estão a dar as boas vindas, porque o primeiro passo para criarmos outros conflitos internos é quando damos primazia a deslocados, que realmente são muito necessitados, mas as próprias pessoas que estão a receber e que estão muitas das vezes a dar grande parte das suas economias para apoiar os deslocados aquilo que nós sentimos é que é muito injusto quando não se faz chegar essa ajuda a toda a gente", acrescentou Carlos Almeida.
Pelo menos 188.852 famílias estavam deslocadas em Cabo Delgado, em fuga à violência armada no norte de Moçambique -- que provocou mais de 4.000 mortos nos últimos seis anos --, totalizando mais de 773 mil pessoas, mas muitas já começaram a regressar aos distritos de origem, segundo um relatório do Conselho Executivo da Província de Cabo Delgado noticiado em agosto pela Lusa.
Ao abrigo de outros projetos, a Helpo já construiu e entregou ao Ministério da Educação 99 salas de aula entre as províncias de Cabo Delgado e Nampula, um apoio reconhecido pelas autoridades locais. "Faz grande, grande diferença, muito mesmo. Grande diferença", afirmou à Lusa o diretor provincial de Educação em Cabo Delgado, Ivaldo Quincardete.
"Infelizmente a nossa província ainda tem muitos alunos deslocados. Começamos em 2021, com cerca de 96.000 alunos deslocados. No ano passado reduzimos e este ano estamos com cerca de 40.000 alunos ainda deslocados e o distrito de Metuge é um daqueles raramente que continuam a ter população e, consequentemente, alunos deslocados", reconheceu ainda.
O projeto da Helpo, que será implementado durante dois anos, a partir de 01 de janeiro de 2024, foi construído "de baixo para cima", recorrendo aos resultados obtidos no trabalho que a ONGD realizou em 16 escolas primárias do mesmo distrito, onde está presente.
"E qual foi a conclusão a que nós chegámos? É preciso que haja, em primeiro lugar, uma atenção muito grande de forma individualizada. Os alunos não podem ser todos tratados da mesma maneira, é preciso que os casos sejam tratados precisamente caso a caso", disse.
O objetivo é "fazer um plano individual de apoio, porque há alunos com diferentes dificuldades, há alunos que não estudam porque não têm dinheiro para comprar o uniforme, outros alunos não estudam porque não têm dinheiro para alimentação, outros não estudam porque não têm alojamento, não têm sítio para ficar porque estão muito longe, outros até nos pedem bicicletas para se poderem deslocar", explicou Carlos Almeida.
"Depois também outra questão que nós identificámos foi o facto de alguns alunos deslocados se sentirem ostracizados pelo resto da população. Muitas vezes até são apelidados de terroristas e é algo que eles se sentem inferiores aos restantes alunos. E um dos objetivos é criar quadros de honra e tentar quebrar essa parede que às vezes separa os dois lados, que é uma parede invisível. E perceber que realmente são todos iguais, vêm de uma situação diferente, mas que com o apoio e juntos conseguem todos ser mais forte", admitiu.
Outra das componentes do projeto será o apoio vocacional a estes alunos do secundário: "Porque há muitos alunos que não sabem os passos a seguir, têm vontade e alguns até têm capacidade para entrar nas universidades, mas têm muitas lacunas de como concorrer, que áreas de estudos seguir".
"Com o uso racional dos fundos, nós conseguimos, de forma individualizada, chegar a mais alunos e chegar de forma melhor (...) Este projeto, financiado pelo Camões, mais uma vez demonstra a atenção que o Estado português tem tido desde o início à situação que se está a viver em Cabo Delgado. Visa precisamente isso, que é chegar a estes alunos e fazer com que eles continuem a estudar", concluiu.
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