Acenando com o retorno de uma política económica de irresponsabilidade fiscal que destruiria as chances de um país próspero, a estratégia resultou.
Analistas ouvidos pela Lusa consideram que o Presidente argentino conseguiu uma vitória eleitoral legislativa que se deveu em parte ao medo do regresso ao passado recente, apesar do ajuste fiscal de 5% do PIB.
"As eleições legislativas intermediárias são uma espécie de plebiscito ao Governo, a favor ou contra Milei, mas, neste caso, houve uma particularidade, devido à proximidade com o governo anterior e à experiência política na Argentina dos últimos 20 anos. Então, desta vez, além de um plebiscito ao Governo Milei houve outro referendo: quero ou não voltar ao passado", disse à Lusa o analista político Cristian Buttié.
O especialista também dirige a CB Consultores, responsável por acertar o resultado eleitoral de domingo, em que o partido de Milei, La Libertad Avanza, somou 40,7% dos votos válidos, valor que Buttié tinha previsto.
"Na verdade, a eleição na província de Buenos Aires lançou o sinal de alerta para o Governo reagir e funcionou para ativar o 'voto de medo' em relação a um regresso ao passado", considera Buttié.
A partir daquele resultado provincial, o Presidente Milei começou a fazer campanha pelos seus candidatos, advertindo a população de que o "kirchnerismo", corrente mais radical do Peronismo podia voltar ao poder, apesar de a ex-Presidente Cristina Kirchner (2007-2015) estar em prisão domiciliária por corrupção.
Acenando com o retorno de uma política económica de irresponsabilidade fiscal que destruiria as chances de um país próspero, a estratégia resultou.
Milei ganhou as eleições de domingo passado com nove pontos de vantagem sobre o Peronismo e virou o resultado eleitoral na província de Buenos Aires, obtendo agora meio ponto acima da sua principal corrente opositora. Após a vitória, o próprio Milei mostrou-se surpreendido com o resultado: "Quem pensava que podíamos ganhar a província de Buenos Aires?"
"Por mais apático que o eleitor estivesse com o Governo, o eleitor antiperonista ganhou um incentivo para votar contra o mal maior que significaria o regresso ao governo anterior, ainda fresco na memória dos argentinos, e a favor do mal menor, dando uma nova cota de confiança ao governo Milei, dois anos depois de ser eleito", avalia Cristian Buttié.
Esse 'voto de medo' do passado foi capaz de superar a insatisfação com a atual recessão económica e com as denúncias de corrupção contra o governo Milei.
"Entra em cena o fator emocional do voto sobre o fator racional", sublinha o consultor.
"Esses 40% que agora apoiaram o governo Milei sabem que pior poderia ser o retorno ao poder do 'kirchnerismo'. Apesar de a atual situação económica ser muito má para muitas pessoas, esses eleitores decidiram que a melhor opção ainda é apoiar Milei", interpretou à Lusa o analista político Patricio Giusto, diretor da consultora Diagnóstico Político e professor da Universidade de Buenos Aires.
Juan Ignacio Di Meglio, diretor de assuntos públicos da consultora LLYC, apontou à Lusa que Milei vira o jogo a partir da rejeição ao Peronismo que mobiliza grande parte da sociedade argentina.
"E o antiperonismo sobrepõe-se a um dos maiores ajustes da história argentina, aplicado por Milei nos últimos dois anos", ressalta o consultor.
Desde o primeiro mês de governo, Javier Milei aplicou um ajuste fiscal de 5% do Produto Interno Bruto. A inflação na Argentina caiu de 211,4% em 2023 a 118,7% em 2024 e deve fechar 2025 em torno de 30%. No entanto, a economia parou de crescer em abril com o consequente impacto no emprego.
"Incidiram na vitória de Milei o medo de voltar atrás, a atual estabilidade da economia e a queda da inflação. As pessoas entendem que faltam coisas e que o poder aquisitivo tem de melhorar, mas preferiram conceder o benefício da dúvida, mantendo a esperança em algo novo depois de terem experimentado receitas que não funcionaram durante tanto tempo", acredita Di Meglio.
Há dois anos, na primeira volta eleitoral, 30% dos argentinos votaram em Milei. As sondagens indicam que a imagem positiva de Milei é de 42%, em linha com o resultado eleitoral.
"Com este resultado, Milei comprou mais tempo para construir o que ainda falta. A segunda metade do seu mandato não será igual ao que vimos até agora. Milei ganha força no Parlamento", aposta Di Meglio.
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