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Câmara Africana de Energia considera que retirada do Reino Unido do gás de Moçambique trai segurança energética

Reino Unido anunciou no princípio deste mês o cancelamento da participação no financiamento de um projeto de exploração de gás em Cabo Delgado.

08 de dezembro de 2025 às 08:46

A Câmara Africana de Energia considera que a decisão do Reino Unido de retirar o seu financiamento ao projeto de gás da TotalEnergies em Moçambique "é uma traição à segurança energética" do continente africano.

"A retirada do Reino Unido do financiamento do Gás Natural Liquefeito (GNL) de Moçambique é um golpe para a justiça energética africana; retirar o apoio ao GNL de Moçambique é uma traição ao direito de África à segurança energética e uma bofetada na cara do progresso para os milhões de pessoas do continente que vivem sem energia fiável", escreveu o presidente desta entidade destinada a fomentar os investimentos energéticos em África.

O Reino Unido anunciou no princípio deste mês o cancelamento da participação no financiamento de um projeto de exploração de gás em Cabo Delgado, liderado pela francesa TotalEnergies, que reagiu assegurando que o investimento não está posto em causa.

Numa nota enviada à Lusa comentando esse cancelamento, o presidente executivo da Câmara, NJ Ayuk, escreve que "este momento deve servir como um apelo à ação e serve como um forte lembrete de que o futuro energético de África não pode depender exclusivamente de financiamento estrangeiro ou apoio condicional".

"O GNL de Moçambique e projetos semelhantes em todo o continente devem ser defendidos por africanos para africanos, com foco no desenvolvimento responsável, na criação de empregos e na erradicação da pobreza energética", alerta o presidente da defende o Câmara Africana de Energia.

O megaprojeto de gás em questão vai continuar sem o financiamento do Reino Unido e dos Países Baixos, garantindo os restantes financiadores essa parte, equivalente a 10% do total, revelou a empresa francesa, acrescentando: "Os parceiros do projeto Mozambique LNG concordaram unanimemente em fornecer capital adicional para substituir as contribuições da UKEF [Reino Unido] e da Atradius [Países Baixos], representando, no total, aproximadamente 10% do financiamento externo".

Em causa está a saída das duas agências de crédito à exportação, a UK Export Finance (UKEF) e Atradius, dos Países Baixos, do consórcio financiador do megaprojeto de gás - que esteve suspenso de abril de 2021 a outubro de 2025 devido aos ataques terroristas em Cabo Delgado.

Para a Câmara Africana de Energia, "a recente decisão do governo do Reino Unido de retirar 1,15 mil milhões de dólares do projeto é um exemplo preocupante de como as prioridades políticas ocidentais prejudicam o desenvolvimento de África, e surge num momento em que os mercados energéticos globais enfrentam uma pressão sem precedentes".

O Reino Unido, acrescentam, "parece mais focado em considerandos ideológicos do que em soluções práticas para resolver a pobreza energética persistente" no continente africano.

Lembrando que os desafios de segurança que forçaram a TotalEnergies a suspender as operações em 2021 foram largamente resolvidos, a Câmara lembra que o banco de exportações e importações norte-americano (US Eximbank) "reaprovou um empréstimo no início de 2025, em reconhecimento da melhoria da situação no terreno", e conclui que existe uma agenda contra os combustíveis fósseis, encarados como fundamentais para África.

"Há projetos atrasados ou bloqueados, investimentos retidos, tudo justificado em nome de preocupações climáticas ou de segurança, enquanto a pobreza energética persiste; África não precisa de lições de moral sobre o clima vindas de nações que consomem energia em níveis muito superiores às necessidades do continente; o que é essencial são parcerias que respeitem as prioridades africanas, os prazos e o direito soberano de os países se desenvolverem de forma sustentável".

Moçambique tem três megaprojetos aprovados para exploração das reservas de GNL da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.

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