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Maior evento de segurança do mundo arranca sob tensão devido a empresas israelitas em França

Trinta e nove empresas israelitas estarão entre os 1.200 expositores deste evento bienal, "o maior do mundo" dedicado ao tema, que receberá ministros e profissionais de segurança de cerca de 100 países.

17 de novembro de 2025 às 23:18

A 'Milipol', feira internacional de segurança de França, arranca esta terça-feira em Villepinte, perto de Paris, sob elevada tensão, devido à presença de empresas israelitas, e num contexto mundial de crescentes ameaças híbridas e elevados gastos com a segurança.

Trinta e nove empresas israelitas estarão entre os 1.200 expositores da 24.ª edição deste evento bienal, "o maior do mundo" dedicado ao tema e organizado pelo Ministério do Interior, que receberá ministros e profissionais de segurança de cerca de 100 países.

Apesar das recorrentes controvérsias desde 2024 em torno da participação israelita em feiras de defesa em França, o presidente Emmanuel Macron autorizou "todas as empresas israelitas que o desejarem" a expor na Milipol, anunciou na quinta-feira o Palácio do Eliseu.

A decisão foi justificada pela entrada em vigor do cessar-fogo entre Israel e o Hamas em 10 de outubro e pelo desejo de "contribuir para um diálogo construtivo" na região.

Esta decisão de Macron "confirma a sua intenção de tornar a França cúmplice do genocídio em Gaza e dos crimes contra a humanidade pelos quais o governo israelita é responsável nos territórios ocupados", sustentou a organização de defesa dos direitos humanos ASER (Action Sécurité Éthique Républicaines), especializada na monitorização de transferências de armas, num comunicado.

Para Aymeric Elluin, responsável pela área de armamento e defesa de conflitos da Amnistia Internacional, a problemática presença da Corsight, uma empresa israelita de reconhecimento facial, na Milipol é um fator crucial.

"Alertámos as autoridades francesas, salientando que esta empresa não tinha qualquer motivo para estar na feira (...) Forneceu armamento às forças israelitas que intervieram em retaliação em Gaza" após o ataque do Hamas em Israel, em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra em Gaza, frisou à agência France-Presse (AFP).

Poucos dias antes do anúncio do Palácio do Eliseu, a imprensa israelita noticiou que oito empresas israelitas não seriam autorizadas a expor na feira.

Durante o Salão Aeronáutico de Paris, em junho, o acesso aos expositores israelitas foi bloqueado com muros e lonas pretas, provocando indignação em Telavive.

Os israelitas foram também impedidos de expor em França, na feira de defesa terrestre Eurosatory, na primavera de 2024, e só obtiveram autorização judicial de última hora para participar na feira Euronaval, no outono.

Num clima geopolítico tenso, o mercado de segurança está em franca expansão.

Ao contrário do setor da defesa, onde apenas os estados adquirem tecnologias, o mercado da segurança tem muito mais clientes, incluindo autoridades locais, empresas privadas e públicas, sublinhou o autarca Yann Jounot, organizador da Milipol.

"É um mercado muito aberto e extremamente competitivo", destacou.

A natureza totalmente digital dos sistemas de segurança - transmissões de vídeo, redes de alerta, rádios encriptados, bases de dados - aumenta a sua vulnerabilidade.

Neste contexto, a cibersegurança torna-se essencial.

Plataformas para combater a desinformação, detetando discursos maliciosos com o uso de inteligência artificial (IA), serão apresentadas na feira, com soluções inovadoras antidrone e equipamentos de proteção com tecnologia de ponta.

Os gastos globais em segurança atingiram os 739 mil milhões de euros em 2024, um aumento de 5,3% relativamente ao ano anterior, quase o dobro da taxa de crescimento do PIB global (3,2%, segundo o Fundo Monetário Internacional).

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