João Rodrigues Lopes, conhecido como Ludy Kissassunda, morreu em Portugal no passado dia 6 de janeiro, por doença.
O Presidente angolano, João Lourenço, homenageou esta sexta-feira o nacionalista angolano Ludy Kissassunda, manifestando "profundos sentimentos de pesar à família", enquanto os companheiros de partido desvalorizaram as críticas à participação do general nos acontecimentos de 27 de maio de 1977.
João Rodrigues Lopes, conhecido como Ludy Kissassunda, morreu em Portugal no passado dia 06 de janeiro, por doença.
A homenagem foi prestada no Quartel de Regimento de Infantaria 20 (RI20) das Forças Armadas Angolanas (FAA), em Luanda, onde está a ser velado o corpo, que chegou na quinta-feira, à capital angolana.
Na sequência das honras militares, João Lourenço, curvou-se perante a urna contendo os restos mortais do general de 88 anos, deixou palavras de conforto à família enlutada e assinou o livro de condolências.
"O general Ludy Kissassunda é um nacionalista da geração da luta armada pela independência nacional que, ao longo da sua trajetória, desempenhou importantes funções no aparelho do Estado. Neste momento de dor e luto, aproveito a ocasião para, em meu nome pessoal, da minha família e do executivo angolano manifestar os meus profundos sentimentos de pesar à família e a todos os companheiros de luta", escreveu João Lourenço.
Kissassunda fez parte da primeira delegação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975) que chegou a Luanda e depois da independência desempenhou várias funções no Estado como governador das províncias do Zaire, sua terra natal, e Malanje.
Exerceu igualmente, entre 1975 e 1979, o cargo de diretor geral da extinta DISA (Direção de Informação e Segurança de Angola), a antiga 'secreta' angolana.
Várias personalidades ligadas ao Governo, deputados, membros do poder judicial, das forças de ordem e segurança do Estado, antigos combatentes e militantes do MPLA prestaram tributo a Ludy Kissassunda.
Luísa Damião, vice-presidente do MPLA, considerou Ludy Kissassunda como um "abnegado e intransigente combatente que deu o melhor de si pela pátria e pelo nosso país", referindo que o general deixa um "legado de luta e de patriotismo".
"O nosso partido fica mais empobrecido com a partida deste combatente da liberdade que se notabilizou no cumprimento de várias missões não só partidárias, mas também no Governo e, de facto, é um homem que merece ser recordado na história do país e do MPLA", disse, em declarações aos jornalistas.
No entanto, muitos atores da sociedade civil e do mosaico político de Angola contestam o papel de Ludy Kissassunda enquanto diretor da extinta DISA, considerando-o como um dos principais mandantes das ações persecutórias aos opositores de Agostinho Neto, que se seguiram após os acontecimentos de 27 de maio de 1977.
O 27 de maio de 1977 foi uma alegada tentativa de golpe de Estado, liderado por Nito Alves, ex-dirigente do MPLA, que deu origem ao chamado fracionismo, movimento político em oposição ao líder do MPLA e primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto.
O "fracassado" golpe de Estado, reza a história, levou um período de dois anos de "perseguição sangrenta" e culminou com milhares de mortes.
O ministro da Defesa Nacional e Antigos Combatentes, João Ernesto dos Santos "Liberdade", definiu, na ocasião, Ludy Kissassunda como "um grande nacionalista, grande patriota e combatente da luta pela independência" de Angola.
Em relação às controvérsias sobre o seu desempenho, na qualidade de diretor da DISA, o ministro angolano observou que "são momentos diferentes", realçando que, nas funções de governador e de responsável da DISA, "desempenhou as tarefas de acordo com o momento".
Já o governador do Zaire, Pedro Makita Júlia, também presente na cerimónia fúnebre, manifestou-se consternado pela morte do nacionalista, com quem trabalhou durante vários anos no governo daquela província ao norte de Angola, enaltecendo os seus conselhos.
Questionado sobre a atuação de Kissassunda na DISA, Pedro Makita Júlia disse tratar-se de "questões do país" que ocorreram num "momento muito conturbado da história de Angola".
"E penso que não são questões para serem levantadas aqui e agora, neste momento em que estamos a render homenagem e eu me abstenho de fazer referência", respondeu à Lusa.
Por sua vez, o general e deputado do MPLA, Roberto Leal Monteiro "Ngongo", enalteceu a trajetória de luta de Ludy Kissassunda, com quem trabalhou na frente leste em 1972, afirmando que viu sempre nele "uma pessoa íntegra e dedicada à causa do povo" angolano.
"E essa imagem inicial podia se dissipar depois do decorrer de todos esses anos, mas nunca se dissipou, a imagem que tenho do camarada Ludy é mesmo essa de alguém dedicado à causa e íntegro", afirmou.
"Infelizmente sofreu algumas agruras injustas, isso faz parte de todo um processo, mas é uma pessoa que merece todo o nosso respeito", notou.
Quando solicitado para especificar as agruras que disse ter sido alvo Ludy Kissassunda, o deputado "Ngongo" respondeu: "Algumas coisas no caminho dos processos todos da nossa luta, em relação ao 27 de maio, em relação a toda uma série de questões que nós não estamos de acordo".
"Ele cumpriu com aquilo que era a defesa do nosso solo pátrio, a defesa da nossa revolução, a defesa da nossa causa. Aqueles que quiseram desviar o caminho da revolução angolana, de facto, mereceram depois o castigo devido e assim nós continuamos", observou.
Ludy Kissassunda será sepultado esta sexta-feira no cemitério do Alto das Cruzes, em Luanda.
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