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Pulmão do Mundo enfrenta cenário de devastação sem precedentes

Amazónia perdeu mais de dois mil km2 de floresta em julho. Desflorestação e incêndios aumentam após posse de Bolsonaro.

23 de agosto de 2019 às 01:30

Negada pelo governo de Jair Bolsonaro, a devastação provocada na Amazónia pelas chamas e pela desflorestação está a assustar o Mundo e a atingir níveis nunca antes vistos.

Só em julho, o pior mês em décadas, a Amazónia perdeu impressionantes 2254,8 quilómetros quadrados de floresta, segundo dados do INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Para se ter uma noção do brutal aumento da tragédia ambiental na floresta que é considerada o pulmão do Mundo, a assustadora devastação em julho representa mais de um terço de tudo o que foi devastado na Amazónia nos 12 meses anteriores. Comparando com o mesmo mês de 2018, o aumento da destruição da floresta em julho passado foi de 278%.

Desde agosto de 2018, 6833 km2 da Amazónia simplesmente desapareceram. E o aumento dos ataques à floresta desde janeiro deste ano, incentivados pela defesa que o novo governo faz da ocupação territorial da imensa região verde e da sua exploração comercial é tão voraz que as imagens de satélite conseguem descobrir novas clareiras de uma semana para a outra.

Indiferente, Bolsonaro limita-se a dizer perante as evidências de destruição que "é altura das queimadas por lá".

Enquanto o governo nega os números, confirmados por fontes insuspeitas como o Instituto Imazon e a própria NASA, o Mundo protesta e tenta unir-se para forçar o Brasil a pôr cobro a esse flagelo. Esta quinta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a comunidade internacional já não pode suportar os danos que estão a ser infligidos à maior reserva de oxigénio e de biodiversidade do Mundo.

Pormenores

Milhões retidos

A Alemanha e a Noruega, principais financiadores de projetos de monitorização e preservação da floresta amazónica, suspenderam o envio de 65 milhões de euros em protesto contra as políticas de Bolsonaro.

Menos fiscalização

A redução de verbas governamentais forçou o Instituto do Meio Ambiente a limitar drasticamente as ações de fiscalização na Amazónia e em outras áreas do Brasil, facilitando a invasão das terras protegidas por agricultores e garimpeiros.

Crítico demitido

O presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Ricardo Galvão, foi demitido por Bolsonaro após a publicação de um relatório sobre o aumento da desflorestação na Amazónia.

Investigação aberta

O Ministério Público do Pará abriu esta quinta-feira uma investigação ao aumento da desflorestação e dos incêndios na Amazónia. Um dos focos é apurar o impacto da redução da monitorização e das proteções ambientais.

Bolsonaro acusa ambientalistas: "Vocês querem que eu culpe os índios? Ou os marcianos?"  

Irritado com as críticas de que foi alvo por ter acusado as ONG de estarem por trás do forte aumento dos fogos e da desflorestação da Amazónia, Jair Bolsonaro voltou quinta-feira à carga e perguntou aos jornalistas se queriam que ele acusasse índios ou marcianos por essa tragédia ambiental.

"Quer que eu culpe os índios? Quer que eu culpe os marcianos? É um indício fortíssimo desse pessoal das ONG, que perdeu a teta deles", respondeu Bolsonaro a um jornalista que indagou se ele tinha provas contra os ambientalistas.

O presidente admitiu depois não ter provas do que afirma pois, explicou, ninguém deixa escrito "vou ali incendiar a floresta e volto já". E voltou a atacar as ONG, afirmando que, ao ficarem sem dinheiro e com os seus ambientalistas desempregados depois de a Alemanha e a Noruega terem suspendido financiamentos de 65 milhões de euros, começaram a incendiar florestas para o incriminarem.

"Sem esse dinheiro, têm de fazer o quê? Tentar me derrubar. É o que sobra para eles, mais nada", acusou.

"O governante mais perigoso do Mundo"

A revista britânica ‘The Economist’ considerou recentemente o presidente Jair Bolsonaro como "o governante mais perigoso do Mundo para o ambiente" devido à terrível devastação ambiental registada no Brasil desde que este tomou posse, em janeiro.

Ministro vaiado em conferência ambiental

O ministro brasileiro do Ambiente, Ricardo Salles, foi quinta-feira recebido com uma prolongada vaia ao discursar na Semana Latino-Americana do Clima, que está a decorrer em Salvador.

Em maio, Salles, defensor do avanço da exploração agrícola, pecuária e mineral na Amazónia, manifestou-se contra a realização da conferência no Brasil alegando não ir gastar dinheiro público num evento que não ia servir para nada.

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