Há uns bons anos, cruzei-me com um poeta no Funchal. É coisa que geralmente evito (cruzar-me com poetas, não ir ao Funchal), mas aquele poeta viera ao mesmo festival literário, e contra isso batatas. Eu trouxera o meu filho mais novo. Um hábito meu, levar um dos miúdos sempre que, a pretexto de um sarau, para mais ganhando cacau, ia passar uns dias a uma bela terra. A viagem dele paga do meu bolso, claro. A minha não, eu ia "em trabalho". O poeta viera com uma namorada. Raramente ao longo da minha vida vi poetas com filhos, e olhem que já conheci muitos poetas ao longo da vida. Mesmo os que talvez tivessem filhos, raramente os traziam para estes eventos. Este poeta era, tanto quanto sei, um bom poeta. Longe de mim vir para aqui, em pleno agosto, criticar a sua poesia. O que me enxofrou, quando nos cumprimentámos, foi o ar contente e enamorado dos dois. Até parecia que vinham de um concerto dos Coldplay, todos ufanos por não terem sido apanhados. Ele disse o nome dela, eu apresentei o meu catraio, que tinha na altura uns doze anos. Trocámos palavras amáveis. Até então, eu até simpatizava com o poeta. Deixei de simpatizar naquele fatídico dia. É que, em minha defesa, senhor doutor juiz, estavam insuportáveis, o poeta e a namorada. Insuportáveis! Tinham um arzinho tão satisfeito (pior, tão autossatisfeito) que metia nojo. Só não vomitei porque estava ali o meu filho e sou uma pessoa educada. O irritante ar luminoso e sadio no rosto deles! É que nem tentavam esconder que tinham acabado de dar uma vespertina cambalhota. E bem satisfatória, pelos vistos. Estavam com aquele arzinho que os enamorados felizes têm, que graças a Deus não dura muito. Aquele ponto de rebuçado em que amor intenso & conhecimento carnal se conjugam de um modo mais glorioso que o hino da Eurovisão. E nem é que o poeta e a amada quisessem armar-se ao pingarelho. Simplesmente não conseguiam evitar! Eu ali com o meu petiz de doze anos (que, sendo hoje um gajo porreiro, resultou de uma cópula meio ensossa) e eles ali mais saciados & felizes que uma dança do ventre de barriga cheia. Quase levitavam. E sentiam-se superiores porque, obviamente, ESTAVAM superiores. Como se soubessem algo que os outros não sabiam. Razão tem o Bom Livro, a melhor palavra para ‘aquilo’ é conhecimento. Na praia ou no campo, conhecer é preciso. Amém.
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