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Tal como a Bertrand e a Sá da Costa no Chiado, ou a Barata na Avenida de Roma, a Buchholz é pré-Europa, pré-Amazon, pré-FNAC, ou seja, uma instituição que é uma nostalgia do meu passado. Nesse tempo, quase só nessas livrarias lisboetas se podia encontrar bons livros, e mais do que isso, livros raros, fossem eles técnicos (no meu caso, de economia), ou em língua estrangeira. Passear na Buchholz era um momento delicioso, de silêncio e gravidade, uma coisa quase mística. Além disso, havia umas senhoras alemãs, muito sérias mas sempre prestáveis, que davam ao lugar uma ‘patine’ internacional que outras livrarias não tinham. Podia-se ‘mandar vir’ livros na Buchholz, coisa rara em Portugal, há vinte anos.

Depois... Bem, depois o mundo mudou. Os centros comerciais nasceram por todo o lado, e em cada um deles havia duas ou três livrarias. A FNAC chegou, com o seu conceito inteligente, que juntava livros e discos à alta tecnologia doméstica. As livrarias antigas sofreram um terramoto de grau 9 na escala de Richter. E, como nos terramotos, seguiu-se uma brutal réplica, a Amazon, esse maravilhoso conceito de ‘mandar vir’ através da net e do correio. O mundo das livrarias passou da convulsão à revolução. A Bertrand, por exemplo, adaptou-se bem, criando pequenas lojas nos centros comerciais, que só vendem livros, revistas e jornais.

Não foi o caso da Buchholz. Às dificuldades familiares dos proprietários, juntou-se a cósmica conspiração da concorrência. A última vez que lá entrei, já não me lembro há quantos anos, a livraria era uma sombra do que fora. Poucos livros, pouco público, sinais de estado terminal evidentes. O fecho foi inevitável, e não só a Rua Duque de Palmela ficou mais pobre, como Lisboa também.

Agora, pelas mãos do grupo Leya, a Buchholz vai reabrir. É uma boa notícia, mas só saberemos se corre bem daqui a meses. A Byblos, por exemplo, correu mal. E a Bucholtz vai aliás reabrir na mesma semana em que foi colocado à venda o iPad da Apple, uma nova revolução prometida na leitura e venda de livros. Mas, seja o que for que o futuro nos reserve, voltar à Buchholz será um enorme prazer.

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