Usados explosivos na pedreira de Borba na véspera da tragédia
Sobrevivente disse à PJ que houve “explosivos e fogo” perto da máquina onde morreram dois companheiros.
A 19 de novembro de 2018 a derrocada de uma estrada entre duas pedreiras arrastou para a morte cinco pessoas em Borba.
Choraram-se os mortos, fizeram-se os funerais, prometeram-se indemnizações. O Governo foi a correr e fez uma lista de infraestruturas em risco. Passaram quatro meses.
Depois da tragédia, só a vida dos trabalhadores mudou. A pedreira está fechada e o salário não aparece. As contas acumulam-se. Os pesadelos mostram, vezes sem conta, o minuto 45 das 15h00, onde a estrada assassina engole as pessoas.
Joaquim Malta, 56 anos, é um dos sobreviventes. Estava lá em baixo e viu morrer dois dos companheiros – Gualdino Pita e João Xavier. Escapou por pouco. Passado este tempo, garante que na véspera do desabamento, "houve explosões e fogo", no fundo da pedreira, "muito perto da Estrada Municipal 255", que, no dia seguinte, engoliu cinco pessoas.
Quim Saragoça, como é conhecido, diz que já transmitiu essa informação à PJ. Reconhece que "não há muitas fiscalizações", que a "insegurança é muita" e que o encarregado "tem uma carta de fogo".
"Desde que trabalho nas pedreiras sempre se trabalhou com fogo, mas tem de haver uma norma: faz-se um buraco e ataca-se. Não sei se teve influência na tragédia, mas o fogo foi metido nas pedras que estavam soltas, perto do local onde estava a máquina", adianta.
"Sabia que um dia, mais tarde ou mais cedo, um bocado daqueles havia de cair, mas, uma coisa daquelas tão grande, não", adiantou Joaquim Malta alertando para o facto de os "homens tirarem pedra de muito perto do muro que segurava a estrada". O CM contactou o proprietário da Pedreira A.L.A. Almeida para explicar estas denúncias, mas não obteve qualquer resposta.
E enquanto a investigação prossegue, os trabalhadores vão resistindo. A laboração na pedreira está suspensa e o último salário que Joaquim Malta recebeu foi em dezembro.
O CM percorreu duas estradas nacionais onde existem duas pedreiras de risco e uma desativada e, para evitar novas tragédias, encontrou... Semáforos. Semáforos luminosos que se limitam a orientar o trânsito por vias que o próprio Governo sabe estarem em zonas de risco.
"É preciso ir para o terreno"
Uma tragédia igual à de Borba "pode voltar a acontecer", defende Carlos Cupeto, geólogo da Universidade de Évora. O professor defende que "não é por decreto-lei" que estas situações se resolvem e que é preciso ir para o terreno.
PORMENORES
Alentejo em perigo
O Alentejo tem 55 das 191 pedreiras identificadas como estando em situação crítica. Dessas, a grande maioria está concentrada entre Vila Viçosa e Borba.
Pedreiras não cumprem
O CM fez-se à estrada e percorreu a via que liga o Alandroal a Vila Viçosa. E encontrou várias pedreiras que não cumprem os 50 metros de margem de segurança entre a estrada e o fosso. A maior parte está ao abandono.
Vias condicionadas
Segundo a Infraestruturas de Portugal, responsável pelas estradas nacionais, as vias mais próximas das pedreiras em risco estão condicionadas para a realização de inspeções.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt