Populações fustigadas pelos incêndios de 2017 tentam voltar à normalidade e ultrapassar as dificuldades ateadas pelas chamas.
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"Passei muita fome. Carreguei com muita areia à cabeça dali [aponta para mais de 100 metros de distância] para construir esta casa e, agora, em minutos, o fogo destruiu tudo. Que tristeza", lamenta Fernanda Silva, em Póvoa de Rodrigo Alves, Tondela. O testemunho desta mulher espelha o sentimento de perda de milhares de pessoas que ficaram sem tecto nos incêndios de 2017. Gente que agora tenta renascer das cinzas a muito custo.
Sentada em frente aos destroços da casa onde viveu mais de 40 anos, e de lenço na cabeça, Fernanda recorda o pânico da noite de 15 de outubro – que fez 48 mortos. "Começou tudo a arder. Eu estava dentro de casa e foi o meu neto que me salvou, que me arrastou para fora com duas toalhas molhadas", recorda ao CM a idosa de 79 anos, que agora só pede para lhe fazerem "uma casinha pequenina". "Só quero uma coisa rasteira, porque já me custa a andar. Dois quartos e uma sala chegam. Um para mim e outro para a minha filha. Que Deus me ajude!".
Quem agora subir ao topo da serra do Caramulo e se voltar para a serra da Estrela não fica indiferente ao que vê: quilómetros e quilómetros de floresta ardida, tudo negro. Só as aldeias e cidades interrompem uma paisagem de cortar o coração.
Já passaram cinco meses desde que o tsunami de fogo varreu quase toda a região Centro do País -Tondela foi dos concelhos mais afetados - mas na memória das vítimas ainda está bem presente o terror daquela noite. "Ainda hoje cheiro o fumo em todo lado, é impressionante", diz ao CM Valentim Santos, residente em Lageosa do Dão, que viu a sua casa arder.
"Estávamos a dormir e o fogo chegou aqui rapidamente. Só tivemos tempo de meter algumas coisas no carro, os animais, e fugimos para Nelas", conta Valentim, que voltou mais tarde e ficou "em choque" ao ver a sua casa tomada pelas chamas. Esta casa já está a ser reconstruída muito por responsabilidade da sua filha, que dentro de um mês vai ser mãe. "Espero que em abril as obras já estejam prontas", diz Maria José Santos, que também foi obrigada a fugir das chamas.
Ainda em Lageosa do Dão, Camila e Manuel Coimbra escaparam "por pouco" das chamas. Estavam a dormir. "Conseguimos fugir mas ardeu-nos quase tudo", lamenta Camila.
400 casas destruídas
Reconstruir as casas de primeira habitação o mais rápido possível foi sempre o objetivo do Governo e, neste caso, da Câmara Municipal de Tondela, pelo que, nesta altura, estão prestes a arrancar as obras em quase 100 habitações - 70 delas ficaram com danos totais nas estruturas.
No início deste mês, o presidente da Câmara Municipal de Tondela, José António Jesus, apelou ao Tribunal de Contas para ter "maior celeridade" na análise dos projetos de forma a que as pessoas possam voltar a ter casa "o mais rápido possível". O autarca garantiu estar também focado no apoio à indústria e comércio" atingidos pelas chamas, com o objetivo de reerguer o concelho.
PORMENORES
Território ardido
Só no concelho de Tondela, o fogo de outubro consumiu 180 quilómetros quadrados de território. Centenas de animais morreram entre as chamas.
Recuperação de casas
O município já contratualizou com a CCDR do Centro empreitadas de reconstrução de quase 100 casas. Só falta o visto do Tribunal de Contas para depois arrancarem as obras.
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