"O meu coração percebeu logo", conta mãe de Liliane. Pedro Dias reagiu em julgamento ao olhar de Maria de Fátima.
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Pedro Dias, suspeito de ter cometido três homicídios em Aguiar da Beira, em outubro de 2016, e também acusado de múltiplos outros crimes, continua esta terça-feira a ser julgado no Tribunal da Guarda.
Esta manhã já foi ouvida a mãe de Liliane, Maria de Fátima, a mãe de Luís Pinto, Vírginia Pinto, vítima da freguesia de Moldes, António de Jesus e a ex-namorada de Pedro Dias.
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João Paulo Matias, advogado de Luis e Liliane, afirma que tem sido muito dificíl para os pais das vítimas. "Foi uma execução sumária. A única justiça possível é a pena máxima de 25 anos", afirma João.
O advogado de Maria Lídia, a mulher que surpreendeu Pedro Dias na casa onde este se escondeu após os alegados crimes, renunciou ao mandato deixando de defender a assistente. O tribunal terá agora de assegurar um advogado para Maria Lídia.
Mãe de Liliane conta o que aconteceu na manhã fatídica
A mãe de Liliane Pinto foi ouvida na presença do homicida de Aguiar da Beira, ao contrário do que aconteceu na passada sexta-feira, em que o GNR António Ferreira pediu que Pedro Dias fosse retirado da sala para conseguir falar. O tribunal prescindiu do testemunho do pai de Liliane.
Maria de Fátima não conseguiu falar quando lhe foi dada a palavra porque se sentiu mal. Pouco depois recuperou e contou o que aconteceu na manhã em que Liliane e Luís perderam a vida, na EN 229, a caminho de uma consulta de fertilidade em Coimbra. Desde as 10h00 que estava a ligar à filha. Entrou em pânico. Liliane tinha saído às 5h30 da manhã para ir à consulta de fertilidade. Já tinha abortado com sete meses. "Como não atendia comecei a entrar em pânico", conta Maria de Fátima.
"Éramos uma família feliz. Agora não somos"
"O meu coração percebeu logo. Mas as notícias diziam que era um casal de 50 anos", afirmou a mãe de Liliane. "Foram os meus filhos que mataram?", perguntou a mulher ao GNR às 6h30, quando começaram a surgir noticias.
"Só no dia seguinte é que fui ao Hospital de Viseu e consegui ver a minha filha. Estive sempre ao lado dela. Penso que a minha filha ouvia tudo. Eu e o pai passamos cinco meses ao lado dela. Sofreu muito e eu não podia salvá-la", contou Maria.
Liliane e Luis levavam entre 300 e 500 euros com eles naquela manhã porque iam comprar material de construção para a casa que estavam a construir. "Éramos uma família feliz. Agora não somos", conta Maria que foi todos os dias ao hospital ver a filha. Diz que nunca faltou e que ficava com Liliane quatro ou cinco horas, o tempo máximo que permitiam.
A mulher conta que gastou o dinheiro que tinha e que se fosse preciso pedia emprestado. Deixou de comprar medicamentos para ela para ter dinheiro para a gasolina. "É uma vida triste para nós. Tomamos calmantes diariamente. Nós e os pais dos Luís", revela.
Depois do seu testemunho, Maria de Fátima saiu da sala de audiências e olhou para Pedro Dias. Pela primeira vez, o homicida de Aguiar da Beira mostrou uma reação: corou intensamente.
Mãe de Luis Pinto chora durante julgamento
Vírginia Pinto dá o seu testemunho em tribunal entre lágrimas. A mãe de Luís Pinto refere que Liliane era como uma filha. "Não era de sangue, era do coração. Naquela manhã algo não batia certo. Eles ligavam quando chegavam. Comecei a entrar em pânico. Eu tentei ligar e ninguém atendia. Liguei para ela e para ele. Só soube às 6h30, também", conta Vírginia.
"Que todos os pais sejam felizes. Eu era"
A mãe de Luís Pinto revela como lhe foi dada a notícia: "O teu filho está morto... e levaram-me para casa". Vírginia foi medicada e levada para casa nessa manhã. Só lhe foi entregue o corpo do filho na quinta-feira.
"Ia ver a Liliane. Quando não ia, ligava à minha comadre. Acreditei num milagre", diz mãe de Luis. Agora toma medicamento para dormir e afirma que quando não dorme, chora.
"Os pais de Liliane perderam também dois filhos. Que todos os pais sejam felizes. Eu era", continua Vírginia.
Advogada de Pedro Dias reage a depoimento das mães das vítimas
"Qualquer cidadão que ouça um pai ou uma mãe falar sobre a perda de um filho ou de uma filha tem de ficar profundamente comovido, emocionado e solidário com essa dor. Penso que isso é universal e transversal, é uma dor que nos parte a todos", disse.
António Duarte conta que viu Pedro Dias armado
"Vi que ele estava armado", diz António Duarte afirmando que ele e a vizinha foram ameaçados pelo homicida de Aguiar da Beira. Pedro Dias disse que se eles tentassem sair e pedir ajuda, ele voltaria para os matar.
Depois de Pedro fugir, António conseguiu soltar as mãos e foi pedir ajuda. A vizinha não conseguiu soltar-se. "Ela estava muito assustada. Com muito medo. Estavamos os dois muito assustados", conta a vítima.
GNR que sobreviveu contou em julgamento o que aconteceu O militar da GNR António Ferreira, sobrevivente da madrugada fatídica de 11 de outubro de 2016, pediu para Pedro Dias sair da sala esta sexta-feira, no primeiro dia de julgamento. Não conseguia falar na sua presença. O tribunal aceitou e Pedro Dias assistiu ao depoimento por videoconferência, noutra sala. António Ferreira contou então o que aconteceu naquela madrugada. Depois de Carlos Caetano ser morto, o homicida ainda o ameaçou.
"Se mexeres os cornos fo****", disse Pedro ao militar que relatou o momento, emocionado. António diz que chamou o colega e que este já estava morto. "Foi um choque", diz. Pedro Dias disse-lhe: "És burro. Não vês que está morto." António respondeu-lhe: "Leva tudo, mas deixa-me socorrê-lo".O militar contou que, ainda hoje, questiona as atitudes de Pedro. Conta que quando Pedro Dias o levou no carro, um colega da GNR lhe ligou. O homicida não o deixou atender o telefone e continuou às voltas com o carro entre Lameiras e Aguiar da Beira. Andaram mais de duas horas de carro com o corpo de Caetano na mala. O homicida ainda questionou António sobre a localização do posto da GNR de Aguiar da Beira.
Pensando que Pedro queria ir apagar os vestígios do crime, respondeu-lhe que havia muitos militares no posto, evitando que houvesse mais mortes. "És burro. Não vês que está morto?" Disse Pedro Dias a António Ferreira, militar da GNR.
António relata que ainda estava escuro quando saiu do carro e Pedro Dias o olhou nos olhos e disparou. Sentiu tudo. A ser arrastado pelo chão, a serem colocadas pedras. "Quando acordei já havia dia. Tinha sangue a escorrer na cara. Fiquei um bocado perdido. O sítio não me dizia nada. Caía e levantava-me. Pensei que ia morrer", explica. O militar conseguiu chegar a uma casa. "Ajuda-me que o Caetano está morto", disse António que não se recorda de mais nada.
Pensando que Pedro queria ir apagar os vestígios do crime, respondeu-lhe que havia muitos militares no posto, evitando que houvesse mais mortes. "És burro. Não vês que está morto?" Disse Pedro Dias a António Ferreira, militar da GNR. António relata que ainda estava escuro quando saiu do carro e Pedro Dias o olhou nos olhos e disparou. Sentiu tudo. A ser arrastado pelo chão, a serem colocadas pedras. "Quando acordei já havia dia. Tinha sangue a escorrer na cara. Fiquei um bocado perdido. O sítio não me dizia nada. Caía e levantava-me. Pensei que ia morrer", explica. O militar conseguiu chegar a uma casa. "Ajuda-me que o Caetano está morto", disse António que não se recorda de mais nada.
Pedro Dias é acusado da prática de três crimes de homicídio qualificado sob a forma consumada, três crimes de homicídio qualificado sob a forma tentada, três crimes de sequestro, crimes de roubo de automóveis, de armas da GNR e de quantias em dinheiro, bem como de detenção, uso e porte de armas proibidas.
Na altura em que foi marcada esta data para arranque do julgamento, ainda não figurava o crime de homicídio relativo a Liliane Pinto, que faleceu cerca de cinco meses após ter sido alvejada.
A defesa prescindiu então do prazo para abertura de instrução do processo relativo a Liliane Pinto, por forma a conseguir juntá-lo ao processo principal, o que acabou por verificar-se.
A primeira das 24 sessões do julgamento que já se encontram agendadas aconteceu na passada sexta-feira e requisitou medidas adicionais de segurança.
O julgamento conta com 76 testemunhas por parte da acusação, informou a advogada do arguido, Mónica Quintela.
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