Na sua primeira entrevista, o português detido na Hungria admite ter desviado documentos do 'Football Leaks'.
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Rui Pinto assumiu esta sexta-feira que é "John", o whistleblower por detrás do site Football Leaks e autor da divulgação de mais de 70 milhões de documentos privados à revista alemã Der Spiegel.
Na sua primeira entrevista, o também responsável pela divulgação de alegados emails do Benfica admitiu ao consórcio de jornalismo EIC (European Investigative Collaborations) que não se define como um hacker e dirigiu críticas ao sistema judicial português, que considera ter "muitos interesses escondidos". "O sistema judicial português não é inteiramente independente; existem muitos interesses escondidos. Claro que há procuradores e juízes que levam o seu trabalho a sério. Mas a máfia do futebol está em todo o lado", disse sobre a investigação de que é alvo, temendo que o seu eventual julgamento não seja justo.
Em Budapeste, onde se encontra em prisão domiciliária depois de ter sido detido no passado dia 16 de janeiro, Rui Pinto concedeu uma entrevista alargada à revista alemã Der Spiegel, em conjunto com o Mediapart e o NDR. O Expresso divulgou parte da conversa esta sexta-feira. À revista, o português de 30 anos afirma que a sua única intenção era "revelar práticas ilícitas que afetam o mundo do futebol" e que este foi um "movimento espontâneo" no qual não está sozinho.
Acusado de utilizar informação privilegiada para chantagear o fundo Doyen Sports no outono de 2015, Rui Pinto afirma que apenas contactou a empresa para "confirmar a ilegalidade das suas ações" e "perceber o quão valiosos e quão importantes eram os documentos para a Doyen", de maneira a expor o fundo.
Rui Pinto acrescenta ainda que não existe nenhuma declaração das autoridades que o relacione aos alegados emails incriminatórios do Benfica que terá fornecido ao FC Porto e refere a investigação da revista Sábado no outono de 2018. "Isso mudou a minha vida. A minha fotografia estava nas primeiras páginas dos jornais por todo o país. A minha conta de Facebook e o meu email foram inundados com ameaças de morte", afirmou ao Der Spiegel, citado pelo Expresso
No entanto, apesar dos rumores em Portugal, o alegado hacker do Benfica garante que "nunca" ganhou dinheiro através dos documentos aos quais tinha acesso e que, apesar de receber várias ofertas para revelar dados, nunca as aceitou. "Recusei todas as ofertas, porque nunca agi com o propósito de ganhar dinheiro, mas sim com base no interesse público."
Quanto à acusação de desvio de 270 mil euros do Caledonian Bank das ilhas Caimão, Rui Pinto garante à Der Spiegel que não recebeu qualquer dinheiro e que não pode revelar mais pormenores devido a uma cláusula de confidencialidade entre ambas as partes. "Uma coisa é certa: se tivesse cometido um crime, o banco ter-me-ia levado a tribunal. O caso nunca foi a tribunal e o meu registo criminal está limpo até hoje, em Portugal e em qualquer parte do mundo", explica, citado pelo semanário Expresso
O whistleblower revela que, quando o Football Leaks foi lançado em 2015 e fez as suas primeiras revelações no ano seguinte, recebeu "alguns emails de autoridades fiscais, incluindo uma da Alemanha, de Munique".
"Portugal sabotou tudo", diz sobre colaboração com autoridades estrangeiras
O português afirma ao consórcio que as autoridades portuguesas sabotaram a cooperação entre este e autoridades francesas e suíças porque "tinham medo que soubesse demasiado". "De repente, no fim de Dezembro, foi divulgada informação confidencial da maior sociedade de advogados de Portugal, a PLMJ, e a polícia acha que estive envolvido nisso. Por isso, aquilo que era uma simples ordem de investigação europeia, tornou-se um mandado de detenção europeu contra mim. Foi chocante", afirma Rui Pinto à Der Spiegel, citado pelo Expresso
"Estava a colaborar com as autoridades francesas, a começar uma colaboração com as autoridades suíças e, de repente, Portugal sabotou tudo. Sabotou por medo de que eu saiba demasiado e de que eu partilhe estes dados – que eles acham que tenho – com jornalistas ou outros países. Por isso eu acho que Portugal apenas quer silenciar-me e silenciar aquilo que está no meu portátil. Têm medo."
Rui Pinto adianta ainda que está a resistir à extradição para Portugal, estando em prisão domiciliária na Hungria, porque tem a certeza que não terá um "julgamento justo" em Portugal. "O sistema judicial português não é inteiramente independente; existem muitos interesses escondidos. Claro que há procuradores e juízes que levam o seu trabalho a sério. Mas a máfia do futebol está em todo o lado. Querem passar a mensagem que ninguém se deve meter com eles", afirma ao Expresso
"Não posso divulgar o que tenho no meu computador. Mas uma coisa posso dizer: as autoridades europeias deviam vê-lo. Não as autoridades portuguesas, porque não querem investigar os crimes; apenas querem utilizar o material que encontrei para o usarem contra mim."
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