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Homem raptado e torturado durante 23 dias por causa de 10 mil euros da droga

Grupo de sete com penas pesadas. Raptaram ainda outros dois homens, um deles para um resgate de 200 mil euros.

17 de novembro de 2025 às 01:30

O desaparecimento de uma mala com 10 mil euros, proveniente do tráfico de droga, levou ao rapto de um homem, que foi torturado para contar o que teria feito ao dinheiro e esteve em cativeiro 23 dias. Duas outras vítimas também foram espancadas e raptadas pelo mesmo grupo, mas por muito menos tempo. Os crimes ocorreram entre maio e novembro de 2023, no Barreiro e na Moita. Sete dos autores, entre os 17 e os 31 anos, viram agora o Tribunal da Relação de Lisboa confirmar as penas a que foram condenados entre os 13 anos de prisão e os oito anos e seis meses de prisão.

Segundo deram os tribunais como provado, a primeira vítima, de 23 anos, foi levada para uma casa no Vale da Amoreira conhecida pelo tráfico e consumo de drogas com um "vamos lá em cima que quero falar contigo". No interior estavam 15 pessoas e a vítima levada para um quarto e, de imediato, sufocada. “Roubaste uma mala com 10 mil euros?”, ouviu várias vezes, enquanto era espancada a murro e pontapé e com barrotes de madeira por todos. Foi despido e chicoteado com fios elétricos; e um dos agressores aqueceu um cutelo num bico do fogão, tendo queimado o corpo da vítima em vários locais.

O homem ficou quase inconsciente, mas ainda assim foi metido num carro e levado para casa de uma ex-namorada, onde os agressores procuraram a mala com o dinheiro. Desesperado, denunciou uma segunda pessoa - e o gang foi a casa desta. Raptou-a também para a mesma casa. E também a forçaram a ficar em roupa interior. Este segundo homem, de 25 anos, foi agredido a pontapé e com um pau, mas houve o cuidado de pedirem entre si para "não o marcarem". Durante todo o tempo, um dos agressores manteve-se com uma caçadeira nas mãos.

Apesar dos 'cuidados', usaram um cabo elétrico dobrado para lhe desferir várias chicotadas no corpo - e um desses golpes atingiu-o junto do olho direito, levando-o a ficar caído. A sangrar do olho, deram-lhe um soutien para estancar o sangue. Algum tempo depois foi levado para sua casa e aí deixado, com o recado que "tratavam dele se ele fosse fazer queixa à Polícia".

O gang voltou-se de novo para a primeira vítima, com o 'cuidado' de não a marcarem na cara. "Um dos arguidos presentes colocou-lhe um saco de plástico verde na cabeça, enquanto lhe batiam com as ripas de madeira, tipo barrote e lhe perguntava sobre a localização da mochila. [A vítima] sentiu-se a sufocar, tendo, todavia, conseguido romper o referido saco de plástico", descrevem os acórdãos.

Terá sido nesta altura que o grupo percebeu que a vítima nada tinha a ver com o desaparecimento do dinheiro. Mas não a libertaram. Foi mantido em cativeiro, vigiado à vez, para curar os ferimentos "tratado, apenas, com os medicamentos Betadine e Bepanthene, tendo-lhe sido negado qualquer assistência médica". "Na primeira semana em que esteve em cativeiro, foi fornecida alimentação [à vítima] em quantidades muito reduzidas, o que o obrigou a “a passar fome", contam os juízes. A sua roupa e documentos foram deitados fora. Passou por vários momentos de pânico, como quando, sentado num sofá e sem razão aparente, um dos raptores lhe apontou um revólver à cabeça.

Acabou libertado passados 23 dias, com uma t-shirt, umas calças e uns ténis. Ficou com cicatrizes permanentes.

Raptado para resgate de 200 mil euros

O mesmo grupo raptou em Sintra uma terceira pessoa, de 43 anos, apanhada à porta de casa sob ameaça de duas armas e com os gritos “Sequestro, sequestro. Queremos o dinheiro. Entra no carro, Entra no carro”. Ainda resistiu, mas um 'mata-leão' e um tiro para o ar fez render a resistência. Colocada no banco de trás de um carro, esta vítima foi encapuzada para não saber para onde se dirigiam, esmurrada e atingida com coronhadas, enquanto ouvia “Vais morrer! Vamos cortar-te! Vamos cortar-te as orelhas e os dedos e vamos assar-te no pneu!”. Ficou sem os fios e anéis e ouro. 

Exigiram-lhe o pagamento de 100 mil euros para ser libertado. Mas entretanto levaram-no para uma casa a apenas 60 metros daquela onde as duas primeiras vítimas estiveram cativas. Quando lhe tiraram o gorro, estava rodeado de homens e pelo menos quatro armas de fogo. Mais dois tiros deixaram-no aterrorizado, enquanto os raptores o pressionavam a indicar amigos ou familiares que pudessem pagar o resgate. E, através das redes sociais, contactaram o irmão da vítima, aumentando o valor do resgate para 200 mil euros, caso contrário matariam a homem.

Como as negociações não levaram o caminho pretendido, os raptores começaram a agredir a vítima. Chegaram a aquecer uma faca num fogão e queimado o corpo da vítima, metendo-lhe uma t-shirt na boca para abafar os gritos. Até que um deles se descaiu: "O BI mandou tirar a t-shirt da boca dele"; tendo ouvido de outro "És mesmo burro, a dizer o nome do patrão em frente a ele". Ainda assim insistiram para que pagasse o resgate: "Tu tens, eu vi-te a gastar 57 mil".

Ameaçaram que o levavam para o mato e o matavam e depois meteram-lhe uma toalha na cabeça. Saiu para o mesmo carro e acabaram por abandonar a vítima sem que o resgate fosse pago.

Alegou que mochila era para 'banhadas'

Quando foram travados pela Unidade Nacional Contraterrorismo (UNCT) da PJ, os arguidos tinham armas de fogo e drogas. Ficaram em prisão preventiva. Têm todos ligação ao mundo da droga, incluindo as vítimas. E, em tribunal, alguns dos arguidos disseram que só foram à casa dos cativeiros para "fumar haxixe e jogar Playstation", ou então para "deixar o cão" enquanto ia trabalhar. Outros, confessaram e entregaram os restantes. Um dos principais arguidos alegou mesmo que a tal mochila com 10 mil euros era "uma mala com papéis a imitar notas que seria utilizada para enganar outros traficantes de estupefacientes", as chamadas 'banhadas'.

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