Família não suportou as explicações dos arguidos em tribunal e desabou em lágrimas.
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Elsa Guerra esteve sempre em lágrimas. A mãe de Fábio, o jovem polícia barbaramente assassinado, em frente à discoteca Mome, em março do ano passado, foi esta terça-feira ao tribunal, mas o seu depoimento acabou por terminar em poucos minutos.
Sempre com a voz sumida, Elsa mal conseguiu falar. Nunca olhou para os arguidos - os dois ex-fuzileiros suspeitos de matarem o filho - e só respondeu sobre o pedido de indemnização cível. Foi depois sentar-se na sala do tribunal, ao lado do marido e da filha, que muitas vezes a abraçavam para a amparar. Elsa estava destroçada e os soluços que tentava engolir ao ouvir a descrição do que aconteceu a Fábio - "vi o Cláudio dar-lhe vários socos até ele cair inanimado", contou uma testemunha - eram audíveis. Elsa tentou, sem êxito, travar a dor.
Também o marido, António Guerra, partilhava o mesmo sofrimento. Toda a manhã esteve sem a mulher na sala - Elsa só pôde assistir ao julgamento após ter sido ouvida - e foi a filha que muitas vezes o confortou. Recusou-se a sair porque queria ver os arguidos, mas as lágrimas caíam-lhe quando aqueles tentavam justificar as agressões como uma simples contenda entre dois grupos.
A juíza-presidente, Helena Susana, muitas vezes contrariou os réus. Disse a ambos que as explicações eram confusas, e sobre as explicações que passavam por pontapés no ar sem perceber que havia pessoas no chão realçou a inverosimilhança do discurso. "Portanto, o Fábio dá-lhe um soco pelas costas, depois tentam fazer-lhe um mata-leão e não faz nada? Deu a outra face?", perguntou a magistrada, que insistiu também em saber se Cláudio tinha formação especial em defesa pessoal. "Para além da formação militar também foi campeão de boxe?", perguntou, ao que o arguido respondeu positivamente.
O julgamento foi ainda marcado pelo receio das testemunhas. Ouvidas em videoconferência para não se saber onde moram e não serem conhecidos os dados pessoais, aquelas mostraram, mesmo assim, insegurança. A primeira - de nome Cláudio - chegou mesmo a dizer que não queria mostrar a cara e o problema só foi dirimido quando a juíza propôs que os arguidos saíssem da sala.
A testemunha contou depois que ainda na discoteca Mome foi agredido por Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko, que o atacaram sem razão aparente. Reconheceu depois que ficou à porta à espera que os agressores saíssem para ajustar contas e que foi o primeiro a dar um soco a um dos arguidos.
Do que se passou a seguir pouco sabe. Foi de imediato socado e pontapeado e caiu inanimado. Não viu as agressões a Fábio, tão-pouco presenciou o momento em que os restantes elementos da PSP foram agredidos.
Outra das testemunhas ouvidas por videoconferência contou que estava a cerca de 20 metros de distância da contenda, mas ainda ouviu, na fuga, Clóvis Abreu gritar: "Sou o rei do Montijo", disse, triunfante, o suspeito que um ano depois do crime se mantém a monte. A testemunha explicou depois que nunca viu o grupo de elementos da PSP a identificarem-se como polícias, mas assegurou que estava distante do local.
Em prisão preventiva
Vadym e Cláudio Coimbra estão em prisão preventiva há mais de um ano, desde o primeiro interrogatório judicial. Foram os primeiros a chegar ao Campus de Justiça na carrinha celular. Entraram na sala de audiência algemados e visivelmente calmos. Os arguidos estão indiciados por uma série de crimes, entre eles homicídio qualificado.
Seis mulheres a julgar
São seis mulheres e um homem que vão decidir o futuro dos arguidos. Quatro das seis mulheres são as juradas e as restantes juízas. Um juiz asa é homem.
Clóvis Abreu aceita entregar-se
Vadym garante que "pontapés foram para o ar"
Assegurou, ainda, que não teve qualquer intervenção no primeiro confronto, ainda dentro da discoteca lisboeta. Disse, sim, que já fora da discoteca viu Cláudio a ser agredido e interveio para o proteger. "Mas sendo praticante de boxe precisava da sua ajuda?", questionou a juíza. Referiu, também, que Cláudio e Clóvis, que continua em parte incerta, a dado momento se aproximam de uma das vítimas para lhe desferirem pontapés na cabeça. No entanto, contou que os pontapés foram para o ar. "Está obviamente devastado com tudo isto", disse José Teixeira da Mota, advogado de Vadym.
Polícias vão testemunhar esta quarta-feira frente aos acusados
Os vários agentes da PSP que acompanhavam Fábio Guerra na noite das agressões estiveram no tribunal, mas ainda não foram ouvidos pelos juízes.
A juíza chamou-os no final da audiência para pedir desculpa pelo adiamento para esta terça-feira, garantindo que serão de imediato inquiridos. Também eles foram agredidos pelo grupo de Cláudio e Vadym e são as principais testemunhas do Ministério Público. Assumem igualmente o papel de vítimas, já que os suspeitos estão acusados do homicídio qualificado de Fábio Guerra e de vários homicídios tentados.
Os seis agentes - cinco homens e uma mulher - mantiveram-se separados das restantes testemunhas ao longo do dia e no final alguns deles trocaram abraços calorosos com a família. Também tinham estado no funeral de Fábio, a quem homenagearam na hora da despedida.
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