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Padre denuncia 12 sacerdotes por abuso de menores, rapazes e escuteiros, desde a década de 1990

Metade dos padres ainda estão no ativo.

04 de agosto de 2022 às 21:27

Um padre recolheu informações sobre 12 sacerdotes suspeitos de abusos sexuais a menores que frequentavam as suas paróquias. 'Cardoso' - nome fictício - decidiu agora testemunhar perante a Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja. Dos 12 padres, cerca de metade ainda está no ativo.

A notícia é avançada pela SIC, que falou com o padre 'Cardoso' para ficar a conhecer as histórias destes 12 sacerdotes. Já chegou a expor as suas suspeitas a responsáveis do Patriarcado de Lisboa e do Ministério Público (MP), mas em alguns casos não teve o sucesso que pretendia: "Pude evitar suicídios de jovens alvo de abusos, mas não consegui parar outros. Às vezes sinto-me como um polícia. Se calhar, devia ter ido para a Judiciária", conta.

Os suspeitos de quem tem mais informações são os padres Inácio, já afastado da Igreja, e Nuno, ainda no ativo. "Eles estiveram juntos pelo menos dois anos em meados da década de 90. E protegeram-se das sucessivas acusações que os jovens alegadamente abusados por eles lhes iam fazendo. Fizeram um pacto de silêncio e ameaçavam quem pretendesse fazer queixas a outras instâncias na Igreja", revela à SIC.

'Cardoso' conta que Nuno terá abusado de um jovem de 15 anos, pertencente aos jovens da paróquia de Cruz Quebrada, em Oeiras. O rapaz contou aos pais, que abordaram o assunto numa reunião da paróquia. O padre negou os abusos, mas o jovem acabou por suicidar-se.

Nuno foi mandado para a paróquia de Santo Eugénio, em Lisboa, onde surgiram mais denúncias. Neste momento continua em funções, mas numa capital europeia. O Patriarcado de Lisboa chegou a abrir uma investigação em 2013, mas tudo acabou por ser arquivado.

Já sobre o padre Inácio, 'Cardoso' tem mais informações: "Segui-o de muito perto. E fiz a primeira queixa contra ele ao então patriarca José Policarpo, em 1997. Mas que de nada serviu."

Esteve em funções em Alcobaça e Lisboa, onde alegadamente deixou um rasto de vítimas, quase sempre rapazes escuteiros. Numa das queixas, uma das vítimas conta que foi de férias com três amigos para Armação de Pêra, e foi nessa altura que o abuso aconteceu.

"Numa noite entrou no quarto onde dormíamos. Acordei quando me apalpava e tentava beijar-me no escuro. Gritei e empurrei-o da cama. Alguém acendeu a luz e vi o padre a fugir dali para fora. No dia seguinte agiu como se nada fosse", contou a vítima à SIC.

O Ministério Público também o investigou na altura, mas arquivou o inquérito. O Patriarcado de Lisboa recebeu denúncias em 2013, abriu uma investigação e, em outubro de 2015, Roma deu instruções para saber se o padre Inácio tinha intenção de pedir a dispensa das suas obrigações e, caso não aceitasse, autorizava o cardeal Manuel Clemente a promover o seu processo de expulsão. 

Só em maio de 2020 é que Inácio acabou por enviar uma carta a pedir a dispensa de todas as obrigações sacerdotais, inclusive o celibato.

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